sexta-feira, 17 de abril de 2020

Preço de frutas, verduras e legumes dispara na quarentena

Conab aponta que coronavírus alterou dinâmica do mercado e indica tendência de alta para os próximos meses

Merenda escolar (Foto: Divulgação)

O avanço do coronavírus no Brasil em março, causando corrida aos supermercados seguida de queda na demanda, afetou a dinâmica do mercado de frutas, legumes e verduras do país. O resultado disso é o aumento nos preços para o consumidor.
A conclusão é do relatório mensal Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort), divulgado nesta quinta-feira (16/4) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O documenta aponta queda no volume de vendas das Ceasas em todo o país, tendência que era observada desde o início do ano. “As variáveis agora colocadas geraram um cenário atípico, o que repercutiu nas cadeias produtivas e, consequentemente, no elo da comercialização”, explica o relatório.

Enquanto legumes e frutas mais duráveis apresentaram maior demanda, verduras mais perecíveis, como alface e tomate, enfrentaram redução. As diferentes condições no campo, combinadas com o novo comportamento do mercado, indicam uma alta generalizada nos preços nos próximos meses.

Legumes e verduras

plantacao-de-alface-agricultor-produtor-rural-agricultores-hortalica-hortifruti-nova-fribugo (Foto: GERJ/CCommons)

O aumento da oferta e a redução na demanda, diante das recomendações de isolamento social, impactaram diretamente na comercialização das folhosas em março, diz a Conab. Em São Paulo, o preço médio foi de R$ 1,65 o quilo, queda mensal de 9,84%.
Para os próximos meses, as perspectivas são de alta nos preços diante da previsão de reabertura de parte das feiras livres do país e da reorganização da ida das famílias aos supermercados em um momento de queda na oferta.
“Muitos produtores estão colhendo quantidades menores pelo risco de não conseguirem mercado ou dos preços estarem muito baixos. Há produtores que já estão substituindo suas áreas por novos plantios e/ou por outras hortaliças na expectativa de uma normalização do mercado em curto prazo”, afirma o relatório.

Tomate

tomate-hortifruti-fruta (Foto: Liz West/CCommons)

O cenário é semelhante para o tomate, cujos preços têm apresentado alta há quatro meses diante da menor oferta nacional provocada por fatores climáticos e sazonais. Os aumentos de preços em março foram de 33,45% no Rio de Janeiro, 20,32% em São Paulo e 12,15% em Belo Horizonte/MG.
“Quando as temperaturas estão elevadas, a maturação acelerada impõe aos produtores que coloquem o produto no mercado, ao passo que baixas temperaturas permitem que segure a colheita e espere melhores oportunidades de ganhos”, cita o relatório.
Mas, na parcial de abril, o preço do tomate já registra queda de 40% no Rio de Janeiro e 30% em Belo Horizonte. Com isso, nos próximos meses, o mercado deve seguir acompanhando as variações de temperatura e oferta durante o final da safra de verão e o início da safra de inverno, o que depende diretamente dos efeitos da pandemia.

Batata

Batata no PR (Foto: Jonathan Campos)

Entre os produtos menos perecíveis, o aumento da demanda provocada pelo início da pandemia de Covid-19 no Brasil acabou coincidindo com a menor oferta nacional dos principais produtos analisados pela Conab, contribuindo para alavancar ainda mais os preços nas centrais de abastecimento.
Em Belo Horizonte,  o preço médio da batata comercializada na CeasaMinas registrou alta de 29,55% em março, valorização observada também no Rio de Janeiro (18,54%) e em Recife (15,98%). Em São Paulo, a alta foi de 1,49%.
"O que se verifica nos primeiros dias de abril são preços da batata ascendentes na maioria dos mercados, mesmo com a continuação das medidas para a contenção do novo coronavírus, que provoca diminuição de demanda direta nos mercados atacadistas"
Relatório Prohort, da Conab
A Conab destaca a queda na oferta do Paraná como principal fator para a valorização do tubérculo. “A diminuição e/ou o deslocamento da demanda, provocada pelas medidas de contenção da disseminação do novo coronavírus, não foram suficientes para que, em termos de média, os preços sofressem redução”, conclui o documento.

Cenoura

cenoura (Foto: Max Pixel/Creative Commons)

A menor oferta nacional também puxou para cima os preços da cenoura durante o primeiro mês de quarentena no Brasil. “Neste ano, a produção mineira, a principal abastecedora dos mercados, vem sofrendo com chuvas constantes, prejudicando a produtividade e também ocasionando maiores perdas no campo”, explica o Prohort.
Para os próximos dias, as expectativas do mercado se voltam para a colheita da nova safra em Minas Gerais e Goiás e os preços devem voltar a ceder. Em março, a valorização do quilo da cenoura foi de 37,44% em São Paulo, 50% no Rio de Janeiro e de 29,47% em Recife.

Cebola

cebola (Foto: Px Here/Creative Commons)

No caso da cebola, a concentração da oferta nacional em Santa Catarina diante da menor produção no Nordeste e as dificuldades para importação puxaram os preços no mercado nacional, com percentuais de entre 26,28%, observado em São Paulo, e 85,95% em Recife.
“Para abril, é prevista a continuidade da alta de preços, pois a produção concentrada no sul do país, tende a ser insuficiente para atender a demanda nacional”, indica a Conab.

Laranja

citru-citrico-limao-laranja (Foto: pixabay/Moritz320/Creative Commons)

Entre as frutas, a laranja foi o principal produto impactado pelo avanço do coronavírus no Brasil em março. Associada com a melhora da imunidade devido aos elevados teores de vitamina C, a laranja apresentou alta de preços em todas as Ceasas analisadas pela Conab, com exceção de São Paulo, principal Estado produtor.
“Março trouxe consigo alta das cotações na maioria dos entrepostos atacadistas e o aumento da oferta das laranjas precoces da nova safra”, explica o relatório. Para os próximos meses, a Conab indica “normalização da oferta de laranjas tanto para a moagem quanto para o varejo, o que pode contribuir, em um cenário de demanda arrefecida, para a queda de preços”.

Melancia

como-plantar-melancia (Foto: Pixabay)

As compras motivadas pelo coronavírus também contribuíram para a alta da melancia em março, com valorização de 16,49% em São Paulo e de 20,24% em Belo Horizonte e de 15,58% em Recife. A maior alta na demanda, aponta a Conab, foi observada na segunda e terceira semanas do mês, seguida de queda no final de março.
O relatório também apontou queda na produção devido à entressafra no Centro-Oeste e problemas climáticos em São Paulo, onde a chuva reduziu a produtividade e contribuiu para o surgimento de doenças.

Banana

agricultura_banana (Foto: Thinkstock)

As perspectivas também são de menor produção para a banana. “Por causa das fortes chuvas no oeste baiano e principalmente no norte mineiro, principal região produtora de banana atualmente, ocorreu perda nos bananais e houve aumento no uso de defensivos agrícolas para conter a proliferação de doenças fúngicas”, aponta o estudo.
Segundo a Conab, associada às oscilações da demanda, a situação pode gerar prejuízos ao produtor. Em São Paulo, os preços subiram 3,26% em março. também houve valorização de 17,39% em Recife e de 10,04% no Rio de Janeiro.

Mamão e maçã

maça-alimento-mercado (Foto: Globo Rural)

Entre as demais frutas, a Conab destaca a manutenção dos preços do mamão mesmo diante da menor oferta, já que as políticas de isolamento social impostas para controlar a Covid-19 reduziram a demanda - cenário que também é esperado para abril. Em São Paulo, os preços da fruta recuaram 1,62% no último mês.
A mesma estabilidade é esperada para o mercado de maçã, cuja safra apresenta frutos menores, mas de maior qualidade. Em março, o preço médio da fruta comercializada em São Paulo apresentou queda de 3,26%.
“Essa variedade de maçã, uma vez posta no mercado (atacado e varejo), poderá contribuir em fins de abril e início de maio para a redução de preços. Isso ocorrerá se a oferta não for controlada com a utilização de câmaras frias”, conclui a Conab.

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