domingo, 12 de dezembro de 2010

Publicado na Revista O Berro

Quem vale mais: o Pré-Sal ou as ovelhas e cabras?

 

O Brasil descobriu um tesouro de trilhões, em forma de petróleo, longe do Nordeste. Será que essa fortuna será utilizada, de verdade, a favor do homem simples do Brasil? É difícil prever que sim, mas é fácil prever que não.
O Nordeste está em cima de petróleo, em várias regiões. Este petróleo, no entanto, pouco tem melhorado as condições dos sertanejos nordestinos.
O Nordeste está em cima de notáveis jazidas de minerais: mármores, granitos, etc. - mas, novamente, não se vê melhora do povo nordestino por conta disso.
O Nordeste tem uma fabulosa chance de turismo à beira-mar, mas os recursos não chegam ao sertão.
Várias tentativas foram feitas para alavancar o Nordeste: IOCS, DNOCS, SUDENE, etc., mas o ambiente de pobreza tem permanecido. No atual Governo Lula, até um programa de distribuição de "bolsas de dinheiro" foi ampliado, mas não se percebe um melhoramento no status-quo da região. As "bolsas" não enriqueceram a região. O atual Governo, diga-se de passagem, é o mais "sortudo" que já existiu na História: teve dinheiro, liderança, vento a favor, se não mudou a imagem brasileira é porque faltou o básico, como nos demais governos: faltou enxergar a realidade brasileira. Brasília é uma blindagem contra a realidade.
Por que será?
A explicação é uma só: nunca um Governo prestigiou o suor do homem que trabalha no chão. Isso porque nunca um Governo assumiu o chão em que pisa. O Brasil, em geral, continua sendo tratado como uma colônia que enriquece meia dúzia de pessoas que dominam os corredores de Brasília. O destino do dinheiro é decidido em Brasília, longe do chão brasileiro. É fácil verificar as fortunas feitas por parasitas governamentais atrelados aos governos.
É fácil explicar: se o Governo garantisse um bom preço para o leite; haveria um oceano de leite para o povo e também para exportar.
Se o governo garantisse o preço da carne; haveria tanta carne que o país seria considerado o celeiro do mundo.

 

Se o governo garantisse um baixo preço do petróleo; as indústrias poderiam se desenvolver, gerando milhões de empregos.
Se o Governo garantisse a renda para o homem-do-campo, o país seria a maior potência mundial.
Acontece que mais de 50% do dinheiro arrecadado pelo Governo desaparece e fica por isso mesmo, ou seja, não há recuperação. O povo, portanto, não tem entrado nas contas governamentais. O povo somente aparece quando se aproximam as eleições. E, lamentavelmente, é enganado, eleição após eleição!
Voltando ao Nordeste: qual a visível riqueza do chão sertanejo? A pecuária rústica, conforme ilustrado até na Bíblica, destacando-se as cabras e ovelhas, claro! Então por que nenhum Governo até hoje resolveu prestigiar a carne, o leite, a pele, etc. - garantindo um preço honesto e justo? Se assim o fizesse, milhões de propriedades teriam tranquilidade para produzir e dariam emprego a dezenas de milhões de pessoas. Seria uma felicidade enorme para a população sertaneja. Por que não faz? Ora, porque os caminhos da política não coincidem com o caminho da felicidade social. Muito pelo contrário, os governos querem uma população sofredora, dócil, manipulável, ignorante, semianalfabeta, pois ela é a garantia de voto fácil.
Assim, não importa qual partido político venha a ser eleito, se ele não tiver compromisso com o chão brasileiro! Esperar que algum governo venha a ter esse compromisso é pecar por excesso de otimismo.
O fato é que, na caatinga nordestina, mais valem a cabra e a ovelha do que o petróleo do Pré-Sal. O Governo, porém, com certeza, irá despejar bilhões no Pré-Sal (financiados pelo BNDES) e, de novo, deixará o chão brasileiro sem garantia de futuro. Jogará dinheiro no ralo que não terá longo futuro e deixará de investir no chão, onde o futuro será eterno. Para piorar, apresenta o Pré-Sal como se fosse a solução mágica para o país!
Já se passaram os “impérios” da cana, do ouro, do café, do cobre, da indústria, agora vive-se a era do petróleo, do biodiesel, etc. - tudo sem conseguir atrelar o dinheiro ao bem-estar do homem que produz. O governo adora varinhas mágicas, mas não tem escrúpulo quando resolve destruir uma legítima riqueza nacional. Por isso, os “impérios” nasceram, cresceram e morreram, sem melhorar a vida dos brasileiros.
O suor do brasileiro merecia ser prestigiado; suor do brasileiro sertanejo; que vive no campo; que não tem horário para trabalhar; que não tem regalias; que só é lembrado para ser punido com impostos e fiscalização da pesada e incompreensível burocracia. O pobre sertanejo só é mostrado como sofredor para compensar as amarguras do homem urbano!
O que falta é uma mudança de ótica para o Governo: falta enxergar o chão brasileiro, o homem que ali trabalha, tendo ao lado suas cabras e ovelhas.
Conclusão: se prestigiasse as cabras e ovelhas do Nordeste, o atual Governo já estaria dando um bom sinal de que, finalmente, o Brasil começa a ter "Governo brasileiro, de verdade". Estaria resolvendo um problema centenário, por meio do esforço da própria civilização que ali insiste em viver. Este exemplo poderia, depois, ser levado para o restante do país e, como resultado, o país logo se transformaria na maior potência do mundo.
Assim como o Brasil construiu, sozinho, o “império” da carne de gado, já vai construindo, também, os alicerces do “império” da carne ovina e caprina. Com ferramentas institucionais adequadas, o governo poderia gerar milhões de empregos no campo e consolidando mais essa formidável riqueza para a nação, que garante muito mais bem-estar para as pessoas do que o decantado Pré-Sal.

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