Plantio Direto: um avanço tecnológico incomparável
                    
                    Por:
                        Amélio Dall’Agnol
                    
Quem já era 
agricultor nos anos 70, dificilmente se esquecerá das visões chocantes 
das enxurradas que arrastavam ladeira abaixo a camada mais fértil da sua
 lavoura, abrindo voçorocas pelo caminho e assoreando rios, lagoas e 
reservatórios de hidrelétricas. Era prática corrente nessa época o 
agricultor iniciar as operações de preparo do solo para o plantio das 
culturas da temporada (soja e milho, principalmente) no final do inverno
 e início da primavera. O campo era lavrado e gradeado - uma ou duas 
vezes - deixando a camada superficial do solo pulverizada. Vinham as 
chuvas intensas de primavera e estimadas 20 toneladas/ha de solo 
superficial eram arrastadas para a parte mais baixa da lavoura. 
Perdia-se a camada mais fértil do solo. Uma lástima. 
No início da década de 1970, no entanto,
 alguns agricultores pioneiros do Paraná (Rolândia, Castro e Ponta 
Grossa) deram início ao estabelecimento de uma prática nova de fazer 
agricultura, a qual dispensava o uso do arado e da grade previamente ao 
plantio, cujas sementes era depositadas diretamente sobre a palhada da 
cultura anterior. Iniciava-se a prática do Sistema de Plantio Direto 
(SPD) no Brasil. A partir dessa iniciativa, transcorreram cerca de 20 
anos (início da década de 1990) até que o sistema se estabelecesse em 
definitivo como uma das ferramentas tecnológicas mais impactantes para o
 desenvolvimento agrícola brasileiro. O começo foi difícil, dada a falta
 de máquinas apropriadas para o cultivo direto e pelo alto custo dos 
herbicidas - glifosato, principalmente, muito utilizado na dessecação 
pre-plantio da lavoura. No início da década de 1990, no entanto, a 
vigência da patente do glifosato venceu e o preço caiu 
significativamente, estimulando o avanço na adoção do SPD.
O SPD tem enormes vantagens sobre o 
convencional. Além de reduzir significativamente a erosão da camada 
superficial do solo - a mais rica em nutrientes – ele possibilita 
antecipar o cultivo das lavouras da primavera/verão, principalmente a 2ª
 safra do milho e do algodão, mas, também, da 1ª safra da soja e do 
milho nas regiões onde se cultivam cereais de inverno. 
Outra vantagem do sistema, não menos 
importante, é o efeito da palhada deixada sobre o solo no controle de 
plantas daninhas, na redução do impacto das gotas de chuva sobre os 
agregados do solo e na redução da perda de umidade do solo coberto pela 
palhada, permitindo que estiagens moderadas sejam melhor suportadas 
pelas culturas. Mais de 100 milhões de hectares (Mha) são cultivados no 
SPD no mundo. EUA, Brasil, Argentina, Canadá, Austrália e Paraguai, pela
 ordem, são os países que mais o utilizam. No Brasil, o SPD é utilizado 
em mais de 32 Mha ou cerca de 50% da área cultivada do país. No estado 
do Paraná, seu uso alcança 90% da área cultivada.
Em países com invernos muito frios, o 
SPD é limitado pela necessidade de revolver-se o solo para aquece-lo e, 
assim, possibilitar a germinação das sementes na primavera.
Mas nem tudo são flores com o uso do 
SPD. É importante esclarecer que o sistema precisa vir acompanhado das 
boas práticas associadas ao sistema: não revolvimento do solo, rotação 
de culturas e formação de abundante palhada de cobertura. Muitos 
produtores afrouxaram as rédeas e estão mexendo no solo com o objetivo 
de descompactá-lo, calcareá-lo ou eliminar invasoras resistentes e, 
pior, estão reduzindo ou eliminando os terraços para facilitar a 
operação das máquinas, cada vez maiores. E pior, estão operando as 
máquinas no sentido da declividade do terreno, com o objetivo de 
facilitar as operações de tratos culturais: distribuição dos 
agrotóxicos, principalmente. Resultado: a erosão está voltando e o 
patrimônio e lucro do agricultor está escoando pelas voçorocas.
A rotação de culturas é uma exigência 
para um manejo correto do SPD. O cultivo do milho depois da soja, no 
mesmo ano agrícola ou em anos consecutivos, não é rotação, é sucessão. 
Mas, se bem essa prática não corresponda à rotação desejada, o cultivo 
da braquiária em consórcio com o milho safrinha ameniza a prática 
indesejada, de vez que ela incrementa a formação de abundante palhada 
que promove uma maior cobertura do solo, que retarda os efeitos de uma 
eventual escassez de chuvas. 
Segundo estudos da Embrapa, o consórcio 
milho/braquiária reduz em 50% o tempo necessário para que o solo acumule
 1% de matéria orgânica, em comparação com o milho safrinha sem 
braquiária. Dado o sistema radicular abundante da braquiária, ela ajuda 
na descompactação do solo e na infiltração da água das chuvas, além de 
incrementar o volume de palhada protetora sobre o solo. 
 
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