quinta-feira, 30 de maio de 2019

Cultivo de pimentão pode ter custos reduzidos se o produtor usar a prática de Produção integrada

Pimentões vermelho e amareloO pimentão está entre as quatro hortaliças mais sensíveis a pragas e doenças, com o agravante de existirem poucos produtos químicos registrados especificamente para a cultura. As consequências dessas duas questões se refletiram nos relatórios do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa, divulgados a partir de 2010. Os resultados apresentaram amostras de pimentão com altos índices de contaminação em virtude do uso de produtos químicos não registrados para a cultura e com limites de resíduos acima dos permitidos pela legislação.
Esses resultados impulsionaram a demanda do ministério para que fosse elaborada a PIP, no início de 2013, com a assinatura do Termo de Execução Descentralizado (TED) entre o ministério e a Embrapa Hortaliças. Com a missão de estabelecer as boas práticas para essa cultura – que em 2017 ocupava uma área de 11.188 hectares em todo o Brasil e com produção de 555 mil toneladas -, pesquisadores da Embrapa Hortaliças (DF), com o apoio de técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) e de agricultores, identificaram os principais problemas enfrentados pelos produtores do Núcleo Rural de Taquara – maior produtor de pimentão do Distrito Federal.
Os dados coletados em visitas e reuniões subsidiaram a elaboração de um conjunto de boas práticas agrícolas para a PIP, que estão contempladas em 12 publicações e relacionadas no documento “Normas Técnicas e Documentos de Acompanhamento da Produção Integrada do Pimentão”, editado pela Embrapa Hortaliças. As diretrizes sobre o processo de adoção da produção integrada do pimentão também constam na publicação.
O monitoramento de pragas e doenças durante o manejo da cultura do pimentão é capaz de reduzir em torno de 30% a aplicação de produtos químicos na lavoura. A constatação é do entomologista Jorge Anderson Guimarães, responsável pelas pesquisas relacionadas à produção integrada na Embrapa Hortaliças (DF). A prática é um dos procedimentos recomendados pela produção integrada do pimentão (PIP), e proporcionou a economia ao ser associada a outras medidas como o controle biológico de pragas.
“Além de diminuir os custos com o uso dos insumos, essas práticas atendem a outra preocupação desse sistema de cultivo: assegurar a saúde do produtor”, explica o pesquisador, acrescentando que o agricultor geralmente opta pela aplicação pré-definida de produtos químicos, conhecida como “calendários de aplicação”. De acordo com Guimarães, essa prática, que não se resume ao pimentão, tem como consequência o uso desnecessário de produtos químicos, algumas vezes não registrados para a cultura.
“Basicamente, esses dois procedimentos que vieram à tona nos relatórios do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) podem ser corrigidos com a adoção da produção integrada, uma vez que ela disciplina o uso de produtos químicos, restringindo a utilização àqueles recomendados e registrados”, explica o pesquisador.
Frutos padronizados, sadios e com garantia de procedência e certificação. O passo a passo para que o pimentão de alta qualidade seja regra e não exceção no mercado brasileiro está contemplado na Instrução Normativa nº 40 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – Norma Técnica Específica (NTE), que regulamenta a Produção Integrada do Pimentão (PIP), publicada no segundo semestre do ano passado.
No último relatório do PARA, referente ao período 2013/2015, foram analisadas em todo território nacional 243 amostras de pimentão, sendo que 214 delas apresentavam resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura. Dessas, 21 foram consideradas insatisfatórias exclusivamente por conter resíduos não autorizados, mesmo em concentrações inferiores a 0,001 mg/kg.
A gerente de Monitoramento e Avaliação do Risco da Gerência-Geral de Toxicologia da Anvisa, Adriana Pottier, reforça que alimentos resultantes de cadeias produtivas mais organizadas têm apresentado melhores resultados nos relatórios do PARA.
Adriana lembra que quando foram realizados os primeiros relatórios existiam poucos agrotóxicos registrados para a cultura, ressaltando que os índices são relacionados a parâmetros agronômicos. Ela reforça que a Anvisa recomenda ao consumidor escolher alimentos da estação e que apresentem informações de origem. Outra orientação é redobrar os cuidados com a higienização dos produtos em casa.

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