Caatinga: a região mais ruralizada do Brasil
As pessoas não se preocupavam com possibilidade de os recursos não existirem mais
Mata clara e aberta.
 Períodos secos. Poucas nascentes. Calor. Semiárido. Essa é a Caatinga. 
Bioma exclusivamente brasileiro. Abrange territórios de oito estados do 
Nordeste mais o Norte de Minas Gerais. Abraça 27 milhões de pessoas. 
Grande parte delas, cerca de 40%, dependem dos recursos do bioma para 
sobreviver. A Caatinga é a região mais ruralizada do Brasil: 32% dos 
estabelecimentos agropecuários brasileiros estão lá. Ao todo, 1,6 milhão
 de propriedades, sendo 75% delas de no máximo 20 hectares. Caatinga é, 
essencialmente, agricultura familiar.
Com área de cerca de 844.453 quilômetros
 quadrados, o equivalente a 11% do território nacional, a Caatinga é um 
dos biomas do semiárido, junto do Cerrado. Engloba os estados Alagoas, 
Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí,
 Sergipe e o norte de Minas Gerais. O Semiárido brasileiro é formado por
 1.133 municípios. A população total da região é de 22,6 milhões de 
habitantes, o que representa 12% da população brasileira. Hoje (28 de 
abril) é comemorado o Dia Nacional da Caatinga. A data foi instituída em
 20 de agosto de 2003 por meio de um decreto federal publicado no Diário
 Oficial da União. A data homenageia o professor João Vasconcelos 
Sobrinho (1908/1989), pioneiro na área de estudos ambientais no Brasil.
No meio rural são 8,6 milhões, ou seja, 
38% da população rural brasileira reside no Semiárido. Vivem de pequenos
 estabelecimentos e têm a agropecuária como principal atividade. Ao 
longo do ano, de acordo com as safras, os agricultores também coletam 
espécies nativas para se alimentar, vender ou processar, como uma forma 
de complementar a renda.
Denise Cardoso dos Santos, 27 anos, sabe
 bem sobre isso. Filha e neta de agricultores, não largou a terra por um
 minuto sequer. Cresceu e viveu da produção rural, lá em Curaçá, 
município baiano, com pouco mais de 32 mil habitantes. Ajudou a fundar a
 Coopercur, cooperativa que mudou o jeito de aproveitar os recursos 
naturais da Caatinga. Com uma mudança de comportamento, trouxe para a 
região formas de continuar com o uso, mas preservando o meio ambiente, 
com uma técnica de extrativismo sustentável.
Até a chegada da Coopercur, a cultura 
era de colheita para vender por meio de atravessadores. Colhia- se a 
fruta, principalmente, o umbu, nativo da região, na base da porrada. Com
 uma vara, o agricultor batia na árvore, nos galhos, até que o fruto 
caísse no chão. Catava, colocava em um saco e o revendedor levava para 
as grandes cidades, como Feira de Santana, Salvador, Vitória da 
Conquista. Hoje, os umbus são catados um a um, lá em cima da árvore. 
Iniciativa para preserva mais de 100 anos de umbuzeiro.
"As pessoas não se preocupavam com 
possibilidade de os recursos não existirem mais. Sequer pensavam no 
replantio das árvores. Pensamos diferente e começamos a fazer um 
processo de formação social, para que entendessem que essa não era a 
maneira correta", explica a agricultora, que hoje é presidente da 
Coopercur. Outra iniciativa do grupo, repassada para os 271 cooperados, é
 o de replantio. Apesar das dificuldades vividas nos últimos dois anos 
pelas populações do Semiárido Brasileiro, por conta dos longos períodos 
de estiagem, os agricultores têm se esforçado na produção de mudas em 
viveiros. O estoque é de 400 mudas para esse ano, que serão distribuídas
 aos agricultores durante o período da chuva. Todo esse processo de 
plantação e uso é acompanhado de perto pela cooperativa.
Plantam, colhem, cuidam, e vendem as 
frutas in natura, geleia de maracujá da Caatinga, de umbu, compotas, 
sucos e outros deleites como doce de goiaba e de banana com maracujá. 
Saíram as porradas nas árvores, entraram as técnicas sustentáveis. 
Minimizaram os atravessadores e mergulharam em programas de 
comercialização, como o de Aquisição de Alimentos, promovido pela 
Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário
 (Sead).
Segundo Denise, a consciência tem mudado
 e pautado comportamentos que manterão o bioma vivo por mais tempo. "A 
nossa produção sai dessas áreas. Precisamos cuidar. Temos nossas 
miniunidades de produção, os agricultores conseguem trabalhar de forma 
artesanal, garantimos a comercialização e eles ainda podem fazer o 
próprio beneficiamento das frutas. Estamos com projeto de construir um 
matrizeiro, uma espécie de majedoura, para novas mudas. É um novo 
tempo", comemora a agricultora. A biodiversidade da caatinga ampara 
ainda diversas atividades econômicas voltadas para fins 
agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, 
de cosméticos, químico e de alimentos.
Conservação
O Instituto Chico Mendes de Conservação 
da Biodiversidade (ICMBio) trabalha com unidades de conservação, 
espalhadas por todos os biomas brasileiros. Hoje, é a principal 
ferramenta do governo para manter essas regiões sob constante cuidado. 
Ao todo, são mais de 2 mil unidades de conservação espalhadas pelo 
Brasil, sendo 327 do governo federal. São separadas em 12 categorias, 
que se encaixam em dois grandes grupos: o de Proteção Integral e o de 
Uso Sustentável (Veja quadro). As unidades são geridas pelo Instituto 
Chico Mendes, desde a IN 29/2012.
O documento contém as regras construídas
 e definidas pela população tradicional beneficiária da Unidade de 
Conservação de Uso Sustentável juntamente com o Instituto Chico Mendes 
quanto às atividades que são tradicionalmente praticadas, como deve se 
dar o manejo dos recursos naturais e o uso e ocupação da área, com o 
objetivo de conciliar as atividades com a conservação ambiental. No 
bioma Caatinga, são cerca de 30 unidades de conservação.
Riscos
Apesar da
 importância do bioma para o mundo, o desmatamento acelerado para o 
consumo de lenha nativa, explorada de forma ilegal e insustentável, para
 fins domésticos e industriais, chega a 46% da área do bioma, segundo 
dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A proposta do governo é 
criarnovas unidades de conservação, federais e estaduais, para promover 
alternativas para o uso sustentável da sua biodiversidade.
Dentro da Secretaria de Agricultura 
Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), junto do movimento Slow 
Food, o umbu está na lista dos alimentos que devem ser preservados, pois
 correm o risco de sumirem da mesa do consumidor. O umbu está em risco 
porque depois dá introdução da caprinovinocultura, principal fonte de 
renda das famílias, não nasceram mais pés de umbuzeiro de forma 
espontânea na Caatinga, e não dá para saber quanto tempo estas árvores 
resistirão.  A Coopercur é uma das cooperativas reconhecidas pelo 
replantio dos umbuzeiros em algumas comunidades da Bahia.
Campanha da Fraternidade
Conscientizar-se da importância de 
conservar o meio ambiente virou tema da Campanha da Fraternidade (CF) 
2017: Biomas brasileiros e diversidade da vida", com o lema "cultivar e 
guardar a criação”. A Secretaria de Agricultura Familiar e do 
Desenvolvimento Agrário (Sead) publica uma série de matérias sobre os 
principais biomas brasileiros, e mostra como a inclusão produtiva dos 
agricultores, dos povos e das comunidades tradicionais ajudam a 
preservar esse universo. Leia mais aqui.
Conheça
A caatinga tem:
178 Espécies de mamíferos
591 Espécies de aves
177 Espécies de répteis
79 Espécies de anfíbios
241 Espécies de peixes
221 Espécies de abelhas
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