quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Feira na Alemanha reúne maior número de raças de cavalo do mundo

A cada dois anos, o mundo do cavalo se encontra na Alemanha.
Equitana é uma feira que reúne mais de 40 raças de 30 países diferentes.

Do Globo Rural
Quase nada pelas ruas de Essen, na Alemanha, faz lembrar que na cidade acontece um grande encontro de raças. No fim de inverno, com temperaturas entre três e oito graus, tudo se passa na área interna dos prédios, em um tipo de organização que Essen compartilha com outras cidades do oeste alemão.
Junto com Frankfurt, Hannover e Dusseldorf, Essen se especializou na realização de feiras e exposições. A cidade conta com uma estrutura imensa, com vários pavimentos e quatro entradas. Todos os dias, cerca de 30 a 40 mil pessoas visitam a feira na qual participam mais de mil cavalos. Pela diversidade de raças e variedade de países, a Equitana é considerada a maior feira eqüestre do mundo.
Em cada um dos 17 pavilhões do parque de exposições tem um cercado, um picadeiro, onde uma raça perfila de 15 em 15 minutos. Há também uma grande arena para exibições mais elaboradas, onde ocorrem dezenas de apresentações simultâneas como, por exemplo, do cavalo inglês, usado na caça à raposa; do tenessee walking, o marchador dos Estados Unidos; do garboso andaluz, a pura raça espanhola; e dos representantes das linhagens germânicas de hoje, cujos ancestrais participavam de competições esportivas na antiguidade, como a corrida de quadriga romana, carro puxado por quatro cavalos emparelhados. As inúmeras e sucessivas exibições são como shows especiais de cada uma das 40 raças que participaram da Equitana em 2011.
A maioria dos visitantes bate perna pela feira pra conhecer as novidades. Uma delas é a prateleira forrada de ervas, igual a uma loja de produtos naturais. A vendedora Julia Aats explica que uma das ervas é para desarranjo intestinal; outra serve para problemas respiratórios e há outra indicada para problemas de estômago. Mas nenhum serve para ser humano. São todas ervas para o preparo de chá para cavalos.
“Na verdade, é uma mistura. São várias ervas, sobressaindo a camomila. Você põe a erva numa vasilha, vem com água quente, espera um pouco e depois mistura sobre a ração. O cavalo é muito sensível e sempre reage bem a esses tratamentos”, explica Julia.
Nas prateleiras de outra estante ficam essências naturais, conhecidas como “florais de bach”. São tinturas que um médico inglês inventou para auxiliar no tratamento das emoções negativas. Sandra Müller, que tem uma tropa de 30 animais, levou toda coleção de tinturas destinada ao equilíbrio dos sentimentos ruins e também um pote de cogumelos comestíveis chamado “calmmatrix”.
“No produto tem antioxidantes, aminoácidos e vitaminas, ingredientes que atuam no sistema imunológico. Meus clientes vêm usando com sucesso em cavalos destemperados. Em duas semanas, voltam a montar, felizes”, diz o inventor e fabricante Christian Ehrenberg.
O veterinário brasileiro Aluízio Marins, que tem especialização nos Estados Unidos e Europa, dirige a universidade do cavalo no Brasil e não perde uma Equitana. “Uma das coisas que a gente vê bastante é a ausência dos medicamentos injetáveis e o aumento dos produtos naturais”, diz.
A tendência é a de o cavalo ser tratado mais como um parceiro, um companheiro, a quem são oferecidos petiscos, biscoitinhos vistosos nos sabores de banana, mirtilo, eucalipto, baunilha e abacaxi. A parte de rações, propriamente, é variadíssima. Tem por raça, por esporte, por serviço, por idade e até para cavalo aposentado e sem dente.
A seção para treinamento traz alternativas interessantes para quem não pode sair com o cavalo. O rodador exercita vários animais ao mesmo tempo em velocidades variadas. A esteira foi desenvolvida para o animal ganhar musculatura, ganhar força e melhorar a função cardíaca. Alguns modelos apresentam a opção do compartimento blindado para ser preenchido com água. Em uma esteira com piscina, dá para duplicar a eficiência do esforço.
A limpeza é uma questão séria para quem mantém a tropa em baia, como na maioria dos casos na Europa. A cama, a camada de palha, serragem ou material sintético que forra o chão, é caríssima. A tratadora Sáskia Cózman tem que tirar a sujeira de 30 baias todo dia. “O movimento de balançar o ancinho para separar o estrume do cavalo da cama sobrecarrega a musculatura. Depois de duas horas fazendo essa tarefa, dá muita dor no braço. Tive uma lesão séria no cotovelo”, diz Sáskia.
O engenheiro aposentado Klaus Schwécker bolou uma máquina separadora de estrume. Tem uma peneira que vibra deixando cair a preciosa cama. Ele diz que o barulho não atrapalha o cavalo e que o consumo de energia é o mesmo de uma lâmpada. O equipamento custa seis mil reais.
Qual a diferença entre o público ligado ao cavalo no Brasil e o da Europa? A pergunta foi feita ao juiz de provas e professor Paulo Roberto Ribeiro e à veterinária e professora de equitação Cláudia Lechonski, dois especialistas brasileiros que foram visitar a Equitana.
“As pessoas enxergam o cuidar do próprio cavalo como parte integrante de se ter um cavalo”, responde Cláudia.
“No Brasil, nós temos uma cadeia bem diferente. Nós temos o criador de cavalo, o treinador, o tratador e o usuário. A cadeia na Europa tem um número enorme de usuários”, completa Ribeiro.
Na Europa, os usuários formam uma imensa legião. Só a federação equestre alemã conta com quase dois milhões de cavaleiros registrados. É um mercado vigoroso. A Equitana fatura um bilhão de reais com a venda de roupas, medicamentos, ração e tralhas de montaria.

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