quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Dia Mundial da Alimentação



Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1981, o Dia Mundial da Alimentação é comemorado em 16 de outubro e tem o objetivo de conscientizar a opinião pública sobre as questões de nutrição e alimentação. Neste ano, o tema definido pela Fundação das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) foi “Sistemas Alimentares Saudáveis”.

Da plantação à colheita, do processamento às embalagens, do transporte até as prateleiras de comercialização. Segundo a FAO Brasil, a comida que chega às nossas mesas passa por diversas fases e, para isso, utiliza muita água, cria gases de efeito estufa e termina afetando cada planta e animal do planeta.

Em alusão à data, três centros de pesquisa contam parte do que a Embrapa está fazendo para minimizar impactos dos sistemas alimentares para o meio ambiente.

Pesquisa aproveita resíduos e beneficia o meio ambiente

Embrapa Agroindústria de Alimentos

A pesquisa cumpre seu papel de resolver problemas na agropecuária ao prevenir e diminuir a poluição do meio ambiente por resíduos gerados na produção de alimentos, aproveitando o que era descartado e poluía o ambiente e, ainda, criando inovações e propiciando novas fontes de renda para produtores rurais e empreendedores agroindustriais. É o que vêm fazendo pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), em parceria com empreendedores e universidades, por meio da linha de pesquisa em coprodutos. Resíduos das indústrias de suco e polpa de maracujá, carne de rã e de pescados ganharam um aproveitamento que não agride o meio ambiente.

A produção de suco e polpas produz enorme quantidade de resíduos, como cascas e sementes. Apenas no estado do Rio de Janeiro são gerados 840 toneladas de resíduos da indústria de suco de maracujá. Esta montanha de resíduos, quando não apodrece, mal é aproveitada para a alimentação animal ou compostagem. A iniciativa dos pesquisadores Sergio Cenci e Rosemar Antoniassi, com os parceiros, desenvolveu uma nova tecnologia que agilizou em 90% o tempo de limpeza das sementes de maracujá e aperfeiçoou o processo de extração do óleo da semente, produto que tem um altíssimo valor agregado e de grande interesse das indústrias farmacêuticas, alimentícia, de cosméticos e de produtos de limpeza. Também foram desenvolvidos produtos como farelo desengordurado e as sementes desidratadas.

Outros exemplos estão no processamento de carnes de rã e pescado. O consumo de carne de rã é essencialmente das coxas, mas o maior volume é a do dorso, que é praticamente descartada. Para aproveitar a grande quantidade de carne desperdiçada, a pesquisadora Angela Furtado desenvolveu processos de produção e produtos: salsicha, patê de carne de rã e conserva de carne desfiada. O mesmo foi aplicado à carne de tilápia: “Criamos alternativas comerciais que evitam o desperdício da carne de boa qualidade que fica aderida à espinha do peixe após a filetagem: cerca de 90% das sobras da filetagem pode ser processada, condimentada e comercializada como patê e conserva”.

Sistemas alimentares e meio ambiente: como conciliar aumento de produção e seus impactos

Embrapa Hortaliças

O tema “Sistemas Alimentares Saudáveis”, escolhido pela FAO para nortear durante o ano de 2013 os fóruns de debates envolvendo questões relacionadas à segurança alimentar, tem recebido da Embrapa Hortaliças (Brasília, DF) uma atenção especial, a partir da inclusão de ações - em muitas de suas linhas de pesquisa - que procuram minimizar possíveis impactos dos sistemas alimentares para o meio ambiente.

Com isso, a pesquisa voltada para a produção de materiais mais produtivos, mais nutritivos e livres de contaminação – física, química e biológica – tem sido conduzida também com a preocupação em garantir a sanidade do meio ambiente onde são produzidos, comercializados, consumidos e descartados esses alimentos. Segundo o pesquisador Carlos Pacheco, muitas das ações desenvolvidas apresentam esse viés, ou seja, a obtenção de uma relação saudável entre o sistema produtivo e o meio ambiente.

“Uma dessas ações refere-se à tecnologia do Sistema Plantio Direto (SPD), cujos benefícios são a diminuição nos custos de produção e nos impactos ambientais, especialmente relacionados a processos erosivos, redução da frequência de irrigação e maior estoque de carbono no solo”, afirma o pesquisador. Ele acrescenta que o cultivo protegido é outra linha que merece destaque, “por aumentar a segurança na produção”. “Mas os cuidados com a dosagem de adubos, rotatividade das culturas e uso de material orgânico são essenciais para a obtenção de bons resultados”, alerta.

O terceiro item diz respeito à preocupação com o estresse hídrico, quando a demanda de água acaba sendo maior que a capacidade de oferta. Uma das contribuições da Unidade é o Irrigas, sensor de umidade que determina quando e quanto irrigar, “otimizando os recursos como água e a energia gastos na irrigação”.

Pós-colheita
Quando tenho a perda do alimento, qual o custo disso para o meio ambiente? Essa tem sido uma das premissas que fazem parte do trabalho desenvolvido pela pesquisadora Milza Lana, para quem a perda de hortaliças não se limita apenas a prejuízos a quem produz, comercializa e consome. “Temos perdas que vão desde terra, água, combustível e adubo, todos recursos escassos e de altos custos”, enumera.

Ela aponta outros efeitos das perdas, dessa vez para o meio ambiente. “Quando o alimento é jogado no lixo, produz metano, um gás de efeito estufa”. Com base nessa realidade, a pesquisadora desenvolveu alguns projetos, com planos de ação que contemplam tanto o consumidor quanto o produtor. O site Hortaliças na Web, por exemplo, com informações sobre como comprar, conservar e consumir hortaliças. “Entre outras coisas, o site traz opções para que o alimento seja aproveitado até o final”.

No quesito relativo à produção, Milza conta que vem trabalhando com produtores do Distrito Federal com o objetivo de criar uma estrutura mínima para conservação do alimento na propriedade. Essa estrutura é composta de uma cobertura, mesa com cavalete e um carrinho de colheita. “O que estamos tentando passar para o produtor são as vantagens de ter um espaço coberto e instrumentos que reduzem a incidência de dano mecânico e possibilidade de contaminação, implicando em maior durabilidade no processo compra-venda-consumo”, sintetiza.

Embrapa e escola pública se unem para ensinar crianças a gostar de frutas e verduras

Embrapa Agroindústria Tropical

Crianças da escola municipal Aldenor Pereira dos Santos, em Paraipaba (CE), a 90 km de Fortaleza, comemoraram o dia mundial da alimentação de uma forma diferente. Em vez de festa com doces, salgados e refrigerantes, eles participaram de uma colheita de rúcula, couve, alface, erva-doce, erva cidreira, abobrinha e tomate. A horta foi implantada pela Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE) há 40 dias na unidade de ensino para ajudar os alunos a entenderem melhor os conceitos de sustentabilidade ambiental e alimentação saudável, vistos em sala de aula.

Logo após a colheita, realizada na manhã do dia 10 de outubro, parte dos produtos foi usada em uma refeição com produtos naturais que foi servida à comunidade escolar. Durante a programação, o pesquisador José Luiz Mosca, da Embrapa Agroindústria Tropical, ministrou palestra sobre sustentabilidade ambiental e alimentação saudável. “Essa horta trouxe bem mais que a possibilidade de uma alimentação saudável, trouxe motivação e união para a escola”, disse o pesquisador. Ele falou, ainda, sobre a necessidade de as crianças cuidarem do meio ambiente da cidade em que vivem.

O ponto alto da programação foi a oficina de manteiga de ervas e suco de capim santo com limão, ministrada pelo supervisor do Núcleo de Comunicação Organizacional, Nicodemos Moreira, que coordena o projeto. “A intenção é mostrar que, com poucos recursos financeiros e em pouco tempo, se pode preparar alimentos deliciosos, saudáveis e até sofisticados”, disse.

Foram as crianças, professores e pais que construíram a horta. Eles receberam, da Embrapa, capacitação e sementes de hortaliças, plantas medicinais e aromáticas e frutíferas, além de material para o cultivo. Construíram com garrafas pet coloridas os canteiros em formatos como estrelas, círculos, corações e fizeram o plantio.

A auxiliar de serviços gerais Rosemary Santos disse que a filha Larissa, 12, vem demonstrando muito mais interesse na escola depois que começou a participar do projeto. “Antes, ela dormia até 10 da manhã. Agora, acorda cedo para cuidar da horta na escola. Esse dia de hoje vai ficar na memória da Larissa e das mães que vieram aqui”, disse.

A ação educativa do projeto Embrapa 40 Anos faz parte do calendário de comemoração dos 40 anos de criação da Empresa. Outras três escolas públicas dos municípios de Paraipaba, Pacajus e Cascavel, todos no Ceará, também participam do projeto, que tem como objetivo divulgar, entre estudantes e seus familiares, a importância do consumo de vegetais para a saúde, bem como de práticas agrícolas sustentáveis para a preservação do meio ambiente.  Ao final do ano, uma comissão premiará a escola que conseguir melhor desempenho no projeto.

Conforme a diretora da escola 'Aldenor Pereira dos Santos', Leidiana Viana Moreira, a atividade vem repercutindo positivamente nas notas de alguns alunos que apresentavam baixo rendimento. Segundo ela, eles estão se sentindo prestigiados ao ver o fruto do trabalho e acabam se engajando nas demais atividades escolares.

“Nunca pensei que meu nome ia ser incluído no quadro de honra da escola. Nunca mais eu faltei da aula e nem deixei de fazer as tarefas”, disse Rogério de Sousa, 14 anos. Segundo a diretora, a escola já oferece, na merenda, frutas, mel e tubérculos provenientes da agricultura familiar.  “Estamos quebrando o tabu que criança não gosta de fruta e verdura”, disse.

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