Ainda de acordo com Gomide, a soja é hoje a única cultura com escala e tecnologia de produção suficiente para o País “começar a pensar em atender à demanda”. No entanto, até mesmo essa oleaginosa tem disponibilidade limitada. O Brasil é hoje o maior exportador mundial do grão e, apenas para atender à produção de biodiesel, terá de reduzir à metade o volume entregue ao mercado internacional.
Outra possibilidade de matéria-prima é a cana-de-açúcar que, na opinião de Gomide, poderia ser utilizada a médio prazo. Atualmente, contudo, a produção da sacarídea não atende sequer à necessidade das usinas sucroalcooleiras.
O coordenador-geral de agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), João Abreu, apresentou dados e preocupações semelhantes às de Gomide. O pinhão-manso, a macaúba e o babaçu têm despertado a atenção do setor aéreo pelas características de seus óleos que os tornam favoráveis à produção do bioquerosene. No entanto, para essas espécies vegetais ainda não há sistemas de produção estabelecidos tampouco sementes e mudas certificadas. A Embrapa está investindo em pesquisas com essas e outras oleaginosas, mas a pesquisa, especialmente de lavouras perenes, leva tempo. “O processo de desenvolvimento na agricultura é mais lento”, destacou Abreu.
Apesar dos desafios, o representante do MAPA considerou que o mercado de biocombustíveis de aviação é uma grande oportunidade para o agroenergócio brasileiro. O País tem condições de solo e clima favoráveis, além de áreas disponíveis para expansão da produção de forma sustentável.
Para o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza Júnior, os investimentos em pesquisa serão fundamentais para permitir a inserção do Brasil nesse mercado e o abastecimento regular do mesmo. “Nós já vivemos uma crise de abastecimento de etanol, temos hoje o biodiesel bastante dependente da soja e estamos trazendo para esse contexto um terceiro biocombustível que terá uma demanda muito grande no médio e longo prazos. Então, é fundamental ter tecnologias para o aumento da produção das culturas atualmente disponíveis e de outras que estão surgindo”, opinou.
O apelo sustentável é o motivo principal apresentado pelas empresas para investir na substituição, ao menos parcial, dos combustíveis fósseis pelos biocombustíveis. A preocupação é atender ao compromisso assumido pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) de, até 2050, reduzir as emissões de carbono do setor à metade dos níveis de 2005. O engenheiro Marcelo Gonçalves, da Embraer, explicou que a aviação depende dos combustíveis líquidos, ao contrário da área automotiva que tem opções como o gás, a energia solar e a elétrica. Daí o foco das atenções estar voltado para o bioqueresene. A opinião foi reforçada pelo vice-presidente da Boeing Pesquisa e Tecnologia do Brasil, Al Bryant. “Carro e caminhão não precisam de combustíveis líquidos; os aviões precisam”, resumiu.
Gonçalves enfatizou a importância de os biocombustíveis a serem desenvolvidos para o setor aéreo serem drop in, ou seja, serem tão semelhantes ao produto fóssil que não requeiram mudanças nas aeronvaes ou nas estruturas de abastecimento. Segundo o engenheiro da Embraer, há cerca de 24 mil aeronaves operando em todo o mundo e substituí-los ou adaptá-los seria inviável.
O Simpósio Nacional de Biocombustíveis de Aviação conta com o apoio do MAPA, do Conselho Naciona de Desenvovimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), além do patrocínio das empresas Boeing, da Intecnial e da Pensalab.
Nenhum comentário:
Postar um comentário