terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Obra para resolver seca em parte do RN só acabará em 2016, diz governo

Barragem de Oiticica, na região Seridó, começou a ser construída em 2013.
Reservatório é apontado como solução para o abastecimento de 17 cidades.


Obras de construção da barragem de Oiticica, em Jucurutu, deveriam ter sido concluídas em junho deste ano (Foto: Anderson Barbosa/G1)Obras da barragem de Oiticica deveriam ter sido concluídas em junho passado 

“A previsão continua sendo essa. Pode ser modificada em virtude da crise financeira, mas ainda não sabemos”, ressalta o secretário Mairton França. De acordo com o prazo inicial, Oiticica deveria ter sido concluída em junho do ano passado, mas atrasos no repasse de recursos do governo federal, aliados à lentidão no pagamento das indenizações, comprometeram a execução do cronograma. Após dois anos de obras, apenas 35% dos serviços estão prontos.
Para ver de perto os efeitos da estiagem no interior potiguar, equipes do G1 e da Inter TV Cabugi percorreram aproximadamente 1.400 quilômetros durante cinco dias. Foram visitadas 19 cidades no Seridó e Oeste – regiões que mais vêm sofrendo com a escassez. Em colapso no abastecimento d’água estão Acari, Antônio Martins, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, João Dias, Luís Gomes, Paraná, Pilões, Riacho de Santana, São Miguel e Tenente Ananias.
Já em Apodi, Caicó, Itajá, Jucurutu, Lucrécia, Parelhas, Pau dos Ferros e São Rafael, foi constatado que o nível das barragens vem baixando rapidamente e que a paisagem está mudando a cada dia. Muitas famílias já estão pensando em ir embora. Algumas, para fugir da seca, falam até em buscar uma sorte melhor em outros estados.
Quando concluída, Oiticica beneficiará direta e indiretamente cerca de 500 mil pessoas em 17 cidades. Com capacidade para mais de meio milhão de metros cúbicos de água, será a terceira maior barragem do estado. O investimento também é considerável. Segundo o Ministério da Integração Nacional, a obra tem um valor global de R$ 311 milhões, dos quais R$ 292 milhões são provenientes de recursos federais e os outros R$ 19 milhões do governo estadual, responsável pelo pagamento das indenizações de desapropriações e realocação das famílias que residem no território a ser alagado.
Quando concluída, a Barragem de Oiticica vai represar as águas do rio Piranhas-Açu, que deve se perenizado com a transposição do rio São Francisco (Foto: Anderson Barbosa/G1)Quando concluída, a Barragem de Oiticica vai represar as águas do rio Piranhas-Açu, que deve se perenizado com a transposição do rio São Francisco (Foto: Anderson Barbosa/G1)
'Só vamos sair porque é o jeito'
A terceira maior barragem do estado está sendo concebida para represar as águas do rio Piranhas-Açu, que deve se perenizado com a transposição do rio São Francisco. Além de visitar o canteiro de obras e constatar que ainda há muito a ser feito, o G1 também conversou com pessoas que moram no local mais fundo do futuro reservatório.
'Só vamos sair porque é o jeito', diz dona Rita Maria da Silva, de 71 anos (Foto: Anderson Barbosa/G1)'Só vamos sair porque é o jeito', diz dona Rita Maria
da Silva, de 71 anos 
Pelo menos 50 famílias que residem na comunidade chamada Sítio Carnaúba Torta terão que deixar seus lares. A família de Manoel Pedro da Silva, de 51 anos, é uma delas. “Estamos esperando que construam uma nova casa pra gente poder sair. Tem gente que já recebeu a indenização, mas aqui onde a gente mora não chegou esse dinheiro”, reclamou.
Na mesma comunidade, numa casa localizada no alto de um monte, mora a dona Rita Maria da Silva, de 71 anos. A idosa admite ter sido ressarcida pelo governo do estado há dois meses, mas não sabe dizer quando terá que deixar o sítio. “Recebi R$ 80 mil pelas minha terras”, revelou. Com metade do dinheiro ela conta que comprou um casa nova na cidade de Jucurutu e a alugou por R$ 200. Com o restante, disse ter feito uma poupança. “Guardei no banco”, acrescentou.
Apesar do dinheiro na conta, da casa nova e da água que está por vir para matar a sede dos conterrâneos, dona Rita disse que se tivesse escolha ficaria onde está. “Por mim, morria aqui no sítio. Moro nesta casa desde os meus 17 anos, quando casei. Tive 12 filhos. Sete morreram. Os cinco que estão vivos moram todos aqui. Só vamos sair porque é o jeito”, afirmou.
Terreno onde dona Rita mora, na parte mais funda da barragem, será alagado quando o reservatório encher  (Foto: Anderson Barbosa/G1)Terreno onde dona Rita mora, na parte mais funda da barragem, será alagado quando o reservatório encher (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Emergência
Segundo o serviço de meteorologia do estado, esta é a pior seca dos últimos 100 anos. E para o ano que vem as previsões não são otimistas. Dos 167 municípios potiguares, 153 estão em estado de emergência em razão da estiagem prolongada. Destes, 122 são abastecidos por caminhões-pipa. O decreto foi publicado pelo governo do estado no dia 28 de março deste ano e tem validade de 180 dias. Segundo o documento, as chuvas ocorridas no segundo semestre do ano passado e início de 2015 foram insuficientes para a formação de estoques de água potável nos reservatórios.
Seca que assola o interior do Rio Grande do Norte vem causando a morte de muitos animais e prejuízos para economia do estado (Foto: Anderson Barbosa/G1)Seca que assola o interior do Rio Grande do Norte vem causando a morte de muitos animais e prejuízos para economia do estado (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Para decretar a emergência, o governo consultou a Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), que previu chuvas abaixo da média histórica para este ano, além de também levar em consideração os R$ 3,8 bilhões de prejuízo causados pela escassez hídrica em 2014.
   

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