sábado, 25 de dezembro de 2010

Publicado pela Revista O Berro

MOMENTO DAS DECISÕES

- 14/12/2010

u Mudou o Governo - Sai Lula que teve a coragem de enfrentar o próprio partido, mantendo as vitórias do governo anterior e promovendo uma vigorosa tentativa de distribuição de renda, iniciativas que deixarão seu nome na História.
O novo Governo terá coragem de emplacar maior solidez aos avanços de Lula? Terá coragem de colocar na Constituição um programa de distribuição de renda, como já acontece em outros países? Terá coragem de garantir uma política ruralista voltada para aqueles que já estão na terra há tantas décadas, sofrendo duras penas, pagando impostos e, agora, estão sendo assaltados por políticas esdrúxulas, desconexas, incrementadas por invasões de terra praticadas por pessoas treinadas em terrorismo de Terceiro Mundo? Será que vai dar prioridade para as esperanças dos que lutam por dignidade nos valores do suor do legítimo produtor rural?
O que significa “dignidade” para o Homem do Campo? Significa apenas uma coisa: garantir o escoamento a preço justo de seus produtos. Exemplo de produtos: o leite das cabras, a carne dos cordeiros, frutas, legumes, raízes e etc  - tudo produto de pequenas e médias propriedades.
O Governo Lula fez bastante, mas não teve tempo suficiente para garantir a “dignidade” aos que já estão no campo, com palavras escritas na Constituição, ou consolidadas por Leis duradouras. De nada adianta exibir Planos, Projetos, Pacotes, se podem cair a qualquer momento.

u Cabras e ovelhas - O suor do Homem do Campo permanece, dia após dia, garantindo milhões de empregos. O colapso no campo é uma ameaça permanente para as cidades e para a própria democracia. Qualquer tentativa de desmerecer o esforço do produtor rural é um assalto à democracia! Por isso é muito estranho que se mantenha, há séculos, o homem do campo como um pária da sociedade.
Um exemplo específico é das cabras e ovelhas que representam um grande papel no Brasil e deveriam ser mais divulgadas pelas lideranças políticas. O rebanho atual, da ordem de 35 milhões de cabeças, poderia evoluir para mais de 100 milhões, com um simples estímulo governamental, gerando mais alguns milhões de empregos! Então, por que não se faz? Em grande parte porque as entidades de classe ainda não conseguiram fazer com que seus projetos cheguem às mãos dos políticos e governantes certos. E, com certeza, não adianta esperar que estes Projetos venham de cima, dos governantes! O Nordeste já pagou por séculos por esta vã esperança de esperar algo dos políticos. Eles, os políticos, atenderão - sempre - as classes que têm projetos escritos e viáveis, já prontinhos para encaminhar.

O que se percebe é que alguns empresários elaboram projetos de frigoríficos e conseguem financiamento para implantá-los. Então, não é sensato acusar as lideranças políticas, uma vez que elas apenas esperam bons projetos. As Associações precisam encontrar o caminho concreto: a elaboração e encaminhamento das necessidades dos pecuaristas bem como a resolução que se espera do Governo. Há milhares de produtores que - muitas vezes - não são associados, mas poderiam ser, desde que ela, a Associação, chegasse até eles.

u Melhoramento zootécnico - Neste tom, é interessante observar que algumas Associações discutem o melhoramento zootécnico, de forma acadêmica, mas não de forma institucional. Querem melhorar 200 ou 500 animais de alta elite, ao invés de se dedicar ao melhoramento de milhões de animais nos currais de produtores de leite, carne e pele. Mais vale um Controle Leiteiro Oficial, gratuito, dentro dos currais, do que um Teste de Progênie, de alto custo, destinado a promover uma centena de animais! O resultado final, inclusive, seria muito maior para a economia em geral! É preciso democratizar o melhoramento zootécnico e genético, ao invés de adotar “gargalos” onde só algumas pessoas ou grupos mais fortes poderiam passar.
Quando as Associações pensarem em produção de carne e leite, então a caprino-ovinocultura dará um salto de qualidade, imediatamente.
A cadeia produtiva vai sendo montada, aos trancos e barrancos, por alguns empresários abnegados, como se nota principalmente em São Paulo, onde os núcleos produtores estão mais próximos e visíveis. A revista O Berro está mostrando, nas últimas edições, exemplos de produtores de carne que anseiam pelo futuro, já. Arregaçaram as mangas, escolheram essa atividade, tentam descobrir caminhos tecnológicos, com ou sem apoio de Associações, e vão avançando, gerando exemplo para dezenas ou centenas de novos empresários. Estas pessoas valem ouro, são os visionários que estão construindo o futuro para todos.
É monumental o esforço de alguns empresários que insistem na produção de carne, com rebanho acima de 5.000 cabeças, no Rio Grande do Norte, Bahia, Goiás, São Paulo e Minas Gerais. Cada um deles já implantou dezenas de avanços tecnológicos descobertos por eles mesmos, a duras penas. Caberia a alguma entidade reunir e distribuir esses ensinamentos para o restante do país. Há verba institucional para isso, no Sebrae e outros órgãos, mas falta a Associação para solicitar. (Lembrete: Associação não é feita por um ou dois criadores. É preciso a participação construtiva de todos)
O que se nota é que aumenta a procissão dos que visitam os empresários produtores de carne que, às suas custas, promovem dias-de-campo, com palestras, discussões, etc. Ao mesmo tempo, diminui a procissão dos que visitam as exposições onde há, sempre, os mesmos disputadores de prêmios. Ora, é preciso abrir os olhos das Associações, para que elas voltem-se para os empresários produtores de carne e leite, sem menosprezar os elitistas que tentam provar o potencial máximo de seus animais e linhagens. São duas coisas distintas; duas pecuárias distintas: a expositiva e a produtiva. Ambas devem caminhar juntas, cimentadas pelo trabalho das Associações.

 

Se a decisão ficar nas mãos dos produtores, eles irão abandonando as exposições e demais gargalos (registro genealógico, leilões, testes zootécnicos, etc.), pois estarão aprendendo muito mais, na prática, nos dias-de-campo e visitações nas propriedades de legítimos produtores que cuidam do manejo e chegam até o escoamento final, exemplarmente. Levará tempo para que os produtores de carne, sertanejos, aprendam que os gargalos não são apenas “punidores”, representando custo para todos e benefício de alguns poucos. Por isto, as provas zootécnicas precisam ser objetivo de Projetos que visem o melhoramento imediato e progressivo, gratuitamente, dentro dos currais. Não é tarefa difícil, mas é preciso começar, por meio de alguma entidade.
O grande exemplo vem dos Estados Unidos, quando ninguém comia frango e um presidente exigiu um Programa para colocar “um frango por semana em cada panela”. Surgiram muitos programas e, hoje, o mundo inteiro, tem no frango uma barata fonte de proteína. É necessário fazer o mesmo pelas cabras e ovelhas, principalmente num grande país como o Brasil. É preciso tomar uma decisão a favor de milhares ou milhões de pequenas e médias propriedades que podem criar cabras e ovelhas, ao invés de tomar decisões fáceis que dão lucros a poucos criadores, mas dificilmente conseguem melhorar algo nos currais produtores de carne. É preciso desviar o foco da alta elite para o curral produtor de leite e carne, até e principalmente como medida de sustentação da própria pecuária da alta elite.
O momento é de tomar decisões sobre a melhor estratégia promocional para cada raça caprina e ovina, tendo em vista multiplicar o número de produtores. Isso significa adotar iniciativas de melhoramento que sejam de baixo ou de custo zero, que possam ser imediatamente implantadas dentro da maioria dos currais brasileiros. A palavra-chave, portanto, é “estratégia”, que deve ser estudada e implantada para cada raça.
O exemplo vem do gado Zebu: se não fosse o esforço de milhões de propriedades produzindo carne, no campo, pouco teria valor o brilhantismo das exposições. Pelo contrário, quando começou a disparada rumo à produção de carne, aumentou também o brilhantismo da alta elite, pois junto com o progresso dentro dos currais cresce a cultura pecuária, levando à procura de reprodutores cada vez mais provados nos testes zootécnicos. É preciso colocar o burro diante da carroça, rapidamente, no setor de caprinos e ovinos.

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