Artigo - A busca por uma nova economia
Maurício Antônio Lopes
Presidente da Embrapa
A despeito do pessimismo que marca o nosso tempo, nunca se viu tanto esforço para mover o mundo na direção do desenvolvimento sustentável. São inúmeras as iniciativas para remodelar a agenda de desenvolvimento e promover mudanças no funcionamento da economia global. Um exemplo recente está na aprovação, pela Cúpula das Nações Unidas, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Eles orientarão as políticas nacionais e globais para 2030. E, nas últimas duas semanas, a COP 21, com líderes globais reunidos em Paris, buscou consolidar um acordo para reduzir os perigos crescentes das mudanças climáticas.
A intensa mobilização por novo paradigma de desenvolvimento, que conduza a uma produção mais sustentável e resiliente, trará profundas mudanças na economia global. Economia circular, economia colaborativa, economia criativa, economia verde e bioeconomia denominam algumas dessas iniciativas de redesenho da velha economia e sinalizam o desejo de releitura do paradigma econômico baseado na concentração de riqueza, no consumo de massa e na exploração imprudente de recursos não renováveis.
O surgimento de tantas alternativas para uma economia de baixo carbono leva muitos a subestimá-las e tomá-las por modismos. Ainda que isso se revele verdadeiro para algumas delas, é fato que todas buscam respostas para a crise na relação da humanidade com a natureza. Como mudanças radicais na economia global exigem tempo, é possível que alternativas mais pragmáticas, capazes de coexistir com o atual modelo econômico, acabem por se consolidar, tornando esse modelo mais permeável às noções de sustentabilidade, finitude de recursos, redistribuição e compartilhamento.
As pressões para que tal coexistência seja aceita e praticada vêm de todos os lados: as revoluções da informação, da comunicação e da energia, as mudanças nos hábitos alimentares e na demografia estão entre as mais visíveis. Adicione-se a revolução nas relações sociais, a revolução ética e a crescente exigência de transparência radical na sociedade, que permite a pessoas e comunidades amealhar parte do poder antes restrito ao Estado e às instituições.
Já em 2030, o acréscimo de três bilhões de consumidores à classe média mundial desafiará o modelo econômico baseado em "extração de matérias-primas, fabricação, uso e descarte". Aumentos crescentes na demanda por recursos naturais finitos nos forçarão a substituir a produção linear por um modelo circular, em que os materiais são devolvidos ao ciclo produtivo através da reutilização, da recuperação e da reciclagem. A Europa exercita a economia circular e já captura 40% dos resíduos para processamento e reutilização. Em Oslo, na Noruega, a metade da cidade e a maioria das escolas são aquecidas com energia extraída do lixo doméstico e de resíduos industriais. O modelo alcançou tanto sucesso que a cidade já importa rejeitos da Inglaterra, da Suécia e da Irlanda.
O potencial de inserção do Brasil nessa emergente economia de base biológica, circular e sustentável é nada menos que extraordinário. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que apenas os resíduos secos do cultivo de cana-de-açúcar poderiam gerar, todo ano, mais energia do que a potência instalada na Usina de Itaipu. Os resíduos da agricultura, pecuária e florestas poderiam atender ao consumo de energia elétrica do setor agrícola e gerar excedentes para o mercado.
Os sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), por sua vez, se destacam no âmbito da agricultura de baixa emissão de carbono do Brasil, já inserida na moderna bioeconomia. A capacidade de as pastagens capturarem e armazenarem o carbono da atmosfera no solo, bem como cadeias produtivas associadas (carne, leite, grãos e silvicultura), permitirá ao Brasil neutralizar gases de efeito estufa na produção de alimentos, gerando serviços ambientais, créditos de carbono e bem-estar animal, projetando a agricultura brasileira como uma das mais sustentáveis do planeta.
Graças à consolidação dos sistemas integrados de produção, a Embrapa lançará em breve o conceito Carne Carbono Neutro (CCN), uma abordagem inédita para a produção de carne bovina nos trópicos, sem emissão líquida de carbono, e com sólido respaldo científico. Não há, portanto, dúvidas de que o Brasil despontará como protagonista da nova revolução econômica, por sua capacidade de contribuir para o atendimento das necessidades de uma população global crescente, mais idosa e exigente por alimentos nobres como leite, carne, ovos, peixes, frutas, verduras e legumes. Todos produzidos de forma segura e sustentável, nas dimensões econômica, social e ambiental.
Antoine Lavoisier, francês considerado pai da química moderna, notável por estudos sobre a conservação da matéria, ainda no século XVIII, pronunciou a célebre frase que tão bem anuncia a revolução econômica em construção neste início de século XXI: "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
Presidente da Embrapa
A despeito do pessimismo que marca o nosso tempo, nunca se viu tanto esforço para mover o mundo na direção do desenvolvimento sustentável. São inúmeras as iniciativas para remodelar a agenda de desenvolvimento e promover mudanças no funcionamento da economia global. Um exemplo recente está na aprovação, pela Cúpula das Nações Unidas, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Eles orientarão as políticas nacionais e globais para 2030. E, nas últimas duas semanas, a COP 21, com líderes globais reunidos em Paris, buscou consolidar um acordo para reduzir os perigos crescentes das mudanças climáticas.
A intensa mobilização por novo paradigma de desenvolvimento, que conduza a uma produção mais sustentável e resiliente, trará profundas mudanças na economia global. Economia circular, economia colaborativa, economia criativa, economia verde e bioeconomia denominam algumas dessas iniciativas de redesenho da velha economia e sinalizam o desejo de releitura do paradigma econômico baseado na concentração de riqueza, no consumo de massa e na exploração imprudente de recursos não renováveis.
O surgimento de tantas alternativas para uma economia de baixo carbono leva muitos a subestimá-las e tomá-las por modismos. Ainda que isso se revele verdadeiro para algumas delas, é fato que todas buscam respostas para a crise na relação da humanidade com a natureza. Como mudanças radicais na economia global exigem tempo, é possível que alternativas mais pragmáticas, capazes de coexistir com o atual modelo econômico, acabem por se consolidar, tornando esse modelo mais permeável às noções de sustentabilidade, finitude de recursos, redistribuição e compartilhamento.
As pressões para que tal coexistência seja aceita e praticada vêm de todos os lados: as revoluções da informação, da comunicação e da energia, as mudanças nos hábitos alimentares e na demografia estão entre as mais visíveis. Adicione-se a revolução nas relações sociais, a revolução ética e a crescente exigência de transparência radical na sociedade, que permite a pessoas e comunidades amealhar parte do poder antes restrito ao Estado e às instituições.
Já em 2030, o acréscimo de três bilhões de consumidores à classe média mundial desafiará o modelo econômico baseado em "extração de matérias-primas, fabricação, uso e descarte". Aumentos crescentes na demanda por recursos naturais finitos nos forçarão a substituir a produção linear por um modelo circular, em que os materiais são devolvidos ao ciclo produtivo através da reutilização, da recuperação e da reciclagem. A Europa exercita a economia circular e já captura 40% dos resíduos para processamento e reutilização. Em Oslo, na Noruega, a metade da cidade e a maioria das escolas são aquecidas com energia extraída do lixo doméstico e de resíduos industriais. O modelo alcançou tanto sucesso que a cidade já importa rejeitos da Inglaterra, da Suécia e da Irlanda.
O potencial de inserção do Brasil nessa emergente economia de base biológica, circular e sustentável é nada menos que extraordinário. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que apenas os resíduos secos do cultivo de cana-de-açúcar poderiam gerar, todo ano, mais energia do que a potência instalada na Usina de Itaipu. Os resíduos da agricultura, pecuária e florestas poderiam atender ao consumo de energia elétrica do setor agrícola e gerar excedentes para o mercado.
Os sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), por sua vez, se destacam no âmbito da agricultura de baixa emissão de carbono do Brasil, já inserida na moderna bioeconomia. A capacidade de as pastagens capturarem e armazenarem o carbono da atmosfera no solo, bem como cadeias produtivas associadas (carne, leite, grãos e silvicultura), permitirá ao Brasil neutralizar gases de efeito estufa na produção de alimentos, gerando serviços ambientais, créditos de carbono e bem-estar animal, projetando a agricultura brasileira como uma das mais sustentáveis do planeta.
Graças à consolidação dos sistemas integrados de produção, a Embrapa lançará em breve o conceito Carne Carbono Neutro (CCN), uma abordagem inédita para a produção de carne bovina nos trópicos, sem emissão líquida de carbono, e com sólido respaldo científico. Não há, portanto, dúvidas de que o Brasil despontará como protagonista da nova revolução econômica, por sua capacidade de contribuir para o atendimento das necessidades de uma população global crescente, mais idosa e exigente por alimentos nobres como leite, carne, ovos, peixes, frutas, verduras e legumes. Todos produzidos de forma segura e sustentável, nas dimensões econômica, social e ambiental.
Antoine Lavoisier, francês considerado pai da química moderna, notável por estudos sobre a conservação da matéria, ainda no século XVIII, pronunciou a célebre frase que tão bem anuncia a revolução econômica em construção neste início de século XXI: "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
*Artigo publicado na edição do dia 13 de dezembro de 2015 do jornal Correio Breaziliense.
Secretaria de Comunicação da Embrapa - Secom
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