segunda-feira, 10 de março de 2014

Tensão na Ucrânia - Brasil Sente Efeitos


suino_criacao_carne (Foto: Shutterstock)
Apesar de distante da tensão política que envolve a Ucrânia, o Brasil tende a sentir seus efeitos à medida que a situação fica mais grave. Foi a avaliação de especialistas em uma teleconferência promovida nesta sexta-feira (7/3) pela consultoria GO Associados com o objetivo de avaliar as consequências da crise ucraniana para economias emergentes.
“No curto prazo, a tendência é de queda (na relação comercial)”, avaliou o professor da Fundação Getúlio Vargas Evaldo Alves. No entanto, ele acredita que o Brasil poderia se aproveitar do fato de estar fora da zona de conflito e de ter uma colônia ucraniana instalada no país para prospectar novas parcerias. “Poderíamos melhorar isso a partir de relações já estabelecidas. É uma oportunidade também para a indústria.”
Entre os produtos que o Brasil exporta para a Ucrânia, está a carne suína. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora (Abipecs). Em 2013, o mercado ucraniano por o terceiro principal destino do produto brasileiro, com participação de 13,18% no volume e de 14,58% na receita com as exportações.
Só em janeiro deste ano, as vendas somaram apenas 244 toneladas, uma queda de 96% em relação ao mesmo mês no ano passado. “O mercado de carne suína tem sentido diretamente os efeitos da crise na Ucrânia”, disse Gesner Oliveira, diretor da consultoria.
Também sócio da GO Associados, o analista Fábio Silveira destacou possíveis efeitos para o mercado de trigo, que tem na Ucrânia um importante produtor. Sendo o Brasil dependente do grão importado, o agravamento da tensão política ucraniana poderia ter um efeito negativo, considerando que o preço internacional do produto está em alta. Nas últimas três semanas, a cotação na bolsa de Chicago (EUA) passou de US$ 6,00 para US$ 6,40 por bushel.
“O preço é global e sobe para todo mundo. O Brasil é um grande importador. Teria problemas de balança comercial e de pressão inflacionária”, disse Silveira, ponderando que o impacto poderia ocorrer no médio prazo.
Ação militar
O diretor do Eurásia Group para mercados emergentes, Christopher Garman, disse que a interrupção das exportações de grãos da Ucrânia está diretamente ligada a uma possível intervenção militar da Rússia principalmente na região leste ucraniana, o que deixaria a situação mais grave. “O risco de acontecer não é pequeno dado o interesse da Rússia de impedir uma aproximação da Ucrânia com a União Europeia. As repercussões econômicas seriam tremendas.”
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Uma delas, segundo Garman, seria uma reavaliação dos preços internacionais de ativos de energia, com conseqüências para as economias emergentes de forma geral e ao Brasil de modo particular. “O preço spot de energia aumentaria e o Brasil estaria olhando para isso porque aumentaria o custo de importação de energia.”
Para Evaldo Alves, a possibilidade de uma ação militar maior da Rússia não é tão grande por causa dos custos para o país. “Esse movimento na Criméia é um embuste. A maioria da população é russa e eles já estão fisicamente lá. Basta reafirmar sua presença.”
De outro lado, uma aproximação da Ucrânia com a União Europeia também traria poucos resultados práticos para a população ucraniana, em função dos ajustes fiscais e econômicos necessários para atender princípios estabelecidos pelo bloco europeu. “A própria Ucrânia começou esse processo deza anos atrás e abandonou”, ressaltou Alves.
A solução, na visão dele, deve ser negociada, já que a Ucrânia precisa se aproximar mais da União Europeia, mas sem deixar de lado sua histórica relação com a Rússia. “É um xadrez complexo. Uma negociação é urgente e deve-se tomar cuidado com um parceiro que está com a arma na mão”, disse, referindo-se aos russos. “Mas não se vê uma liderança ucraniana que saiba negociar.”

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