sábado, 16 de março de 2013

Produzindo animais de qualidade para o abate


Cada vez mais os confinamentos vão se tornando a maneira mais eficaz de garantir o rendimento na atividade.

O mercado da carne ovina está crescendo a passos largos, em função da grande aceitação deste produto pela sociedade brasileira, notadamente na região Nordeste. Isto reflete o surgimento de vários pontos e restaurantes especializados, principalmente nos grandes centros urbanos. Aparecem as construções e a implantação de abatedouros (frigoríficos e curtumes), paralelamente, específicos em carnes, vísceras e peles de ovinos, caracterizando como uma forte sinalização de estímulo e garantia para o desenvolvimento do setor produtivo.
A agroindústria da carne e da pele de ovinos vem operando com elevada capacidade ociosa, em função da baixa oferta para abate. Grande fatia do mercado nordestino está sendo atendida pelos Estados do sul do País e por alguns países do Mercosul, como a Argentina e o Uruguai. Ainda há uma demanda, apesar disso, insatisfeita, superior a 70%, que assegura a comercialização no mercado regional, mesmo que em curto prazo a produção venha a dobrar.
Os curtumes, a exemplo da agroindústria de carne ovina, também, operam com grande ociosidade, não ultrapassando os 50% de sua capacidade instalada. É lamentável! As peles que chegam deixam muito a desejar quanto à qualidade e serventia o que consequentemente resulta em alto percentual de peles com defeitos.


 

O confinamento pode ser feito de muitas maneiras, adequando-se a regiões e situações.


Há necessidade, assim, de práticas alternativas que permitam ao produtor ofertar cordeiros para o abate capazes de atender às necessidades do mercado da carne e da pele, tanto em termos quantitativos como qualitativos. A Embrapa, para isso, desenvolveu a tecnologia de “Terminação de cordeiros em confinamento”, com o objetivo de tornar os produtos mais competitivos no mercado através da sua qualidade e regularidade de oferta ao longo do ano. É uma atividade que consiste na seleção e no confinamento de ovinos jovens, machos ou fêmeas, para serem preparados para o abate em curto espaço de tempo.
Esta prática pode ser utilizada em todas as regiões, no entanto é mais recomendada para as áreas semiáridas do Nordeste, onde se observa grande carência de forragem nas pastagens, notadamente em épocas e períodos secos.

A decisão de terminar cordeiros em confinamento

Qualquer investimento, em produção animal, deve estar atrelado às vantagens econômicas. Além das oportunidades de mercado, a decisão de confinar ovinos está relacionada às condições climáticas. Em regiões onde a precipitação é elevada (acima de 1.000 mm), a sobrevivência de animais jovens poderá estar seriamente afetada pela verminose, mesmo que os animais venham a receber tratamentos anti-helmínticos, periodicamente, conforme se pode observar na Tabela 1.
Quando o período de estiagem é muito prolongado, assim como o Semiárido nordestino, tanto a disponibilidade quanto a qualidade da forragem, nas pastagens, ficam seriamente afetadas.
O confinamento é utilizado, em ambas as condições, com a finalidade de produzir carcaças de elevada qualidade, mesmo durante as épocas desfavoráveis.


 


Vantagens da terminação de cordeiros em confinamento

A terminação de ovinos jovens permite a produção de animais prontos para o abate em época de carência alimentar nas pastagens. Isto tem causado boas expectativas no âmbito do setor produtivo, decorrente da existência de poucas alternativas para a produção animal, na Região Nordeste, especialmente nos períodos secos do ano. Outras razões justificam a implantação da prática de terminações:
1) Reduz a idade de abate de 10 meses para 5 a 6 meses.
2) Disponibiliza a forragem das pastagens, que já é escassa, para as demais categorias de animal do rebanho.
3) Agiliza o retorno do capital.
4) Permite a produção de carne de boa qualidade, na época seca ou na entre-safra.
5) Resulta na produção de peles de primeira categoria, auferindo uma receita indireta ao processo de terminação de cordeiros.
6) Garantia de mercado para os produtos carne e pele.

Idade e peso ao início do confinamento

A idade e o peso do animal são importantes para o início do confinamento, porém a conjugação de ambos é a condição ideal para o sucesso. O peso inicial deverá obedecer a um mínimo de 15,0 kg de peso vivo para que o confinamento seja economicamente viável, enquanto a idade pode variar de 75 a 90 dias. A variação de idade está relacionada à raça ou do tipo racial utilizado.
O ganho muscular do cordeiro ocorre, principalmente, até a puberdade, que ocorre de 150 a 180 dias. Inicia-se a deposição de gordura. Os cordeiros devem entrar no confinamento aos 90 dias de idade no máximo, evitando-se, com isso, um maior acúmulo de gordura na carne.

Idade de abate

A suculência, a maciez, a cor, o cheiro e o sabor da carne são atributos que estão diretamente relacionados à satisfação.
A idade do abate e a condição de ser inteiro, ou castrado são os principais fatores que influenciam estes atributos. Cordeiros preparados e abatidos entre os 150 e 180 dias de idade guardam ainda em sua carne todas as características organolépticas e sensoriais desejáveis numa carne de qualidade. Todavia, há uma redução acentuada e gradativa da suculência e da maciez da carne com o aumento da idade do animal ao abate e isso torna sua cor mais avermelhada. A consequência é queda marcante da qualidade.
Surge um odor e um sabor característicos na carne, após a puberdade do animal (somente nos machos). Isso consequentemente pode provocar rejeição do consumidor.
É um fato que deve ser evitado a todo custo, pois desagrada de maneira acintosa ao consumidor e põe em dúvida as reais qualidades da carne: sabor exótico e agradável, maciez e particular aroma. Estes formam o “ponto alto” da carne ovina.

Duração do confinamento x Peso e Idade ao abate

O tempo de confinamento é um fator de grande influência no custo final do produto. Quanto maior for o tempo de confinamento, maior será o custo de produção e menor será a rentabilidade.
Os resultados apresentados na Tabela 2 indicam que o maior retorno econômico da terminação de cordeiros ocorreu com 63 dias de confinamento, quando eles apresentavam peso corporal em torno de 28 kg.
O menor peso ao abate (28 kg) observado foi o de maior rendimento líquido (R$ 13,40), enquanto o de maior peso ao abate (40 kg) não obteve rendimento registrando renda líquida negativa a cada animal (R$ -2,08). Isto chama a atenção para a necessidade de buscar a otimizacão da relação entre idade, tempo de confinamento e peso do animal ao abate.
Existem recomendações no sentido, na literatura, de que a duração do confinamento deva variar de 56 a 70 dias. A idade de abate deve ser de 5 a 6 meses nestas condições.

Castração

Animais inteiros (não castrados) apresentam maior potencial para ganho e carcaças mais magras. A terminação de cordeiros, em confinamento, propicia o abate de animais em idade precoce (150 a 180 dias de idade). A castração não é recomendável nestas condições.
Cordeiros das raças Ile-de-France e Hampshire Down castrados aos 90 dias de idade, em regime de pasto, e abatidos aos 12 meses de idade, apresentaram ganho de peso mais acentuado para os inteiros em relação aos castrados. Ressalte-se que não foram observadas as características sensoriais da carne (maciez, sabor, aroma e suculência).

Instalações

Na terminação de cordeiros em confinamento, as instalações são poucas e devem ser: simples; baixo custo; fácil operacionalidade e estrategicamente localizadas. Compõem-se, basicamente, de currais, comedouros, bebedouros e saleiros.
O curral deve atender aos seguintes requisitos:
1) estar localizado em terreno  elevado, de boa ventilação, firme e bem drenado.
2) poderá ter piso de “chão batido”, piso ripado suspenso ou, ainda, piso elevado e cimentado (onde geralmente faz o uso de camas).
3) conter uma coberta - área em conformidade com o número de animais.
4) para cada animal deve-se reservar 0,8 m² de área coberta. Exemplo: cada 100 animais é uma coberta de 80 m².
5) fornecer um maior conforto em momentos de chuvas e em horas de maior intensidade de radiação solar.
6) a coberta deverá abrigar bebedouros, comedouros e saleiros. Facilita o acesso dos animais de acordo com a vontade do criador.
Os comedouros ou cochos são partes importantes das instalações para qualquer sistema de confinamento animal. Eles devem, portanto, estar localizados de tal modo a permitir facilmente o acesso dos animais, a reposição de alimentos e a sua higienização. Seu tamanho deverá estar de acordo com o número de animais, pois o que se espera é que todos eles tenham, simultaneamente, a mesma oportunidade de se alimentar, favorecendo um maior desempenho coletivo e uma melhor padronização do produto final. Recomenda-se, portanto, 0,25 metro linear por animal, ou seja, quatro animais por metro linear de comedouro.
Os bebedouros também são instalações importantes a ser consideradas. Eles devem se localizar estrategicamente ao alcance dos animais sem permitir que contaminem, ou desperdicem a água, pois isto causar o aparecimento de lugares úmidos. Alerta-se para o fato de que a água é um poderoso meio de transmissão de doenças, por isso a preocupação com a higienização frequente e com a oferta de água limpa e potável aos animais.

Aspectos Sanitários

Somente dois aspectos merecem especial atenção quando se refere à sanidade na prática da terminação de cordeiros em confinamento, considerando o curto período de tempo e as condições do Semiárido do Nordeste brasileiro (umidade do ar muito baixa). São eles:
1 - Condições sanitárias no início do confinamento - Como se trata de animais jovens, isto é, certamente saudáveis e com bom desenvolvimento corporal, recomenda-se apenas a vermifugação na fase inicial do processo, no sentido de torná-los “limpos”. A vacinação contra a clostridiose só é aconselhável quando houver histórico da doença na região favorecendo um maior desempenho coletivo e uma melhor padronização do produto final.
2 - Higiene do curral de confinamento - A higienização frequente (remoção do esterco) deverá ser exercitada para que as condições do curral sejam condizentes com a saúde animal, embora o tempo de permanência seja curto. Recomenda-se, no caso do uso de camas sobre o piso das baias, uma renovação constante para retirar o excesso de umidade. O bom senso do produtor é que deve determinar o momento certo de renovar a referida cama.


 



Desempenho de Cordeiros em Confinamento

A Tabela 3 apresenta uma relação de vários genótipos de ovinos, confinados em diferentes regiões e com seus desempenhos (ganho de peso médio diário e conversão alimentar), frente às inúmeras combinações alimentares. Todas essas informações foram geradas em estudos com fundamentos técnico-científicos.
Chama-se a atenção para o fato de que esta tabela, pela sua própria simplicidade, tem como objetivo central apenas repassar uma ideia geral do desempenho de cordeiros de diferentes genótipos, em confinamento, alimentados com diversidade, isolados ou associados entre si, compondo dietas.
A ideia é que, com a diversificação das informações relacionando tipos raciais, alimentação e o desempenho de ovinos para o abate, faça-se um melhor e mais amplo esclarecimento, atendendo às elevadas demandas surgidas do setor produtivo correspondente sobre o assunto.
Os resultados dos diversos estados, cujas informações encontram-se na Tabela 3, chamam a atenção para as potencialidades que a espécie ovina apresenta para produção de carne, especialmente em regime intensivo de produção. O seu desempenho tem sido apresentado satisfatório, a fora estar submetida a inúmeras dietas formuladas a partir de uma grande variedade de alimentos.


 

Alimentação

A alimentação de animais confinados é o aspecto prioritário e decisivo no sucesso econômico da terminação de cordeiros. A redução dos custos com a alimentação, portanto, é aumento certo dos lucros.
Isto mostra a necessidade do uso de alternativas alimentares com custos baixos, mas que ao mesmo tempo forneçam os nutrientes requeridos, ou seja, que não tenham influência negativa no desempenho produtivo. Isto é possível através da produção de alimentos na propriedade, como é o caso do cultivo de gramíneas e leguminosas. Deve-se, ao mesmo tempo, fazer mais uso de resíduos agroindustriais em substituição aos grãos e aos farelos de oleaginosas, visando que estes são os alimentos que mais oneram a dieta.
As opções de ingredientes para ração são numerosas, entretanto devem-se escolher ingredientes com qualidade. Estes devem estar disponíveis ou que possam ser produzidos na propriedade ou em regiões próximas.
As leguminosas são volumosos importantes na alimentação de cordeiros confinados, visando a elevada concentração de proteína que contêm e boa aceitação e consumo pelos animais. Assim, também, volumosos ricos em energia e fibra, de fácil produção e apropriados ao consumo de ruminantes são as gramíneas. Juntas, leguminosas e gramíneas, são boas fontes de nutrientes de baixo custo, fator importante para o bom desempenho dos animais.
Os fenos de cunhã e de Leucena, por exemplo, sempre aparecem em destaque quanto à utilização em dietas, em substituição parcial aos concentrados proteicos. Os resíduos agroindustriais, dada sua diversificação, quantidade disponível, riqueza nutritiva e baixo custo, têm apresentado grande potencial de uso em rações para cordeiros em confinamento (veja Tabela 3). Exemplos de resíduos da agroindústria com possibilidade de aproveitamento na alimentação:
1) sobras e bagaços de frutas resultantes da extração de sucos;
2) bagaço de cana-de-açúcar hidrolisado;
3) bagaço de cana-de- açúcar “in natura”;
4) pedúnculo do caju;
5) resíduos da panificação.
Todos estes produtos obtiveram sucesso na alimentação de ruminantes, na produção de leite e de carne e, especialmente, na terminação de cordeiros.
A participação, de um modo geral, destes ingredientes na composição das rações para terminação de cordeiros é expressiva com ótimos resultados econômicos. Em todas as situações estudadas, esses resíduos permitiram substituir, no mínimo 50% do concentrado proteico mantendo o mesmo desempenho do ganho de peso diário e o mesmo índice na conversão alimentar dos animais.
O potencial genético do animal é outro fator de grande importância para a economia do processo. Animais com bom potencial genético em ganho de peso, se alimentados e manejados adequadamente, apresentam boa conversão alimentar.
Os primeiros experimentos foram conduzidos na região Nordeste e referem-se a animais deslanados e suas cruzas. O ganho de peso diário variou de 113 g/animal/dia           a 267 g/animal/dia e a conversão alimentar de 4,3 a 6,1 para cordeiros alimentados somente com forragem (feno de cunhã), e com dieta capim elefante mais concentrado, respectivamente. Estes resultados são considerados satisfatórios, tendo em vista o material genético e o tipo de alimento utilizado. O grupo de Somalis Brasileira x SRD apresentou bom ganho de peso denotando a importância da raça para o Semiárido. A raça Santa Inês destacou-se, também, pelo material genético para a produção de carne em regime intensivo.
As raças semilanadas são especializadas em produção de carne, razão pela qual, geralmente, apresentam melhor desempenho que as deslanadas. Estas possuem na sua composição genética maior quantidade de genes relacionados com rusticidade para suportarem as adversidades do ambiente, como é o caso do Semiárido nordestino. Ressalte-se o ganho de peso diário dos cordeiros %SU x %SRD que atingiu 307 g/dia e a melhor conversão alimentar (3,5 kg de ração/kg de peso ganho).
Trabalhos realizados no Rio Grande do Sul, com cordeiros da raça Corriedale x Bergamácia apresentaram 72% de nutrientes digestíveis totais (NDT), e uma renda líquida de R$ 13,00 por cabeça.
O rendimento obtido com cordeiros meio sangue Santa Inês x SRD e Somalis Brasileira x SRD, alimentados com feno de Leucena e concentrado, no Semiárido nordestino, foi bem inferior ao registrado no Rio Grande do Sul, considerando apenas o valor da carcaça. Quando se fez a inclusão da pele nos cálculos da economicidade da prática, essa diferença praticamente desaparece. Isto se dá em virtude da superioridade da pele dos animais deslanados e seu alto preço nos mercados interno e externo.

Aspectos econômicos da terminação de cordeiros

A eficiência econômica da prática da terminação de cordeiros está diretamente relacionada com a velocidade de crescimento dos animais e com o tempo gasto no confinamento. A raça ou o tipo genético, a idade, o peso no início da prática e, sobretudo, a qualidade e os custos da alimentação constituem-se fatores principais a serem considerados na implementação, visando o sucesso econômico. Buscar uma melhor interação destes fatores (genética, peso, idade e alimentação), portanto, é a opção determinante para o sucesso.
Estes fatores não são tão favoráveis no Nordeste (Semiárido) do como em regiões de clima mais ameno, onde o material genético apresenta maior potencial para ganho de peso. Neste clima, também, as forrageiras são menos lignificadas, favorecendo maior consumo de matéria seca e melhor resposta ao desempenho dos animais.
O Nordeste, embora não conte com estes favorecimentos, conta com outros privilégios, que favorece o desempenho dos animais. Os privilégios podem ser:
1 - pequenas variações climáticas ao longo do ano (pluviosidade, temperatura, umidade e luminosidade);
2 - potencialidade para produzir uma diversidade de alimentos durante o ano inteiro (forragem e grãos);
3 - existência de raças e genótipos produtivos e bem adaptados, cuja carne, pelo seu reduzido teor de gordura e características organolépticas e sensoriais agradáveis, tem a preferência do mercado consumidor.
4 - favorecimento da produção de peles de elevada qualidade e de boa cotação nos mercados interno e externo.
O fato da possibilidade de ofertar cordeiros com carcaça de boa qualidade, especialmente durante a época de carência alimentar nas pastagens, pode ampliar as oportunidades de negócio e, consequentemente, criar mais condições para barganhar por preços.

Conclusões e Recomendações

Algumas variações entre as informações técnicas reunidas neste trabalho foram verificadas, de uma maneira geral. Os dados foram muito similares e promissores, ratificando a importância da prática da terminação de cordeiros em confinamento para todo sistema produtivo do agronegócio da carne de ovinos, especialmente no Nordeste.
Seguem algumas vantagens da  prática:
1) oportunidades de negócio criadas no segmento;
2) elevada demanda pelo produto;
3) preço compensatório;
4) reduzido tempo para se chegar ao produto final;
5) dispõe de tecnologias.
As conclusões, diante disso, são:
1 - a prática da terminação de cordeiros constitui alternativa ímpar disponibilizada.
2 - deve ser recomendada para todo território nacional, especialmente para o Semiárido do Nordeste brasileiro.


 

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