quinta-feira, 21 de maio de 2020

Assentados paraibanos utilizam site para entrega de alimentos durante pandemia


A agricultora Maria Madalena Romão, da comunidade Ponta de Gramame (João Pessoa) / Foto: Incra/PB
 Incra/PB
Agricultores de assentamentos da reforma agrária e de pequenas comunidades rurais da Paraíba estão comercializando seus produtos por meio da internet, como forma de evitar a disseminação do novo coronavírus. Os consumidores recebem os produtos em casa.

A iniciativa partiu da direção da Central de Comercialização da Agricultura Familiar (Cecaf) João Pedro Teixeira, espaço que funciona desde 2015 no bairro José Américo, na zona sul da capital João Pessoa. No local, 130 assentados e agricultores familiares de 24 municípios paraibanos vendem sua variada produção em feiras que, antes das medidas de isolamento social devido à pandemia de covid-19, aconteciam todas as quintas, sextas e sábados, das 5 h às 12 h.

A Cecaf é administrada pela Prefeitura de João Pessoa, por meio do Setor de Agricultura Familiar da Secretaria de Desenvolvimento e Controle Urbano (Sedurb), em conjunto com os agricultores. Como resultado de uma parceria com o Centro de Informática (CI) e o Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Regional (CTDR) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), foi possível pela prefeitura viabilizar a criação de um site para a comercialização dos produtos.

O acesso pode ser feito em laser.ci.ufpb.br/agricultura-familiar e na aba de serviços da página na internet da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP). Os interessados encontram informações como nome, contato telefônico/ whatsapp e produtos comercializados por cada agricultor cadastrado.

As assessorias de comunicação da UFPB e da Prefeitura de João Pessoa têm dado ampla divulgação ao novo sistema de vendas dos agricultores. O site, que já contabiliza mais de 3 mil acessos, reúne 25 produtores que oferecem aos consumidores frutas, verduras, hortaliças, tubérculos, ovos, galinhas, frutos do mar, bode, queijos variados, farinha, goma de tapioca, mel, temperos, biscoitos artesanais, bolos, doces e comidas típicas diretamente da zona rural.

O secretário de Desenvolvimento Urbano, Zennedy Bezerra, garantiu a continuidade do site com a oferta de alimentos produzidos pelos agricultores após a normalização do funcionamento da Cecaf, embora tenha sido criado durante um período de emergência. Muitos dos agricultores já pensam em continuar com o serviço de entrega de alimentos produzidos sem agrotóxicos mesmo depois que cessarem as medidas de isolamento social.

Renda e solidariedade

A diretora do Setor de Agricultura Familiar da Sedurb e coordenadora da Cecaf, Rogeany Gonçalves, explicou que, devido ao acesso à internet não estar disponível em toda a zona rural da Paraíba e a muitos agricultores ainda não dominarem essa tecnologia, a adesão ao sistema de vendas on-line foi de pouco mais de 19% daqueles que comercializam no espaço.

No entanto, a falta de intimidade com a internet, que poderia atrapalhar a iniciativa, resultou em uma vivência marcada pela solidariedade e pela parceria entre os agricultores, nas palavras de Rogeany. “Para além da comercialização, tem sido uma experiência linda. Eu até esperava, mas confesso que eu tenho me surpreendido. Às vezes os clientes procuram produtos que eles não têm, mas eles conhecem um vizinho, um parente ou até um agricultor de um outro assentamento que produz e conseguem oferecer aos clientes uma variedade cada vez maior de alimentos”, contou.

A agricultora familiar Maria Madalena Romão, da comunidade Ponta de Gramame, na zona rural de João Pessoa, explicou que os produtores estão trabalhando em sistema de colaboração. Na banca que mantinha na Cecaf, ela vendia os legumes, as hortaliças, os tubérculos e as frutas produzidas no lote da família. Agora, durante a pandemia, ela oferece ainda aos consumidores que a procuram via whatsapp alimentos produzidos por colegas agricultores que também comercializam na central, mas que ainda não usam as redes sociais, como biscoitos caseiros, queijos, castanhas de caju, galinhas e ovos caipiras. “Está dando muito certo, graças a Deus. O site tem nos ajudado bastante. Fazemos entregas todos os dias”, afirmou Maria Madalena.

Telefone não para

Há agricultores que estão entregando mais de 20 cestas por dia. É o caso de João Trajano da Silva, do assentamento Subaúma, no município de Alhandra, na Região Metropolitana da capital paraibana. O assentado vendia seus produtos na Cecaf e agora está oferecendo inhame, cará, macaxeira, acerola, banana e abacaxi pelo site.

“Eu estava achando muito difícil porque estava plantando e achava que não teria para onde escoar meus produtos. O site veio pra ajudar e, graças a Deus, estou vendendo bastante. E pretendo continuar, mesmo quando a Cecaf abrir, a fazer essas vendas on-line. É uma oportunidade, algo diferente, inovador. Meu telefone não para”, disse João.

Vendas on-line superam presenciais

O agricultor assentado e técnico em agroindústria Sílvio Carlos da Silva Fideles, dono da Polpa de Fruta Nova Vida, do assentamento Nova Vida, em Pitimbu, na Região Metropolitana de João Pessoa, contou que, no início do isolamento social, sua família não sabia como comercializaria as polpas que fabricam porque a Cecaf e outros locais onde eram vendidas estão com o funcionamento suspenso.

“Eu estava meio perdido, naquela ansiedade. De repente, abriu-se essa janela: a entrega. Depois que a prefeitura colocou em seu portal o link para o site, as vendas bombaram. Foi o divisor de águas que a gente precisava para sair dessa pandemia sem tanto estrago”, afirmou Fideles, acrescentando que os próprios clientes fazem a propaganda das polpas, produzidas sem conservantes, nem qualquer outro produto químico. A agroindústria já está vendendo mais por meio de entrega do que antes da pandemia, de forma presencial, de acordo com o assentado.

Apesar de pertencer a apenas uma família do assentamento, a agroindústria de polpas de frutas adquire e processa a produção de goiaba, cajá e umbú-cajá de outras famílias do Nova Vida e a produção de assentamentos vizinhos, a exemplo do Apasa, que fornece maracujá; do assentamento Camucim, que fornece mangaba; e dos assentamentos Sede Velha do Abiaí, Teixeirinha e Taquara, que fornecem cajá.

A produção da agroindústria chega a cerca de quatro toneladas de polpas por mês e varia de acordo com a sazonalidade das frutas. As polpas são envasadas em pacotes de 100 gramas ou de um quilo e são comercializadas em feiras que acontecem em João Pessoa, e também em bares, restaurantes e pousadas da capital paraibana e de municípios do Litoral Sul do estado.

Nota do Blog: Em tempos de crise o produtor rural tem que usar da criatividade, com a ajuda dos órgãos governamentais(é claro), que sempre não chega a tempo.

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