quinta-feira, 18 de junho de 2020

Ontem, quarta-feira, 17 de junho de 2020

O dia 17 de junho é celebrado o Dia Mundial de Combate à Seca, desde 1995, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou essa data. Portanto, vale a pena lembrar o poeta assuense Renato Caldas.
Entretanto, se o renomado pintor Cândido Portinare utilizava a sua arte para denunciar os problemas sociais do povo comum, o renomado poeta Norte-riograndense Renato Caldas através dos seus versos em linguagem rude do sertanejo, utilizava a sua verve para retratar e denunciar a aflição do povo sertanejo do Nordeste brasileiro. Confira o poema sob o titulo "Secas", conforme adiante:
Meu patrão, mecê pergunta,
Pula vida do Sertão?
Eu num sei cuma cumece!...
Mecê, tarvez desconhece
Nossa dô, nossa afrição.
Proque é qui vós mecê,
Qué ôvi minha dô fala?
Qué que descasque a ferida,
Qui tenho narma iscundida
E véve sempre a sangrá?
Apois bem, vô lhe dizê,
Vou lhe contá meu patrão,
A história mais repitida,
Passada in todas as vida
Dos fio do meu sertão.
Vivemos naquelas terras,
Cuma outo bicho quarqué,
Nós só tem uma deferença,
Qui Deus dá pru recompensa:
A cumpanheira, a muié.
Além da nossa muié,
A nossa satisfação:
É uma noite inluarada,
Um prato bom de cuaiáda
E um cusido de feijão
Mas, quando a Sêca malina,
Se alasta pulo sertão...
Rio, cacimba secando,
Esturricando, lascando,
Tudo, tudo meu patrão!
O póbe do sertanejo,
Vê tudo seu se acabá.
Dia e noite nas estradas,
Vão passando as retiradas
Sem sabê onde escapá.
Quantas vez, nessa viage,
Num perde um fio, ou muié...
Quantas vez, pulas estradas,
Se encontra uma cruz infincada,
Sem se sab de quem é?
- Eu já sofri tudo isso!
Sofri mais qui outo quarqué.
- Sei qui mecê acredita –
Pois vi, a fome mardita,
Sucumbí minha muié.
E. à sombra duma oiticica,
Pejada de fruita e frô:
Deixei uma cruz infincada,
Trez parmo abaixo, interrada,
Minha muié! Meu amô.
Patrão, a história é cumprida,
Mas, num posso aterminá...
Fui descasca a ferida,
Qui tenho n’arma escundida...
Deixe a dor apalacá.
_____________EM, Fulô do Mato, 1940.
Por Fernando Caldas

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