terça-feira, 27 de maio de 2014

A Podridão dos Cascos dos Ovinos e Caprinos   Versão para Impressão  Enviar por e-mail 

A podridão dos cascos (foot-root) é uma doença crônica, necrosante da epiderme interdigital e matriz do casco. A doença foi descrita em 1892, mas somente em 1941 a bactéria causadora foi isolada, inicialmente, denominada de Fusiformis nodosus e na atualidade de Dichelobacter nodosus.
IRFA - Química e Biotecnologia Industrial
Características das doenças
Estudos posteriores demonstraram que a podridão dos cascos é causada por uma associação de, no mínimo, duas bactérias: D. nodosus e Fusobacterium necrophorum. Este último é um habitante normal do trato digestivo dos ovinos.
O D. nodosus é germe grã-negativo, anaeróbio, com extremidades dilatadas, apresentando uma variedade de sorotipos, classificados conforme seu antígeno pili . A bactéria mostra no microscópio eletrônico, filamentos chamados de pili que determinam sua virulência. Esta estrutura serve também para caracterizar os diversos sorotipos. Este germe não esporula e estima-se que não sobrevive no solo por mais de cinco dias.
A principal característica da doença é a manqueira. Nos casos iniciais, a epiderme interdigital (pele entre os cascos) mostra-se inflamada. A lesão progride para a parte posterior do casco (casco mole), promovendo o deslocamento deste. Nos casos graves, há a generalização da lesão com deslocamento de todo o casco e posterior miíases (bicheiras). A podridão pode atacar simultaneamente dois ou mais cascos de um mesmo animal, dificultando a locomoção. Há, também, diminuição na produção de lã, carne e leite.
A enfermidade transmite-se principalmente nas estações úmidas com temperatura amena e associada ao manejo intensivo de ovinos ou caprinos. 
Importância econômica
A doença produz, mesmo em lesões leves, dificuldade de locomoção, limitando o deslocamento dos animais e influenciando, significativamente, na alimentação e reprodução. Rebanhos portadores desta enfermidade apresentam reduções no peso corpóreo de até 11%. Como decorrência da dificuldade de alimentação, há também uma redução na produção de lã em até 8%, além do comprometimento da qualidade deste produto.
Animais portadores são mais susceptíveis à verminose e parasitas externos (miíases). Uma vez instalada, é importante destacar-se que os gastos envolvidos no tratamento são substanciais, a ponto de considerar-se a podridão dos cascos como uma das doenças mais dispendiosas de caprinos e ovinos.
Epidemiologia
O calor e a umidade são ótimas condições para aparecimento da podridão dos cascos. Nestas condições, a doença apresenta elevado índice de ocorrência e uma grande proporção de animais pode ser afetada em um curto período (duas semanas).
O reservatório principal desta enfermidade origina-se de ovinos portadores da doença e introduzidos na propriedade. A infecção, contudo, pode ser veiculada por caminhões de transporte ou estrada recentemente utilizada por animais doentes. Embora animais de todas as idades sejam susceptíveis à doença, a raça Merino apresenta uma maior predisposição à infecção.
No Rio Grande do Sul, os surtos de podridão dos cascos são mais comuns no outono e na primavera. Determinadas técnicas de manejo, como encarneiramento, Inseminação Artificial (IA) e parições na primavera, também favorecem a transmissão. Nas demais regiões, o aparecimento da doença predomina no período das chuvas.  
Sinais clínicos e lesões
Um sinal habitual da doença é a presença da claudicação (manqueira). É comum observar alguns casos onde o animal alimenta-se de joelhos em função da ocorrência da doença em ambos cascos dianteiros.
Em exame detalhado, o primeiro sinal é o edema e umidade da pele da fenda interdigital. Um processo inflamatório mais nítido ocorre, iniciando-se uma separação da junção pele/casco. Evoluindo a doença, há destruição da matriz epidérmica sob a parte dura do casco. Nos casos mais graves, a necrose tecidual profunda pode descolar o estojo córneo. Há a presença de exsudato em pequena quantidade e mau cheiro bastante característico. Ambas as unhas de um pé são acometidas e normalmente existe o envolvimento de mais de um membro. Podem ser observadas anorexia e febre. Longos períodos de decúbito podem levar a inanição e morte. São bastante comuns as invasões bacterianas secundárias e miíases (bicheiras). O manejo dos ovinos e caprinos é muito importante para evitar ou controlar esta doença. 
Profilaxia
As medidas profiláticas são fundamentais para o controle da podridão dos cascos. Alguns procedimentos básicos devem ser adotados:
- Ao adquirir ovinos, um exame individual deverá ser realizado através de médico-veterinário;
- É importante ter informações dos animais adquiridos em relação ao histórico sanitário;
- Existindo animais doentes, separá-los dos sadios para efetuar tratamento;
- A quarentena está indicada antes da introdução dos animais adquiridos no rebanho;
- Vacinação.
Tratamento dos animais
- Exame com apara de cascos de todos os ovinos ou caprinos do rebanho;
- Uso de pedilúvio, passando os animais em uma solução de formalina (formalina é uma solução estável de formol a 40%) na concentração de 2% a 10%;
- Os ovinos sadios devem passar no lava-pés e permanecer em um piquete livre por 14 dias;
Diagnóstico e prevenção
- Os ovinos infectados deverão passar pelo lava-pés por último e ser montado um piquete enfermaria, realizando mais 3 (três) passagens em lava-pés, com intervalo de uma semana;
- Dentro das possibilidades, eliminar os animais cronicamente infectados;
- Em casos graves, usar medicação parenteral à base de Penicilina G procaína e Dihidro-estreptomicina, intramuscular, na dose de 50.000 a 70.000 UI/kg. 
Casqueamento
Aparar os cascos dos ovinos é uma medida indispensável, devendo ser realizada sempre que houver crescimento do casco. Utiliza-se, para esta prática, a tesoura corta-casco. A finalidade deste procedimento é retirar o excesso de casco, deixando-o próximo ao plano da sola do casco. 
Vacinação
A vacinação aumenta significativamente a resistência à infecção, sendo uma estratégia importante onde existem condições favoráveis para a presença da doença. Uma característica do uso da vacina em ovinos e caprinos já infectados é a redução do curso clínico da doença, podendo ser utilizada, também, como estratégia de tratamento.
O uso da vacina de forma sistemática e nos períodos recomendados, aliado a um manejo simples (uso de lava-pés e casqueamento) reduz em até 91% o aparecimento da enfermidade.
A vacina
O desenvolvimento da vacina contra a podridão dos cascos foi resultado de uma vitoriosa investigação científica, proporcionando a viabilização do produto no mercado brasileiro em 1986. A identificação das amostras prevalentes do D. nodosus no nosso meio, como o seu isolamento e purificação, foram fatores decisivos na elaboração da vacina.
Com a finalidade de estimular - de forma efetiva - a produção de anticorpos específicos contra a bactéria causadora da enfermidade, elegeu-se o adjuvante oleoso, uma combinação de óleo mineral purificado associado a um emulsionante, como componente imunoestimulante da vacina. O uso deste adjuvante mantém, por um maior período de tempo, os níveis de anticorpos.
Na atualidade, a vacina possui 05 sorogrupos de Dichelobacter nodosus, denominados de A, B, D, E e F, sendo estes os de maior incidência no Brasil.
Dose vacinal e via de aplicação
A dose da vacina é de 2 ml e a via adequada é a intramuscular, na região da tábua do pescoço. Ovinos e caprinos adultos e animais jovens a partir dos três (3) meses de idade devem ser vacinados. Animais primeiramente vacinados devem receber um reforço da vacina após 21 a 42 dias da primeira vacinação.
Escolha do equipamento
Dependendo da espécie animal a ser vacinada, número de animais e via de aplicação, haverá também equipamentos distintos e que melhor se adaptam a tais condições.
No caso de ovinos e caprinos, animais de pequeno porte e que pelas suas características singulares, requerem manejo suave. O equipamento para injetar a vacina deve ser leve e que permita ao operador "sentir" a aplicação. O uso de pistolas injetoras, do tipo "revólver" (metálicas), são demasiadamente pesadas para os ovinos, especialmente para aplicações intramusculares, já que os mesmos possuem pele bem mais fina e estrutura muscular bem menor que a dos bovinos.
As injetoras de PVC, polietileno ou outro material plástico qualquer - de menores capacidades (15/20 ml) - são substancialmente mais leves.
Ponto importante também é a escolha das agulhas. Nos ovinos, para aplicação intramuscular, o uso de agulhas longas (mais de 2 cm ) normalmente atravessam o músculo, especialmente quando a aplicação é feita na área muscular do pescoço. Invariavelmente, as reações vacinais, quando examinadas, demonstram que a aplicação foi realizada fora do músculo.
O uso de agulhas para ovinos deve restringir-se a 13x10 ou 15x10, ou seja, agulhas com 13 a 15 mm de comprimento e 1 mm de diâmetro.  
Limpeza e aferição
As partes do equipamento que possuem contato com a vacina deverão ser esterilizadas - assim como as agulhas - com água fervente. A aferição do mesmo é recomendável. Quando o número de animais a serem vacinados for grande, é de fundamental importância que se tenha mais de um equipamento disponível. De igual forma, dispor de, no mínimo, 4 agulhas novas. Após o uso, realizar a desmontagem do equipamento, limpando-o e acondicionando-o em lugar fechado e livre de poeira.
Cuidados com a vacina
- Leia atentamente a bula do produto.
- Leve a quantidade de vacinas suficientes para um período de trabalho.
- Mantenha as vacinas na caixa de isopor com gelo e à sombra.
- Agite o frasco da vacina por alguns segundos, antes do uso.
- Não injetar o ar do injetor para dentro do frasco da vacina.
Procedimentos recomendáveis
Trocar - o máximo possível - de agulhas durante a vacinação. O uso de somente uma agulha para um grande número de animais poderá ocasionar infecções no local da aplicação. Manter as agulhas que não estão em uso em recipiente contendo álcool iodado; trocá-la, no mínimo, a cada enchimento do injetor.
Fazer a vacinação com calma. O estresse dos animais prejudicará substancialmente a performance do produto. Evitar o uso de cães não treinados no manejo dos ovinos. Os animais devem estar descansados. As fêmeas gestantes, sobretudo no brete, devem ser manuseadas com cuidado. Abortos são comuns quando o manejo é inadequado.
Esquemas de aplicação da vacina
A vacina deve ser usada de maneira estratégica, de modo que os animais tenham proteção máxima nos períodos mais favoráveis ao aparecimento da doença.

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