sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Maior abate de vacas deve ter impacto sobre a oferta de leite no país 
A valorização da carne bovina no final do ano passado deve gerar impactos na pecuária leiteira no primeiro trimestre de 2020. Diante dos baixos preços do leite e seus derivados, muitos produtores aproveitaram o aquecimento do mercado de corte para abater matrizes, o que deve reduzir a oferta de leite nos próximos meses.
“Também deve-se levar em conta que, dada a alta nos preços dos bezerros, é possível que produtores de leite invistam na criação destes animais e passem a destinar maior parte da produção de leite para a sua alimentação”, explica o Cepea, em seu boletim mensal.
Em Mato Grosso, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) destaca que, enquanto a arroba do boi gordo acumulava valorização de 34% em novembro do ano passado, o preço pago produtor de leite no mesmo período avançou apenas 4%.
“Com isso, parte dos produtores de leite está aproveitando o momento para descartar suas matrizes a fim de aproveitar os preços atrativos da pecuária de corte e obter receita extra. Isto é um sinal de alerta para a cadeia, visto que pode afetar a produção de leite no campo em 2020”, afirma a instituição.
Até mesmo as importações, que poderiam aliviar a oferta no país, diante da menor produção nacional, devem ficar comprometidas neste início de ano. Com o dólar valorizado, o Cepea destaca que as importações de leite em pó estão desestimuladas. Em novembro, elas somaram 11,23 mil toneladas, queda de 38,4% ante igual período do ano passado.
“Embora seja delicado projetar o potencial de oferta de uma atividade que se ajusta diariamente, como no caso do leite, 2020 pode continuar a ser um ano difícil para a recuperação da produção”, observa o Cepea ao ressaltar que, neste início de ano, a indústria tem enfrentado maiores dificuldades para abastecer seus estoques, o que tem impulsionado os preços da matéria prima (leite cru).
No Rio Grande do Sul, principal Estado produtor do país, a pecuária leiteira enfrenta ainda as dificuldades climáticas. O tempo quente e seco tem comprometido pastagens e provocado estresse calórico no rebanho local em plena entressafra. Além disso, os impactos nas lavouras de milho devem reduzir a oferta do grão para alimentação animal a partir de março.

Já a demanda, por outro lado, deve apresentar crescimento este ano caso se confirmem as previsões de recuperação da economia. "Como o consumo de lácteos está diretamente ligado ao aumento da renda, o crescimento econômico pode melhorar as margens da indústria (espremidas em 2019) e permitir que os preços ao produtor se mantenham em patamares elevados, mas mais alinhados ao padrão sazonal", explica o Cepea.

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