quarta-feira, 15 de junho de 2022

Já é possível criar camarão de água salgada sem usar a água do mar e em ambiente longe do litoral

   

Natural da água salgada, essa espécie é geralmente cultivada em fazendas próximas à costa marinha. O avanço para o produtores é que a pesquisa científica definiu as doses ideais mínimas de minerais na água, como cálcio, magnésio e potássio, e um modelo simplificado para que o vannamei possa ser criado sem a necessidade de se usar a água do mar. A Embrapa Meio-Norte (PI) definiu a composição da água necessária para a criação de camarão-branco-do-pacífico (Litopenaeus vannamei), permitindo a reprodução dele em ambiente longe do litoral.

O modelo desenvolvido é para a fase de berçário em sistema simbiótico (o qual permite desenvolvimento de alimentos naturais importantes para o desenvolvimento das pós-larvas), em cativeiro, em pequenas propriedades. Esse sistema é o mais usado no mundo na produção desse crustáceo pois melhora a digestibilidade e absorção dos alimentos pelos animais e estabiliza a qualidade da água.

Entre os resultados da pesquisa está a definição das concentrações por litro de água: salinidade: 2,3%, cálcio: 38 miligramas, magnésio: 96 miligramas, potássio: 48,3 miligramas, e 490,13 miligramas de dureza total (concentração de cálcio e magnésio solúveis na água). A alcalinidade total foi estabelecida em 92,33 miligramas de carbonato de cálcio por litro.

Os trabalhos foram desenvolvidos pelo engenheiro de pesca e analista da Embrapa Meio-Norte Valdemir Queiroz de Oliveira, em sua pesquisa de mestrado na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP), no Recife. O estudo foi orientado pelos professores da universidade Alfredo Oliveira Gálvez e Luis Otávio Brito e pela pesquisadora da Embrapa Alitiene Moura Pereira.

Para chegar à conclusão do trabalho, cujos resultados parciais foram apresentados no IX Congresso Brasileiro de Aquicultura e Biologia Aquática (AquaCiência 2021); e na XVII Feira Nacional do Camarão (Fenacam 2021), Oliveira usou também o farelo de arroz fermentado.

No experimento, em laboratório, ele aplicou para cada metro cúbico de água 20 gramas de farelo de arroz peneirado, 2 gramas de açúcar demerara, 0,5 grama de probiótico (mix de bactérias: Bacillus subtilis, B. lor metro cúbicoicheniformis e B. sp.), 0,25 grama de fermento e 4 gramas de bicarbonato de sódio. A água empregada tem de ser esterelizada.

A mistura, segundo o engenheiro de pesca, foi submetida à fermentação (processo anaeróbico) durante 24 horas e depois à respiração microbiana (processo aeróbico), por mais 24 horas. Depois foi aplicada na água de cultivo com um intervalo de dois dias, totalizando sete aplicações (14 dias) antes do povoamento com as pós larvas. Após o povoamento, a aplicação permaneceu com um intervalo de três vezes por semana.

Ele explica por que o uso do farelo de arroz é importante na alimentação dos camarões. “O farelo é colonizado por bactérias que equilibram a relação entre bactérias heterotróficas e nitrificantes, permitindo a estabilização dos compostos nitrogenados (amônia e nitrito) em níveis que não prejudicaram o crescimento dos camarões. O farelo aumenta a quantidade de bactérias benéficas no trato digestórios dos camarões, o que melhora a absorção dos nutrientes e o Fator de Conversão Alimentar [quantidade de alimento que o animal come para transformar em um quilo do corpo do animal,” esclarece.

Os sistemas intensivos de camarão em berçários, como o simbiótico, apresentam várias vantagens ao produtor de acordo com Oliveira. “Eles precisam de pouca troca, maior controle e reutilização da água”, evitam com isso a perda de minerais e aumentando assim os ciclos produtivos na engorda. “O processo – diz Oliveira – garante boa aclimatação das pós-larvas às condições de cultivo, produzindo um camarão mais resistente e com maior crescimento compensatório, além de um melhor desempenho zootécnico”.

 

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