Criada uma nova semente de maracujá do mato ou da Caatinga nordestina
Redação Nordeste Rural
O trabalho demorou doze anos de pesquisa mas o resultado é a primeira variedade de maracujá nativo da Caatinga recomendado para cultivo comercial: o BRS Sertão Forte, uma variação da espécie Passiflora cincinnata. Fruto do trabalho de melhoramento genético tradicional realizado na Embrapa Semiárido (PE), em parceria com a Embrapa Cerrados (DF), essa variedade é decorrente da seleção de mais de 50 tipos de maracujazeiros silvestres coletados em diferentes áreas de Caatinga. Em comparação com as plantas nativas, ela apresenta maior produtividade e maior tamanho e rendimento dos frutos.“O maracujá do mato é a segunda principal fruta do bioma, vindo logo depois do umbu. É uma espécie silvestre, de ampla distribuição geográfica, tolerante a doenças e resistente às pragas, e muito adaptada às condições climáticas adversas da região”, conta Francisco Araújo. Os frutos do BRS Sertão Forte, quando maduros, têm coloração verde-clara e pesam de 109 g a 212 g. A polpa é bastante ácida, sendo recomendada para processamento agroindustrial e elaboração de doces, geleias, sorvetes e mousses, por exemplo. Apresenta como característica de destaque maior tolerância ao estresse hídrico e longo ciclo produtivo, sendo uma alternativa viável para a agricultura familiar da região. Além disso, sua flor exuberante, arroxeada, evidencia também seu potencial ornamental para paisagismo de grandes áreas, como muros e pérgulas.
Recentemente, o maracujá do mato ou maracujá da Caatinga entrou para a Arca do Gosto do movimento Slow Food. O umbu já integra a Arca do Gosto desde 2007, que é um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores de uma região, ligados à memória, à identidade de uma comunidade e ao conhecimento tradicional local. Reúne alimentos esquecidos ou ameaçados de extinção, com potenciais produtivos e comerciais. A nutricionista Neide Rigo, que faz parte do movimento e integrou a equipe de avaliadores Arca do Gosto do Slow Food, conta: “O maracujá da Caatinga estava sendo preterido por aqueles maracujás maiores e mais suculentos. Era destinado apenas à alimentação dos animais ou à brincadeira de criança”.
Para valorizar as frutas do bioma, como o maracujá do mato, ela acaba de lançar o livro Mesa farta no Semiárido: Receitas com Produtos da Agricultura Familiar, em conjunto com a Coopercuc. “A ideia é mostrar como os produtos cultivados atualmente no Semiárido podem ser preparados, incentivando o uso deles na merenda escolar e na casa dos agricultores. São receitas simples, saudáveis, com o mínimo de ingredientes processados que atendam não só a adultos, mas crianças pequenas e em idade escolar”, revela. Receitas com abóbora, mandioca, umbu, maracujá do mato e outros frutos são formas novas e criativas de valorizar a biodiversidade nacional.
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