quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

A agricultura de precisão e as tecnologias digitais aumentaram a necessidade de a fazenda estar online. E a demanda por conectividade está levando operadoras de telecomunicações a olhar com mais atenção o agronegócio e adotar estratégias que incluem desde parcerias com empresas até a presença em feiras agropecuárias.
Executivos falam em metas ambiciosas. Prometem infraestruturas seguras e confiáveis para o tráfego de informações, aumentando a eficiência e a produtividade no campo. E pacotes que incluem ferramentas como armazenamento em nuvem, gerenciamento de dados, internet das coisas (IoT), entre outros serviços.
“O agronegócio é um setor estratégico. A Oi espera seguir crescendo no segmento de IoT a taxas aceleradas, tanto no provimento de conectividade como de soluções integradas de equipamentos, sistemas e serviços”, afirma Rodrigo Shimizu, diretor de marketing corporativo da empresa.


A Oi aposta em sistemas rodando na faixa de 450 MHz, que, em sua visão, permitem a cobertura de amplas áreas a um custo atrativo. Segundo Rodrigo, a companhia oferece a clientes de grande porte e diversas culturas projetos de implantação de redes privadas, adaptadas à demanda de cada um.

Antônio Cesar Santos, chefe de inovação e novos produtos B2B da Vivo 
“Tipicamente, encontramos um cliente que não tem nenhuma conectividade. Ao implantar uma rede, muitas vezes, ele precisa ajustar sistemas e, às vezes, até mesmo processos internos para capturar os benefícios da solução”, diz ele.
Na TIM, o projeto de levar o 4G para o campo começou em abril de 2018. Já neste ano, a operadora se aliou a empresas de tecnologia e de máquinas na iniciativa ConectarAGRO. A companhia opera na faixa de 700 MHz, oferecendo infraestrutura para conexão de dispositivos móveis e IoT.
A meta é levar cobertura a cerca de 5 milhões de hectares até o final do ano. “Um aumento de produtividade de 1% em uma safra de soja paga um investimento que fica por muitos anos”, explica o diretor de marketing do segmento corporativo Rafael Marquez, usando como referência uma média de 50 sacas por hectare e um investimento equivalente a até meia saca por hectare.
Ao menos por enquanto, a concorrência parece estar concentrada nos grandes produtores e empresas, com quem projetos e negócios têm sido anunciados. Mas os de menor porte também estão no radar das operadoras. Na TIM, por exemplo, o plano é se aproximar de entidades representativas do setor e cooperativas.
Operadoras de telecomunicações levam às fazendas soluções integradas de conectividade de equipamentos, sistemas e serviços 
A Vivo aposta no uso da rede 4G de 450 MHz no campo integrada a um portfólio de soluções digitais. A companhia tem formado o que chama de “ecossistema”, através de parcerias com fornecedores. Um investimento anunciado recentemente foi um aporte de cerca de R$ 500 mil em uma startup de telemetria para maquinário.
“Não é uma visão baseada na conectividade pela conectividade. Entregamos uma solução completa de forma simplificada”, explica Antônio Cesar Santos, chefe de inovação e novos produtos B2B da companhia. “O produtor pode contratar diretamente da Vivo tudo isso ou ir ao mercado e contratar como bem entender.”
Com proposta semelhante, a Claro fez uma parceria com uma startup que fornece, entre outros serviços, acompanhamento em tempo real de volumes de grãos em silos. O diretor de negócios IoT da Claro Brasil, Eduardo Polidoro, associa a expansão na zona rural à modernização da infraestrutura da operadora, iniciada em 2017. Além da conexão 4G, os novos equipamentos habilitam duas redes voltadas para a internet das coisas.
“À medida que amplio a estrutura para pessoas, habilito essas duas novas redes. O agronegócio é prioridade e, na área que gerencio, o que mais recebe investimentos. Atuamos na conectividade, como operadora, mas também oferecemos soluções desde instalação de sensores até plataforma em nuvem”, resume Eduardo.
Diretor de assuntos regulatórios do SindiTelebrasil, entidade que representa as operadoras, Sérgio Kern reforça que o agronegócio traz oportunidades para o setor, mas poderia ser ainda melhor se houvesse um ambiente mais atrativo. Os tributos e taxas, por exemplo, são altos e comprometem o retorno do investimento em IoT.
“O que temos discutido para considerar nesse tipo de aplicação, que será intensivamente usada na área rural, é uma tributação zero de Fistel. É a grande reivindicação das empresas para impulsionar a oferta”, diz ele, referindo-se ao Fundo de Fiscalização das Telecomunicações.

Os ministérios da Agricultura e da Ciência e Tecnologia anunciaram, em agosto, a criação da Câmara do Agro 4.0, para ampliar a conectividade no campo. A iniciativa é parte do Plano Nacional de Internet das Coisas, lançado em junho, que integra ainda o Ministério da Economia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a sociedade civil.

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