quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Abrapa: preço mínimo do algodão deveria estar entre R$ 90 e R$ 100 por arroba

Produtores ainda esperam por reajuste

por Estadão COnteúdo
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De acordo com a Abrapa, preço mínimo do algodão está "congelado" há 10 anos (Foto: Shutterstock)
Os produtores ainda aguardam o reajuste do preço mínimo de garantia do algodão, quase seis meses após o governo federal ter divulgado os valores para as demais culturas na safra 2012/13, sem incluir a pluma. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gilson Pinesso, disse nesta quarta-feira (4/12) que o preço mínimo está "congelado" há dez anos em R$ 44,60 por arroba. Ele calcula que, descontada a inflação, o valor deveria estar hoje na faixa de R$ 90 a R$ 100/arroba.

A novela do preço mínimo de algodão se arrasta dentro do governo sem perspectiva de solução. Segundo fontes, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou reajuste para R$ 50/arroba na reunião realizada no final de agosto, mas o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, não sancionou o valor, enfatizando a necessidade de pelo menos R$ 55/arroba. Já a presidente da Abrapa diz que hoje o valor razoável seria R$ 60/arroba, para cobrir "os custos de produção e dar segurança aos produtores".

De acordo com Pinesso, o setor está preocupado com o fato de os técnicos do Ministério da Fazenda "invocarem uma possível pressão inflacionária, que poderia ser provocada pelo reajuste do preço mínimo". Ele argumenta que "mais danoso para economia brasileira seria o Brasil ser obrigado a importar algodão, com impacto grande nos custos das confecções e na fabricação de roupas".

A Abrapa promoveu entrevista coletiva hoje para divulgar o segundo estudo sobre a cadeia do algodão brasileiro, com dados relativos à safra 2012/13, dando sequência ao primeiro trabalho realizado na safra 2010/11 pela consultoria Markestrat, coordenado pelo professor Marcos Fava Neves, da Faculdade de Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Segundo o estudo, na safra passada a cadeia do algodão movimentou US$ 41 bilhões e teve um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 18 bilhões.

O pesquisador Mairun Alves Pinto, da Markestrat, observa que o PIB da cadeia do algodão equivale a quase 40% do PIB do Uruguai, 50% da Sérvia e 70% do Paraguai, além de ser superior ao de países como Honduras, Congo, Botswana e Jamaica. Ele destaca que, embora o algodão responda por menos de 1,5% da área plantada no Brasil, o PIB do setor estimado neste estudo representa cerca de 6,0% de todo o PIB da agricultura do País.

O estudo mostra que apesar da queda de 35% na área cultivada com algodão na safra passada, os crescentes investimentos em adoção de tecnologia e o aumento dos preços dos insumos fizeram com que o faturamento total das indústrias fornecedoras fosse maior na última safra. O PIB do algodão "antes da porteira" é estimado em US$ 1,97 bilhão. Os maiores gastos dos produtores são com defensivos (US$ 911,6 milhões). Em seguida, vêm fertilizantes (US$ 651,8 milhões) e combustíveis e lubrificantes (US$ 111,6 milhões).

O PIB do setor depois da porteira é estimado em US$ 4,08 bilhões, principalmente com o faturamento de US$ 1,682 bilhão na venda da pluma no mercado interno e US$ 1,891 bilhão na exportação entre agosto do ano passado e julho deste ano. A maior participação no PIB do algodão vem deste segmento, principalmente a indústria têxtil, cujo faturamento foi estimado em US$ 23,859 bilhões. A consultoria observa que o faturamento do setor têxtil recuou em relação à 2010/11, enquanto a produção de biodiesel no período cresceu 105%. O estudo revela que o caroço de algodão vem ganhando importância na receita dos produtores, impulsionado pelas indústrias de biodiesel, que no ano passado faturaram US$ 96,3 milhões. A receita total da indústria esmagadora foi de US$ 413,5 bilhões, tendo como principal produto o farelo (US$ 249,6 milhões).

Outro destaque do estudo é a geração de empregos. Em 2012 eram 519 mil postos ligados diretamente à atividade, gerando uma massa salarial estimada em US$ 4,021 bilhões. Os dados relativos ao setor têxtil e de confecção revelam que em 2012 havia um contingente de 1,7 milhão de empregados diretos: 10 mil empregos na indústria de fibras e filamentos químicos, 275 mil na indústria têxtil e 1,355 milhão nas confecções.

O estudo também mostra que o cultivo de algodão é o que proporciona maior rendimento para os trabalhadores, em relação a outras culturas agrícolas. A média salarial no algodão é de R$ 1.800 por mês, enquanto na cana-de-açúcar é de R$ 1.600 e no café R$ 1.400.

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