Tecnologia de baixo custo e parceria para retirar famílias da miséria no Semiárido
Sede de município onde sequer há torneira muito menos água, agricultor sem terra alguma que, como se nômade fosse, andasse errante por sua região plantando roça de milho, feijão, mandioca, e colhendo quase nada. “É muito triste”, diz o engenheiro agrônomo Edivar Veloso a respeito da dura realidade que vai precisar enfrentar para livrar da miséria milhares de brasileiros que vivem no Semiárido nordestino.
Edivar trabalha em uma empresa contratada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para prestar serviços de assistência técnica e extensão rural a cerca de 1840 famílias que moram em algum dos 38 municípios que formam o Território da Cidadania Vale do Guaribas, no Piauí.
“Temos um desafio e tanto: o de implantar projetos produtivos em locais onde sequer há água para as pessoas beberem, o analfabetismo às vezes alcança mais de 40% da população, o IDH em muitos municípios é menor que 0,60 e parte das famílias sequer está inscrita no Bolsa Família”, diz.
Oficina – No primeiro dia de março, Edivar e outros colegas que coordenam equipes de assistência técnica e extensão rural (Ater) das empresas estatais e organizações não governamentais que atendem ao Programa Brasil Sem Miséria, estiveram reunidos com dirigentes da Embrapa e representantes dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) para definir estratégias para assegurar às famílias com nível extremo de pobreza oportunidades agrícolas para produzir alimentos.
A convite da Embrapa, cerca de 45 profissionais dessas instituições participaram da I Oficina Nacional de Planejamento de Ações para o Programa Brasil Sem Miséria 2012, realizada em Petrolina (PE). Como cada uma das instituições e ONGs atuará com projetos específicos, o evento serviu para estabelecer uma ação conjunta em 248 municípios de 14 Territórios da Cidadania nos estados do Nordeste e de Minas Gerais, e priorizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social. Nesta área serão atendidos mais de 22 mil agricultores.
Soluções - Waldyr Stumpf Junior, Diretor-Executivo de Transferência de Tecnologia da Embrapa, ressalta que a empresa de pesquisa precisa da capilaridade que possue as instituições de assistência técnica para fazer chegar aos agricultores e suas organizações os conhecimentos e tecnologias que produz.
“A atuação em parceria, como está previsto no Programa Brasil Sem Miséria e que a I Oficina ajudou a planejar, vai encontrar alternativas de soluções para as expectativas das famílias que estão no meio rural e precisam de nossa ajuda”.
A Embrapa tem elaborado um projeto no valor de 11 milhões de reais que prevê atividades dos seus pesquisadores e técnicos em todos os 14 territórios. Com base em informações sistematizadas acerca da realidade social, agrícola e econômica dos municípios, no tipo de público atendido pelo Programa e na competência técnica dos parceiros, o projeto adquiriu um formato bastante flexível.
A Embrapa definiu como básico a instalação de Unidades de Referência Tecnológica (URTs) onde ficarão demonstradas tecnologias adequadas à realidade dos agricultores atendidos pelo Programa. Assim, essas Unidades poderão ser constituídas com cisternas para captação de água de chuva para uso humano e produção de alimentos, fossa séptica, quintais orgânicos (frutas, hortaliças, grãos, mandioca), compostagem, insumos alternativos, recuperação de áreas degradadas, manejo sustentável da caatinga e criação de pequenos animais (galinhas, suínos, caprinos e ovinos)., Além disso, são previstos recursos para edição de vídeo-aulas sobre tecnologias, pequenos programas de divulgação das tecnologias na TV, distribuição de minibibliotecas em escolas rurais, produção de programas de rádio Prosa Rural e capacitação de radialistas e comunicadores.
Local – Contudo, as tecnologias a serem instaladas nas URTs e o conteúdo dos materiais de informação técnica e pedagógica vão ser finalmente definidos em reunião que pesquisadores, técnicos da ATER e representantes do MDA e MDS farão nos territórios com os diversos parceiros envolvidos no projeto.
Para Natoniel Franklin de Melo, Chefe Geral da Embrapa Semiárido, as opiniões convergentes obtidas durante a I Oficina Nacional de Planejamento de Ações para o Programa Brasil Sem Miséria 2012 revelam o entusiasmo e disposição dos profissionais e de suas instituições para superar esse sério problema do Brasil.
Participaram da Oficina chefes Gerais e Adjuntos, além de pesquisadores e analistas de onze Unidades da Embrapa (Semiárido, Caprinos e Ovinos, Gado de Leite, Cerrados, Informação Tecnológica, Tabuleiros Costeiros, Mandioca e Fruticultura, Agroindústria Tropical, Cocais, Meio Norte, Suínos e Aves).
Também tomaram parte da Oficina representantes dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária da Bahia e Pernambuco. E ainda extensionistas rurais vinculados a ONGs: Centro de Desenvolvimento de Tecnologia (Cedet), Consulplan, Emplanta Projetos Agropecuários, Cooteba, Movimento Minha Terra, CODESAOP, Chapada, Caatinga.
Sem miséria – O público do Plano Brasil Sem Miséria é o cidadão cuja renda familiar mensal atinge até R$ 70 por pessoa. Nesta situação estão 16,2 milhões de brasileiros, segundo o censo do IBGE de 2010, e 76% desse universo de pessoas vive nas regiões Norte e Nordeste. Nas áreas rurais, a atuação do Governo Federal será marcada pela inclusão produtiva, que terá como base a assistência técnica, a disponibilização de sementes de qualidade e adaptadas às condições dos territórios e do fomento de R$ 2,4 mil para a estruturação produtiva – valor não-reembolsável, dividido em três parcelas.
Até 2014, a meta é atender 250 mil famílias com um acompanhamento contínuo por meio de visitas à Unidade Produtiva Familiar e de atividades coletivas (reuniões e cursos).
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