Agrônomo lança cachaça de cacau em festival de Ilhéus
Fruto também deve virar matéria-prima de perfume, fertilizante e combustível
Marcelo conta que iniciou os testes para a produção do brand em uma pequena destilaria instalada em sua fazenda, a Porto Esperança, há três anos, dentro da filosofia que norteia sua plantação em Ilhéus: extrair mais do cacau, ou seja, gerar mais renda tirando tudo que o cacau pode dar.
O investimento no desenvolvimento do brand passou de R$ 400 mil, segundo o produtor, que tem capacidade de produzir mil litros por ano, mas planeja expandir para 3.000 litros em quatro anos. Para produzir um litro de cauchaça são necessários 20 litros de mel de cacau, extraídos de cerca de 900 frutos. A garrafa custa R$ 385,00.
Além do estande no festival, a Cauchaça já pode ser consumida em hoteis de Ilhéus e em breve deve chegar a outros pontos de venda no país. Os planos do produtor e da filha Marcela, formada nos EUA em comércio exterior, incluem a exportação da bebida.
A tecnificação da Fazenda Porto Esperança, que tem 100 hectares de cacau no sistema cabruca (cresce sob a sombra da mata) consorciado com seringueiras, começou em 2014.
Os investimentos incluem fertiirrigação, plantio de clones mais resistentes à vassoura-de-buxa, praga que dizimou as lavouras baiana no final da década de 80, e mecanização de alguns processos. A renovação já atingiu metade das plantas. A produtividade no ano passado, com estiagem, foi de pouco mais de 15 arrobas por hectare (média baiana), mas a meta da família Abrantes é chegar a 150 arrobas por hectare em três anos. “Isso é totalmente possível com o uso das novas técnicas”, diz Marcelo, que obteve financiamento para investimento e custeio no Banco do Nordeste.
Além da venda do cacau commodity e da fabricação de cauchaça, a Porto Esperança já produz e comercializa mel de cacau, nibs (sementes de cacau fermentadas, secas, torradas e trituradas que podem ser consumidas ao natural ou ser usadas na culinária), amêndoas caramelizadas e granola baiana (mistura de cacau, coco e rapadura).
Inovação
As amêndoas que chegam ao local são classificadas visualmente em tábuas por técnicos que analisam as cores e aspectos da amostra. O CIC está finalizando um software de imagem que vai tornar essa avaliação mais objetiva. A segunda análise é sensorial: provadores capacitados identificam os aromas e sabores de cada lote, assim como é feito com amostras de cafés especiais. Ao final, as amêndoas passam por análises fisico-químicas em laboratório que estabelecem os teores de acidez e adstringência, nível da fermentação, presença de contaminantes etc. Não é cobrada a análise da primeira amostra de cada produtor. As demais custam em média R$ 75. O cacauilcutor recebe ao final um laudo que poderá usar para exigir um bônus de qualidade na hora de vender seu produto para as fábricas de chocolate.
Também no espaço da universidade, o CIC está implantado uma uma planta-piloto de chocolate, que vai testar novas formulações e também capacitar pequenos e médios produtores para fabricar suas próprias marcas, a fim de agregar ainda mais valor ao cacau.
* A repórter viajou a convite do Festival Internacional do Chocolate e Cacau
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