terça-feira, 19 de julho de 2016

Produtores de algodão da BA conhecem tecnologias da Embrapa para fazer o manejo integrado do bicudo

Claudio Bezerra - Produtores de algodão da Bahia visitam a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Produtores de algodão da Bahia visitam a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Produtores querem investir em pesquisas para controlar o bicudo-do-algodoeiro
Eliminar o Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) é atualmente o maior desafio dos cotonicultores do Brasil. Essa é a visão de um grupo de representantes dos produtores de algodão da Bahia, que visitou ontem (13/07) a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF). Eles vieram acompanhados dos presidentes da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA), Celestino Zanela; da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), Júlio Cézar Busato; e da Fundação Bahia, Ademar Antônio Marçal e foram recebidos pelo chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral, e pelo chefe-geral da Embrapa Algodão, Sebastião Barbosa.
A visita teve como objetivo principal conhecer in loco as novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas pela Embrapa para o manejo do bicudo nas áreas de ecologia, semioquímicos e controle biológico com fungos.
O bicudo é considerado a pior praga do algodão desde 1983, quando a espécie foi introduzida no Brasil, mais precisamente no estado de São Paulo. Segundo estimativas divulgadas no ano passado durante o 10º Congresso Brasileiro do Algodão, a presença do bicudo do algodoeiro vem causando perdas de R$ 1,7 bilhão por ano aos produtores. As larvas do bicudo ficam escondidas no interior dos botões florais, o que dificulta sua identificação e combate.
O manejo integrado de pragas foi uma das soluções apresentadas pelos pesquisadores Carmen Pires e Edison Sujji, do Laboratório de Ecologia e Biossegurança. No Laboratório de Bioecologia e Biossegurança, eles mostraram aos produtores de algodão um estudo intitulado "Bioecologia do bicudo na entressafra e distribuição espacial na paisagem agrícola".
A pesquisa mapeou áreas de ocorrência do bicudo em períodos de entressafra, com o objetivo de identificar o padrão de dispersão do bicudo na paisagem agrícola, tanto em áreas de plantio quanto em áreas de vegetação no entorno.
Os resultados trazem dados como preferência por alimentos alternativos ao algodão, períodos de dormência e reprodução e rotas de entrada e saída da praga em campo. "Neste momento, precisamos ter acesso a dados de fazendas com populações maiores de bicudo, para saber se a infestação pela praga está ligada à vegetação ou ao manejo", explicou o pesquisador Edison Sujii.
"É preciso trabalhar com a população de bicudo na entressafra e concentrar o controle das áreas que estão favorecendo a permanência do inseto-praga", complementou a pesquisadora Carmen Pires.
Ecologia química é alternativa para combate ao bicudo
Os produtores de algodão da Bahia também conheceram as pesquisas na área de ecologia química realizadas no Laboratório de Semioquímicos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A pesquisadora Maria Carolina Blassioli de Moraes apresentou as pesquisas realizadas com os semioquímicos, que são substâncias produzidas por insetos e plantas que agem no comportamento dos insetos.
O foco foi o estudo dos chamados feromônios de agregação, que permitem que os insetos sejam atraídos uns pelos outros ao descobrirem uma nova fonte de alimento. No caso do bicudo-do-algodoreiro, os pesquisadores descobriram que o feromônio perdia a eficiência quando o algodoeiro chegava ao estágio reprodutivo, mas que a mistura do feromônio de agregação com alguns voláteis do algodoeiro conseguia aumentar a captura de insetos em armadilhas. "A próxima etapa é sintetizar esses compostos em larga escala para oferecer esta alternativa aos produtores", explicou a pesquisadora Carolina Blassioli, ressaltando que a Embrapa já está em negociação com uma empresa interessada na produção dos compostos. Após essa etapa, será possível criar armadilhas mais eficientes para a captura do bicudo.
Os pesquisadores da Embrapa também já identificaram os compostos químicos que repelem o bicudo, para os quais estão sendo feitos testes de confirmação de eficácia.
Nos últimos anos, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) concedeu à Embrapa duas patentes de tecnologias que vão ajudar os produtores brasileiros a se livrar de insetos-praga: uma contra o percevejo-do-colmo do arroz (em 2016) e outra contra os percevejos da soja (2013). Ambos os métodos utilizam semioquímicos para eliminar as pragas, dispensando o uso de defensivos químicos.
Pastilhas com fungos prometem eliminar o bicudo
No Laboratório de Micologia de Invertebrados, os pesquisadores Marcos Faria e Rogério Lopes apresentaram alguns fungos que podem ser usados no controle biológico do bicudo-do-algodoeiro.
A coleção da Embrapa conta com aproximadamente 1.300 isolados de fungos, que são utilizados para estudos básicos e aplicados. Segundo Marcos Faria, existem mais de 30 empresas no mundo produzindo fungos para controlar de diversas pragas agrícolas.
No caso específico do bicudo, o pesquisador explicou que o Metarhizium anisopliae tem se mostrado bastante eficaz, mas ressaltou que ainda é preciso desenvolver formas de produzi-lo em larga escala com baixos custos.
Uma das propostas apresentadas pelos pesquisadores para tornar o uso de fungos contra insetos-praga economicamente viável é a produção de pastilhas biodegradáveis, os chamados "pellets", para o bicudo-do-algodoeiro. A pastilha seria uma mistura de feromônio para atrair o adulto do bicudo e fungos específicos que, em contato com o inseto, causariam a sua morte. "O inseto se contamina, volta para o campo e contamina outros indivíduos da mesma espécie", explicou Rogério.
O pesquisador disse que já foi feita a seleção de isolados de fungos virulentos ao bicudo. As próximas etapas da pesquisa são selecionar as doses de feromônios que devem ser inseridas nos pellets, o material para incorporação do fungo, realizar estudos com os pellets formulados e bicudos em casas de vegetação e finalizar a pesquisa com os testes em campo.
"Quando o produto estiver pronto, vamos definir qual será a melhor estratégia de utilização nas lavouras e incorporá-la aos programas de manejo já adotados pelos agricultores", finalizou Rogério.
Plataforma de insetos da Embrapa guarda exemplares de bicudo para pesquisa
A parte final da visita dos produtores de algodão foi a visita à Plataforma de Criação de Insetos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, onde são guardados cerca de três mil lagartas e 2.400 insetos utilizados em pesquisas.
A plataforma guarda cinco tipos de percevejo e ainda exemplares de Spodoptera frugiperda (Lagarta do cartucho), Anticarsia germmatalis (Lagarta-da-soja), Aedes aegypti (Mosquito da dengue), Culex (Pernilongo) e Anthonomus grandis (Bicudo-do-algodoeiro).
Os técnicos Isabella Grisi e Hélio Santos explicaram que os insetos são recolhidos no campo, colocados em quarentena e só então trazidos para a plataforma, onde se reproduzem e são alimentados com dieta artificial. "A cada dois anos, buscamos novos insetos no campo para melhorar a genética da população", contou Isabella.
Projeto apresentado pela Embrapa prevê resultados num período entre três e cinco anos
A Embrapa apresentará à Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA), a pedido da própria associação, proposta intitulada "Desenvolvimento e validação de estratégias inovadoras de controle do bicudo-do-algodoeiro". Os produtores de algodão deverão investir cerca de R$ 3 milhões no projeto, e, como contrapartida, a Embrapa alocará o dobro desse valor, ou seja, R$ 6 milhões.
A proposta está estruturada em oito linhas de ação que serão desenvolvidas de forma paralela ao longo dos três primeiros anos e uma ação (drone + sensor de voláteis para detecção do bicudo no campo) cujo produto será gerado entre em até cinco anos.
Os resultados esperados incluem novas tecnologias de controle do bicudo, que poderão ser aplicadas isoladamente ou de forma integrada. São elas: Monitoramento inteligente; Pastilha para o bicudo; Cápsula protetora de fungos; Estudos de ecologia populacional e dispersão da praga e plantas hospedeiras; Entendimento da flutuação populacional do bicudo; Avaliação da resistência de inseticidas; e Produção comercial de parasitoide.
O projeto será coordenador pelo pesquisador da Embrapa Algodão José Ednilson Miranda em cooperação com pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Informática Agropecuária, Embrapa Agrossilvipastoril, Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa Cerrados. Também são parceiras do projeto duas empresas de produção de fungos e parasitoides do Brasil (BUG e Isca) e três instituições americanas (Clemson University, USDA e Texas A&M).
"Eliminar o bicudo é o grande desafio do setor agrário brasileiro. Por isso, os produtores precisam botar a mão do bolso e investir em pesquisas que pensem em todas as possibilidades de controle para reduzir a população do bicudo a níveis aceitáveis", afirmou o presidente da Fundação Bahia, Ademar Antônio Marçal. "O investimento em pesquisa é o começo de todas as nossas necessidades", disse.
Segundo Marçal, atualmente os produtores de algodão chegam a fazer até 40 aplicações de inseticida por safra para conter o bicudo. Cerca de R$ 1.000 são gastos por hectare para fazer a aplicação do produto, sem contar o custo de aplicação. O Chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral, ressaltou que tanto o apoio financeiro quanto o institucional são muito importantes para que a Embrapa continue levando seus resultados aos produtores.

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