terça-feira, 12 de agosto de 2014

Brasil, Canadá e Estados Unidos unificam Sistema sobre recursos genéticos animais

Foto: Embrapa
Embrapa -
Software armazenará informações genéticas coletadas pelos três países. Workshop em Brasília treina 18 técnicos para serem os curadores do banco nacional.

Um dos maiores desafios da pesquisa genética da atualidade é o armazenamento de uma quantidade enorme e crescente de dados. A catalogação das coleções de material genético e dos dados genômicos de animais é geralmente executada pela instituição que os gerou, criando bancos individuais que não conversam entre si. Para garantir a unificação, a uniformização e o intercâmbio dessas informações e aperfeiçoar as pesquisas e a preservação, Brasil, Canadá e Estados Unidos articulam a adoção de um sistema único de dados para conservação de seus recursos genéticos animais. Será um grande passo para a gestão de dados de genética animal e vai colaborar para a atualização constante das informações em benefício do desenvolvimento das pesquisas.

Batizado de "Alelo Animal" no Brasil, o sistema "Animal-Grin" foi concebido por meio de parceria entre a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, o Agricultural Research Service do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (ARS/USDA) e o Agricultureand Agri-food (AAFC), do Canadá. O sistema foi adaptado para a realidade brasileira, de forma a permitir que o Alelo Animal armazene dados dos animais vivos mantidos em núcleos de conservação. Ele guardará, dentre outras informações, o catálogo dos bancos de sêmen, embriões e DNA dos três países além de dados genômicos associados aos animais.

Workshop em Brasília
Para operar o sistema no Brasil, estão sendo treinados 18 especialistas de nove Unidades de pesquisa da Embrapa no I Workshop Labex EUA Recursos Genéticos, de 5 a 7 de agosto na Secretaria de Inteligência e Macroestratégia (SIM), em Brasília (DF). O evento é realizado no âmbito do programa Ciência sem fronteiras do Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os participantes do Workshop são, principalmente, os curadores e gestores da atual Rede de Recursos Genéticos Animais da Embrapa que, ao final da semana, serão aptos a inserir dados de seus respectivos Núcleos de Conservação e Bancos de Recursos Genéticos Animais. "O sistema possui vários níveis de acesso, e cada curador poderá trabalhar os dados da área que lhe compete", esclarece o pesquisador da Embrapa Samuel Paiva que coordena o evento. Ele conta que no nível mais básico do repositório haverá acesso público a essas informações por meio de consultas na internet.

Paiva explica que, atualmente, essas informações são armazenadas localmente o que dificulta a padronização e o intercâmbio entre as coleções. Com a uniformização do sistema, os três países poderão trocar dados e organizar melhor suas bases de dados. O pesquisador explica que, para elaborar os catálogos, cada indivíduo recebe um único código pelo qual serão identificadas as diferentes formas de armazenamento. Por exemplo, um animal mantido vivo em um núcleo de conservação da Embrapa poderá apresentar uma amostra de sêmen estocada em Brasília e o sistema relacionará esses tipos de material à espécie e informará a localização das informações em cada banco.

Ao lado do esforço pela adoção internacional do Alelo Animal, os técnicos da Embrapa deverão executar a migração de dados dos sistemas descentralizados para a nova base.
Informações genômicas em segurança

Outra inovação do Alelo Animal é o armazenamento de informações genômicas. Trata-se de dados sobre marcadores moleculares de interesse pecuário, como genes relacionados à conversão alimentar ou resistência a doenças de um determinado animal, por exemplo. Essas informações são guardadas por instituições de pesquisa, empresas privadas ou mesmo associações de produtores que as armazenam localmente.

"O Alelo Animal permitirá que esses dados sejam guardados com mais segurança em hardwares com backup remoto e acesso restrito ao público que o proprietário das informações permitir", detalha Paiva.

Eduardo Cajueiro, analista de tecnologia da informação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e um dos instrutores do Workshop, conta que o sistema será um grande passo para a gestão de dados de genética animal e vai colaborar para a atualização constante das informações. "Dentro do Alelo Animal temos um módulo de importação e exportação de dados que nos avisará todas as vezes em que forem feitas alterações significativas por um dos nossos parceiros nos Estados Unidos ou Canadá. O sistema será atualizado no mínimo a cada seis meses", aponta o especialista ressaltando que é a primeira vez o Brasil concebe um sistema de informações unificado em recursos genéticos da área animal.

Harvey Blackburn, diretor do Centro Nacional de Preservação de Recursos Genéticos (NCGRP) do ARS/USDA em Fort Collins, no estado norte-americano do Colorado, que realizou a primeira apresentação do Workshop, elogiou a parceria com a Embrapa. "Com mais de 70 mil doses de sêmen, cerca de 450 embriões e aproximadamente 12 mil amostras de DNA, a preservação de recursos genéticos da Embrapa é muito significativa o que gera um rico intercâmbio. O Brasil guarda inúmeras espécies que os Estados Unidos não têm e vice-versa", declarou o norte-americano. Para ele, é possível que o mundo compartilhe no futuro um sistema global de organização de recursos genéticos. "Estamos começando a fazer a ligação dos recursos genéticos do mundo ocidental", declarou Blackburn.

A previsão, de acordo com Paiva, é que o acordo com os Estados Unidos seja assinado até o fim deste ano e depois as negociações seguirão com o Canadá para outra assinatura. "Também estamos dialogando com Argentina, Colômbia, México e Uruguai que se mostraram interessados em utilizar o mesmo software. Poderemos ter um sistema de informações genéticas para todo o continente americano", acredita o pesquisador da Embrapa.
Paiva também ressalta o papel do Labex Estados Unidos na conquista desses acordos. "A presença de pesquisadores da Embrapa naquele país proporcionou, além do intercâmbio de conhecimento científico, facilidade nas negociações para o estabelecimento de uma solução conjunta que contemplasse as diferentes necessidades dos países envolvidos", explica Samuel Paiva.

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