sábado, 13 de agosto de 2022

 

O fungo mais destrutivo das plantações de bananeiras pode se reproduzir em plantas de cobertura

   

A banana é uma das frutas mais produzidas e consumidas no mundo, com grande relevância social e econômica. Trata-se de um alimento básico e importante para a segurança alimentar. Em 2019, a produção mundial de bananas atingiu cerca de 115 milhões de toneladas. No Brasil, é a fruta mais consumida. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017/2018, o brasileiro consome em média 25 quilos de banana per capita/ano.

Agora uma pesquisa desenvolvida na região do Vale do Ribeira, SP, identificou três espécies de plantas de cobertura que atuam como potenciais hospedeiras do fungo Fusarium oxysporum f. sp. Cubense (Foc), causador da fusariose da bananeira, também conhecida como mal-do-Panamá, doença mais destrutiva dessa cultura no mundo. Das seis espécies avaliadas, crotalária, nabo forrageiro e feijão de porco foram apontadas como potenciais hospedeiras do patógeno. A descoberta pode contribuir para otimizar as estratégias de manejo de bananais afetados pela fusariose, além de ajudar a conter a disseminação do patógeno nas plantações.

O estudo foi tema da dissertação de mestrado de Maria Laura Nascimento, defendida na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e desenvolvida nos laboratórios e áreas experimentais da Embrapa Meio Ambiente. Os resultados trazem uma nova vertente científica para controlar o avanço da doença. “O manejo atual não considera a existência de hospedeiros alternativos. É mais direcionado para a própria cultura e o solo, ou a área em si, como a destruição de plantas doentes, desinfestação de ferramentas, controle do tráfego de máquinas, pessoas e animais na área, e manejo do solo”, explica Nascimento.

A utilização de plantas de cobertura é uma prática comum no controle de ervas daninhas, pragas e doenças. As espécies que atuam como hospedeiras, ao serem infectadas pelo Foc, podem servir como fonte de crescimento do fungo e favorecer a ocorrência da doença no campo. No estudo, colônias de Fusarium foram isoladas em raízes e parte aérea de ervas daninhas, coletadas próximas a bananeiras afetadas pela fusariose, para verificar o potencial delas como hospedeiras alternativas. Hoje, pouco se sabe sobre a atuação dessas plantas como uma possível fonte de dispersão e persistência da doença no campo.

A pesquisa aponta que a escolha adequada de plantas de cobertura em áreas infestadas é relevante e deve levar em consideração a sua capacidade como hospedeiras de Foc, de forma a não contribuir para o aumento de estruturas reprodutivas desse fungo no campo. O trabalho avaliou também o potencial da broca-da-bananeira (Cosmopolites sordidus), como vetor da doença. Ao analisar a dinâmica da interação entre a broca-da-bananeira e o fungo causador da fusariose em casa-de-vegetação, foi observada maior intensidade da doença em plantas infestadas com o fungo e com a presença dos insetos.

O pesquisador Miguel Dita, da Alliance of Bioversity International and the International Center for Tropical Agriculture (CIAT), explica que a habilidade do Foc para sobreviver no interior de outras espécies de plantas sem causar a doença já foi constatada, mas é preciso colocar essas informações no contexto do manejo em campo, como, por exemplo, no uso de plantas de cobertura. O pesquisador ressalta que essas pesquisas são importantes porque, além de ajudarem no manejo da fusariose da bananeira, que já ocorre no País, preparam o Brasil para a eventual chegada da raça 4 tropical, uma variante do fungo ainda mais destrutiva, que ainda não ocorre no território nacional.

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