quarta-feira, 25 de março de 2015

Crise hídrica: pesquisador pontua ações para minimizar o problema no campo



Foto: Juliana Caldas
Juliana Caldas - Ponto de medição na Bacia Experimental do Rio Buriti Vermelho, no Distrito Federal
Ponto de medição na Bacia Experimental do Rio Buriti Vermelho, no Distrito Federal
O Dia Mundial da Água, celebrado no último dia 22 de março e cujo tema em 2015 é "Água e Desenvolvimento Sustentável", ganhou um significado ainda maior este ano diante da crise hídrica que algumas regiões do Brasil vêm enfrentando. É sabido que a escassez de água causa impactos negativos em várias atividades produtivas, sendo uma delas a agricultura. Mas, não há como negar que situações adversas como essa também acabam promovendo mudanças positivas de atitudes e favorecendo a adoção de determinados procedimentos considerados mais adequados.
"O problema hídrico que estamos observando em algumas regiões do Brasil deve ser visto como uma oportunidade para melhorar o uso da água e planejar o futuro", destaca o pesquisador da Embrapa Cerrados, Lineu Rodrigues, especialista em hidrologia e recursos hídricos e coordenador da Rede de pesquisa Agrohidro. Segundo ele, a falta de água nos últimos meses é consequência da baixa ocorrência de chuvas em períodos atípicos do ano. Esse fator, aliado ao aumento da demanda por água em várias regiões do país e, também, ao desperdício e a não utilização de práticas de conservação, acabaram agravando ainda mais essa situação. Segundo o especialista, no entanto, a crise é também uma questão de gestão e de planejamento.
Uma das saídas para minimizar situações como essa seria organizar o uso da água nas bacias hidrográficas. "Como a oferta de água é variável, para evitar conflitos e problemas hídricos é fundamental planejar e fazer a gestão desse recurso. Isto é, compatibilizar a oferta com as demandas, para não faltar água para ninguém. É importante que o produtor tenha consciência que ele faz parte de um sistema hídrico maior, se ele desperdiçar água, alguém mais abaixo ficará sem", pontua o pesquisador.
Para o estudioso, a gestão dos recursos hídricos deve ser feita considerando a bacia hidrográfica como unidade territorial de referência. O Brasil está dividido em doze regiões hidrográficas e milhares de pequenas bacias. "De preferência, a gestão dos recursos hídricos deve ser feita no rio de maior ordem, que formam as microbacias. É nessas bacias que é realmente possível constatar os conflitos ou problemas de disponibilidade hídrica", explica.
"Já deixei de irrigar para sobrar água para os vizinhos", conta o agricultor familiar Antônio Marinho, do núcleo Rural Buriti Vermelho, no Distrito Federal. O córrego dessa comunidade rural, um dos afluentes do Rio Preto, secou no último mês. A situação só não foi mais drástica, pois no local há dois pequenos reservatórios. Isso não garante, no entanto, água para todos os agricultores - alguns acabam sendo muito prejudicados com o problema. É o caso da dona Raimunda Gomes, que viu sua plantação de berinjelas ficar comprometida. "A berinjela ficou doente e murchou por falta d´água. Mesmo que a gente adube direitinho, não é a mesma coisa", conta.
Manejo
Aos produtores rurais cabe contribuir adotando em suas propriedades práticas conservacionistas, tais como o plantio direto e o terraceamento. Essas medidas contribuem para aumentar a infiltração de água no solo e a recarga dos aquíferos, ou do lençol freático. "É essa água que vai abastecer os rios durante o período da seca. Se a infiltração for pequena, a recarga será pequena e faltará água nos rios justamente durante esses períodos críticos", explica. A adoção dessas práticas conservacionistas também ajuda a reduzir o escoamento superficial, considerado ruim, pois carrega lixo e outras impurezas para os rios. "Nesse sentido, a manutenção da cobertura vegetal é fundamental para combater a erosão e, também, aumentar a infiltração da água no solo", enfatiza o pesquisador.
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