domingo, 30 de outubro de 2011

Linfadenite-O Mal do Caroço

LINFADENITE CASEOSA - RECOMENDAÇÕES E MEDIDAS
PROFILÁTICAS
Francisco Selmo Fernandes Alves ¹
Raymundo Rizaldo Pinheiro²
1 Pesquisador, PhD da Embrapa Caprinos
2 Pesquisador, MSc da Embrapa Caprinos
A Linfadenite Caseosa (LC) é uma doença infecto-contagiosa
causada pela bactéria Corynebacterium pseudotuberculosis.
Acomete caprinos e ovinos e caracteriza-se pela formação de
abscesso(s) contendo pús de cor amarelo-esverdeado e
consistência tipo queijo coalho. A doença apresenta-se em duas
formas a superficial e a visceral. Os abscessos localizam-se,
inicialmente, nos linfonodos superficiais, podendo ser na região da
mandíbula, abaixo da orelha, na escápula, no crural, e na região
mamária. Apresenta-se, também, nos gânglios internos
(mediastínicos, torácicos) e órgãos como os pulmões, o fígado e,
em menor escala, o baço, a medula e o sistema reprodutivo. Além
dos caprinos e ovinos, esta enfermidade causa linfangite ulcerativa
em equídeos e abscessos superficiais em bovinos, suínos, cervos e
animais de laboratório.
O Nordeste é a região brasileira onde observa-se a maior
frequência deste enfermidade, devido à grande concentração
destes pequenos ruminantes, da vegetação contendo espinhos e
da falta de orientação adequada aos criadores de caprinos e
ovinos, quanto à sanidade de seu rebanho. Estes fatores são de
grande relevância na transmissão e disseminação desta patogenia.
Para a caprino-ovinocultura nacional trata-se de um sério
problema, com perdas econômicas evidenciadas através da
diminuição de produção de leite, da desvalorização da pele devido
às cicatrizes, ao custo das drogas e da mão de obra para tratar os
abscessos superficiais. As perdas na produção são observadas
quando o linfonodo afetado está localizado em áreas específicas
(mandíbula, região crural, úbere), diminuindo as atividades
normais do animal, como a mastigação, a locomoção no pasto, a
procura de alimentos e a lactação. Na forma visceral, a doença
atinge órgãos o que resulta no emagrecimento, na condenação de
carcaças e na morte do animal.
Transmissão
A disseminação do agente etiológico desta doença no meio
ambiente deve-se a rutura dos abscessos, cujo material segregado
contém um elevado número de organismos viáveis, a habilidade
desta bactéria sobreviver no solo por um período longo confirma a
presença constante deste agente nos criatórios. A sobrevivência e
a persistência do microrganismo em relação ao tempo em
diferentes objetos, são as seguintes:
• animal: sem limite;
• madeira: 1 semana
• palha: 3 semanas
• forragem (feno): 8 semanas
• solo: 8 meses
Outros fatores, como concentração de animais, ferimentos na pele
e umidade, concorrem altamente para a transmissão da doença.
Quando um animal infectado é introduzido num rebanho livre da
doença, dentro de dois a três anos ocorre uma alta incidência do
aparecimento de abscessos em todo rebanho.
Os métodos principais de propagação desta doença entre uma
propriedade e outra são: a introdução de animais infectados e os
equipamentos contaminados (tatuadores, brincadores, etc).
Enquanto que, os métodos essenciais de disseminação entre os
animais são: a tosquia, na tatuagem, a marcação, na castração,
no corte de cauda, na vacinação e contato entre o material
purulento dos animais e instalação.
Medidas Profiláticas
Ainda não existe definição quanto ao tipo e à eficiência das vacinas
existentes, portanto recomenda-se, como medida profilática, a
incisão cirúrgica dos abscessos periféricos antes que se rompam
espontaneamente. Uma vacina viva atenuada foi desenvolvida pela
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, mostrando uma
eficiência de 83,33% na prevenção do aparecimento de abscessos
superficiais, em caprinos vacinados aos 3 meses e acompanhados
por um período de 8 meses. Outro tipo de vacina utilizado é o
toxóide a 3%, que conseguiu conter a disseminação do agente
infectivo a outras partes do corpo do animal, mostrando resultados
promissores. Devido ao período longo de incubação desta doença e
à ausência de lesões visíveis à formação dos abscessos, é difícil
distinguir clinicamente os animais infectados dos não infectados.
Geralmente, o tratamento com antibióticos não é recomendável
economicamente, porque esta terapia demora semanas ou até
meses. Além do mais, é quase impossível erradicar esta doença
com este tratamento, pois os antibióticos não penetrarem na
cápsula dos abscessos. O controle deve ser realizado através de
medidas imunoprofiláticas. Para isto, todos os esforços devem ser
feitos no sentido de se eliminarem ou reduzir as fontes de infecção
e/ou propagação da doença nos rebanhos.
Diagnóstico
No animal vivo ou na carcaça, os métodos utilizáveis para o
diagnóstico da doença são:
• Realizar exame clínico de palpação dos linfonodos superficiais
para verificar se estão aumentados
• aspirar o material do(s) abscesso(s) para cultura (isolamento e
identificação do agente);
• realizar teste sorológico: teste de Inibição da Hemólise Sinérgica
(IHS) e ELISA
• nas carcaças, deve-se realizar o exame pós-mortem para
verificar a presença de abscessos nos linfonodos internos e órgãos,
como fígado, pulmão, etc.
Sintomas e causas que confundem no diagnóstico da LC na forma
superficial e visceral
Forma superficial Forma visceral
• Abscessos causados por
Actinomyces pyogenes;
Stafilococcus aureus
• Edema submandibular
(Fascíola hepática e
Hemoncose)
• Cisto salivar
• Linfosarcoma; outros
tumores
• Inoculação subcutânea de
vacinas
• Subnutrição;
Parasitismo
• Doença de Jojnes’s
• Scrapie
• Adenomatose
pulmonar
• Pasteurelose
• Neoplasia
• Paratuberculosis
Recomendações
Diante das medidas profiláticas existentes deve-se seguir
rotineiramente as recomendações seguintes:
• Fazer inspeção periódica do rebanho;
• eliminar na medida do possível, os animais com abscessos;
• tratar os abscessos, não deixando que se rompam
espontaneamente pois o pús constitui foco ativo de infecção; tratar
e desinfetar o umbigo dos animais recém-nascidos e/ou qualquer
tipo de ferimento superficial com solução de iodo a 10%.
Não é recomendável a prática de injetar solução de formol a 10%
nos abscessos aumentados (visíveis, pois este reagente é
irritante/cáustico aos tecidos (pele, mucosas e pulmões). A solução
de formol com a concentração de 1 a 10% é empregada como
desinfetante de superfícies, pois possui propriedade potente contra
todos os organismos, inclusive esporos. O uso da solução de
formol em animais para consumo humano também não é
recomendado devido ao efeito residual acumulativo do produto,
causando toxidez nos tecidos dos animais, o que poderá acarretar
transtornos. A utilização de formol em animais nos EUA é proibido
porque é cangerígeno.
Procedimentos na abertura de abscessos
Materiais a serem utilizados:
1. Algodão hidrófilo, gaze;
2. papel toalha, jornal;
3. água e sabão;
4. aparelho e lâmina para tricotomia (raspagem dos pêlos);
5. álcool;
6. solução de iodo a 10%;
7. repelente (mata bicheira);
8. pinça e/ou qualquer instrumento de madeira (20 cm de
comprimento por 1,5 cm de diâmetro);
9. bisturi com lâmina (poderá ser utilizado qualquer
instrumento cortante).
OBS: Todos os instrumentos deverão estar desinfetados em
água fervente ou álcool.
Procedimento
1. Isolar os animais com abscesso;
2. Fazer a abertura dos abscessos fora do aprisco, em lugar
próprio que permita boa desinfecção e destruição da massa
purulenta.
Seguir os seguintes passos:
a. Preparar a região fazendo raspagem dos pêlos (tricotomia);
b. Fazer assepsia da área com solução de álcool iodado (iodo
10% e álcool a 70%);
c. Fazer incisão vertical longa, na região mediana ao bordo
inferior do abscesso, para facilitar a drenagem e limpeza
interna do mesmo;
d. Com papel toalha, pressionar para retirada de todo material,
tendo o cuidado para conservá-lo em saco plástico ou balde;
e. Retirar todo o material purulento, usando gaze ou algodão
enrolado em uma pinça ou instrumento de madeira (ver
material acima);
f. Aplicar solução de iodo a 10% interna e externamente;
g. Embeber uma gaze com a mesma solução de iodo e deixar
dentro do local incisado (servirá como dreno), prevenindo a
disseminação e a contaminação do meio ambiente. A gaze
irá ajudar a absorver o material infectivo restante e a
prevenir contra miíase (bicheira);
h. Aplicar "spray" repelente, se necessário;
i. Isolar o animal em uma área própria e retiar a gaze (dreno)
em 24 horas;
j. Repetir os procedimentos dos itens f, g, h durante dois dias;
k. Queimar e enterrar o material purulento;
l. Desinfetar os instrumentos em álcool por imersão e flambar,
ou em água fervente, ao final de cada procedimento;
m.Os instrumentos que forem utilizados para a abertura dos
abscessos deverão ser usados somente para este propósito.
Fonte: http://www.snagricultura.org.br

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