Artigo: Sobre Algodão, Ciência e Embates Comerciais
Maurício Antônio Lopes
Presidente da Embrapa
Outubro começou com uma boa notícia para a nossa agricultura. O Brasil encerrou uma disputa que se estendia há mais de uma década, em razão dos subsídios e dos programas de garantias de crédito à exportação concedidos pelos Estados Unidos a seus produtores de algodão. Essas vantagens desrespeitavam os Acordos de Agricultura e de Subsídios e Medidas Compensatórias da Organização Mundial do Comércio (OMC) e prejudicavam os agricultores brasileiros.
O entendimento agora firmado inclui pagamento de US$ 300 milhões, para atenuar prejuízos sofridos pelos cotonicultores brasileiros, além de ajustes no programa americano de crédito e exportação do algodão, que passará a operar de acordo com parâmetros negociados entre os dois países. Esta foi uma vitória importante contra o protecionismo e propiciará melhores condições de competitividade para os produtores brasileiros no mercado internacional.
Lições importantes emergem desse contencioso. A primeira delas é que a mobilização dos produtores é essencial para que o setor agrícola brasileiro aumente seu poder de barganha. A ação competente e sinérgica da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e do Ministério das Relações Exteriores garantiu o sucesso do Brasil nessa empreitada. Sucesso que nos inspira a buscar abertura de mercado para um amplo conjunto de produtos agrícolas que, de forma semelhante, padecem de competição injusta.
Outra lição importante: os investimentos em desenvolvimento científico e tecnológico nas últimas décadas transformaram o Brasil em grande produtor e exportador de algodão de alta qualidade. A competitividade decorrente desses avanços atraiu a atenção dos grandes consumidores globais e fortaleceu a posição brasileira contra as práticas injustas de comércio. A capacidade tecnológica brasileira estimulou investimentos, viabilizou políticas públicas acertadas e encorajou produtores competentes e empreendedores. E a cotonicultura brasileira tornou-se uma das mais tecnificadas, eficientes e competitivas do mundo.
O cultivo do algodão migrou do Semiárido para o Cerrado, tangido por uma praga agressiva, o inseto conhecido como bicudo-do-algodoeiro. No Centro-Oeste beneficiou-se de solos recuperados e práticas modernas de cultivo aplicáveis a grandes áreas. A pesquisa foi capaz de produzir variedades adaptadas com fibras de alta qualidade. Dos anos 1990 até o presente, a produtividade do algodão foi multiplicada por quase três vezes, superando 1,5 tonelada de fibra por hectare - a maior produtividade de algodão de sequeiro do mundo. A cotonicultura brasileira alcançou a terceira posição mundial em exportações, que, em 2013, renderam US$ 1,2 bilhão. Acrescente-se a isso impactos na indústria têxtil, em máquinas, equipamentos, insumos, além da significativa geração de emprego e renda.
O desfecho favorável para o Brasil do conflito em torno do algodão reforça, portanto, uma convicção: ciência e inovação representam importantes motores da competitividade. Sem uma base bem estruturada de geração de conhecimentos e inovações, não se pode conquistar e manter posição competitiva, de maneira sustentável, em mercados cada vez mais dinâmicos, exigentes e desafiadores. O Brasil tem feito seu "dever de casa" ao longo das últimas quatro décadas. Desenvolvemos um modelo de agricultura baseado em ciência que revolucionou a produção e a oferta de alimentos, fibras e energia renovável.
A pesquisa agropecuária brasileira tem funcionado como uma "locomotiva limpa-trilhos", que vai adiante, removendo gargalos e limitações. Tropicalizamos cultivos e criações de animais antes relevantes apenas em regiões temperadas. Igualmente, transformamos nosso Cerrado ácido e pobre em nutrientes em imensas extensões de solos férteis. A superação desses gargalos permite que a "locomotiva" do setor privado venha logo em seguida, investindo com determinação e segurança. É uma sinergia vencedora.
À medida que o Brasil avança como grande produtor agrícola e competidor mundial, novas barreiras serão colocadas ante os produtos nacionais, em especial nos mercados mais competitivos, sofisticados e rentáveis. Alianças público-privadas para a proteção da agricultura e o combate a práticas injustas de comércio serão cada vez mais necessárias. Por sua vez, inovação tecnológica será fator crítico para atendimento à diversidade de demandas de países importadores e alinhamento aos rígidos padrões de qualidade que se renovam tanto nos âmbitos nacional e internacional.
O caso do algodão nos mostra que o investimento continuado em pesquisa, desenvolvimento e inovação dará ao Brasil chances cada vez maiores de sair vitorioso em novos embates comerciais que se anunciam para o futuro.
Artigo publicado na edição do dia 12 de outubro do jornal Correio Braziliense
Presidente da Embrapa
Outubro começou com uma boa notícia para a nossa agricultura. O Brasil encerrou uma disputa que se estendia há mais de uma década, em razão dos subsídios e dos programas de garantias de crédito à exportação concedidos pelos Estados Unidos a seus produtores de algodão. Essas vantagens desrespeitavam os Acordos de Agricultura e de Subsídios e Medidas Compensatórias da Organização Mundial do Comércio (OMC) e prejudicavam os agricultores brasileiros.
O entendimento agora firmado inclui pagamento de US$ 300 milhões, para atenuar prejuízos sofridos pelos cotonicultores brasileiros, além de ajustes no programa americano de crédito e exportação do algodão, que passará a operar de acordo com parâmetros negociados entre os dois países. Esta foi uma vitória importante contra o protecionismo e propiciará melhores condições de competitividade para os produtores brasileiros no mercado internacional.
Lições importantes emergem desse contencioso. A primeira delas é que a mobilização dos produtores é essencial para que o setor agrícola brasileiro aumente seu poder de barganha. A ação competente e sinérgica da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e do Ministério das Relações Exteriores garantiu o sucesso do Brasil nessa empreitada. Sucesso que nos inspira a buscar abertura de mercado para um amplo conjunto de produtos agrícolas que, de forma semelhante, padecem de competição injusta.
Outra lição importante: os investimentos em desenvolvimento científico e tecnológico nas últimas décadas transformaram o Brasil em grande produtor e exportador de algodão de alta qualidade. A competitividade decorrente desses avanços atraiu a atenção dos grandes consumidores globais e fortaleceu a posição brasileira contra as práticas injustas de comércio. A capacidade tecnológica brasileira estimulou investimentos, viabilizou políticas públicas acertadas e encorajou produtores competentes e empreendedores. E a cotonicultura brasileira tornou-se uma das mais tecnificadas, eficientes e competitivas do mundo.
O cultivo do algodão migrou do Semiárido para o Cerrado, tangido por uma praga agressiva, o inseto conhecido como bicudo-do-algodoeiro. No Centro-Oeste beneficiou-se de solos recuperados e práticas modernas de cultivo aplicáveis a grandes áreas. A pesquisa foi capaz de produzir variedades adaptadas com fibras de alta qualidade. Dos anos 1990 até o presente, a produtividade do algodão foi multiplicada por quase três vezes, superando 1,5 tonelada de fibra por hectare - a maior produtividade de algodão de sequeiro do mundo. A cotonicultura brasileira alcançou a terceira posição mundial em exportações, que, em 2013, renderam US$ 1,2 bilhão. Acrescente-se a isso impactos na indústria têxtil, em máquinas, equipamentos, insumos, além da significativa geração de emprego e renda.
O desfecho favorável para o Brasil do conflito em torno do algodão reforça, portanto, uma convicção: ciência e inovação representam importantes motores da competitividade. Sem uma base bem estruturada de geração de conhecimentos e inovações, não se pode conquistar e manter posição competitiva, de maneira sustentável, em mercados cada vez mais dinâmicos, exigentes e desafiadores. O Brasil tem feito seu "dever de casa" ao longo das últimas quatro décadas. Desenvolvemos um modelo de agricultura baseado em ciência que revolucionou a produção e a oferta de alimentos, fibras e energia renovável.
A pesquisa agropecuária brasileira tem funcionado como uma "locomotiva limpa-trilhos", que vai adiante, removendo gargalos e limitações. Tropicalizamos cultivos e criações de animais antes relevantes apenas em regiões temperadas. Igualmente, transformamos nosso Cerrado ácido e pobre em nutrientes em imensas extensões de solos férteis. A superação desses gargalos permite que a "locomotiva" do setor privado venha logo em seguida, investindo com determinação e segurança. É uma sinergia vencedora.
À medida que o Brasil avança como grande produtor agrícola e competidor mundial, novas barreiras serão colocadas ante os produtos nacionais, em especial nos mercados mais competitivos, sofisticados e rentáveis. Alianças público-privadas para a proteção da agricultura e o combate a práticas injustas de comércio serão cada vez mais necessárias. Por sua vez, inovação tecnológica será fator crítico para atendimento à diversidade de demandas de países importadores e alinhamento aos rígidos padrões de qualidade que se renovam tanto nos âmbitos nacional e internacional.
O caso do algodão nos mostra que o investimento continuado em pesquisa, desenvolvimento e inovação dará ao Brasil chances cada vez maiores de sair vitorioso em novos embates comerciais que se anunciam para o futuro.
Artigo publicado na edição do dia 12 de outubro do jornal Correio Braziliense
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