segunda-feira, 4 de julho de 2011

Cuidado com os Bezerros


4.1 Controle sanitário durante a parição
A deficiência nutricional da fêmea pode afetar o trabalho de parto normal por deficiências hormonais; ocasionar uma produção de colostro de baixa capacidade de proteção e também refletir-se no tamanho do recém-nascido e nas suas condições iniciais para procurar o alimento. Neste ponto, tem muita influência a habilidade materna, que varia com a experiência da fêmea, as condições ambientais onde se encontra o rebanho e o estado de bem-estar.
O colostro é a primeira secreção da glândula mamária, tem grande valor nutritivo e confere um tipo de imunidade passiva (passada pela mãe) ao bezerro. Deve ser ingerido em maior quantidade nas primeiras seis horas de vida e tem a capacidade de proteger o bezerro, contra doenças, se for ingerido até no máximo 24 horas após o nascimento. Nos bovinos, a passagem de proteção contra as doenças, da mãe para o filho através da placenta, dificilmente acontece, deixando o bezerro praticamente sem imunidade, daí a importância do primeiro leite. Desta forma, a vaca transfere para o bezerro a sua experiência imunológica que vale para os primeiros meses de vida, quando ainda não conseguem desenvolver plenamente a sua própria imunidade.
O colostro possui também um efeito laxativo muito importante, sendo responsável pela eliminação do mecônio, que são as primeiras fezes do recém-nascido.
A cura do umbigo evita contaminações por agentes infecciosos do meio externo que de forma ascendente causam infecções generalizadas no bezerro, pois, ao nascer, o bezerro apresenta uma abertura no umbigo que serve de porta de entrada para agentes infecciosos. Estes podem causar infecção local - onfaloflebite - e sistêmica, disseminando o agente em vários órgãos, acarretando muitas vezes inflamações das articulações - onfaloarterites (caruara), pneumonias, abcessos hepáticos, renais e cardíacos. Em geral, está associada à deposição de ovos de moscas causando a instalação de miíases (bicheiras), o que pode acarretar até a morte do animal. 
O umbigo deve ser cortado na medida de dois dedos e imerso em solução de iodo, na concentração de 10% em álcool, ou produto similar, imediatamente após o nascimento, causando, assim, a desidratação do umbigo e evitando o aparecimento de bicheiras.
4.2 Cuidados do nascimento ao desmame
A categoria animal mais susceptível às doenças é a dos bezerros, por registrar o maior número de perdas por morte ou mesmo seqüelas. Portanto, o manejo sanitário de bezerros assume função estratégica no sistema de produção.
Com base na época do nascimento, é preciso agrupar os animais em lotes, como forma de facilitar e uniformizar o manejo dos bezerros.
As vacinas recomendadas de rotina são ferramentas muito importantes neste processo. Por isso, a sua utilização deve ser recomendada sempre que o sistema de produção necessite de uma garantia com relação a um determinado agente infeccioso e que mostre uma relação custo e benefício favorável.
A diarréia é um sinal clínico que pode ser observado com freqüência, sendo uma das principais causas de morte em bezerros porque ocasiona grande perda de líquidos e eletrólitos corporais, causando desidratação que, dependendo do grau, pode levar à perda de peso, podendo evoluir para um choque hipovolêmico e até mesmo a morte do animal por falência circulatória.
Entretanto, várias causas podem desencadear este processo, começando por um pasto novo e tenro, até diversos tipos de agentes infecciosos, como bactérias (Escherichia coli, Salmonela sp., Clostridium perfringens); vírus (Rotavirus, Coronavírus, BVD, IBR) e protozoários como a Eimeria sp.
A diarréia por colibacilose é na maioria das vezes "causada" por um desequilíbrio alimentar, ou seja, um dia o bezerro recebe muito leite e outro uma quantidade mínima. Isso pode provocar indigestão que pode passar desapercebida ou, muitas vezes, tornar-se grave, debilitando o bezerro.
Em geral, a ocorrência da colibacilose é maior em bezerros novos, nas três primeiras semanas de idade. Os sinais clínicos caracterizam-se pelo aparecimento de uma diarréia de cor esbranquiçada, de cheiro desagradável, tristeza, perda de apetite, emagrecimento progressivo e, em alguns casos, morte repentina.
Essa diarréia apresenta três formas principais:
Forma septicêmica. A bactéria cai na corrente sangüínea, multiplicando-se rapidamente. Parece que o agente tem tendência a invadir os tecidos orgânicos do animal que não recebeu o colostro em tempo e em dosagem certa. Os baixos níveis de gamaglobulinas séricas no soro sangüíneo evidenciam uma tendência do não recebimento do colostro pelo bezerro. É freqüente este aparecer morto ou apático, sem ter sido notado nenhum sinal clínico anterior.
Forma enterotoxêmica. Algumas amostras de E. coli possuem determinados antígenos que promovem adesão às células do intestino delgado, havendo formação de colônias e produção de enterotoxina. A morte do animal resulta, muitas vezes, da ação da enterotoxina absorvida.
Forma entérica. Nesta fase há uma diarréia com cheiro pútrido, contendo fragmentos de leite coagulado, evidenciando uma digestão deficiente. Os bezerros desidratam, mostram afundamento dos olhos, tornam-se prostrados, podendo ocorrer mortes.
Na criação de bezerros, individual ou em grupos etários, a higiene, os abrigos limpos e secos e a desinfecção rigorosa e periódica das instalações podem contribuir para evitar o aparecimento de surtos ou para eliminar os focos. Sabe-se que os bezerros adquirem esta doença por via oral, e se medidas forem tomadas para evitar a contaminação de pisos, cama, água e ração, certamente, ocorrerá menor índice da doença.
A salmonelose, caracterizada por diarréia e infecção geral do organismo, cuja transmissão ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados, produzida por uma bactéria do gênero Salmonella sp. tem sido a principal causa de morte de bezerros em certas regiões.
Em geral, esta diarréia está associada a uma pneumonia, seja pela quebra da resistência orgânica, seja pela disseminação da salmonela pelo organismo do animal, atingindo os pulmões. Assim, ter-se-á um quadro de diarréia e de pneumonia, cujas conseqüências podem ser fatais.
Os principais sintomas são abatimento, febre, olhos fundos, lacrimejamento, perda de apetite, pêlos secos e arrepiados e diarréia. As fezes são fluidas com presença de muco, apresentam cor acinzentada ou esverdeada, com bolhas de gás, e têm cheiro desagradável.
A eimeriose (coccidiose), também conhecida como curso negro ou curso de sangue, acomete principalmente animais jovens de um a seis meses de idade. Os animais adultos, quase sempre, são portadores sadios que, em condições de debilidade, podem adoecer. 
Os animais doentes apresentam fezes aquosas, sanguinolentas e fétidas que se acumulam na cauda dos animais.
Em infecções maciças podem ocorrer convulsões, tremores, fraqueza, desidratação, inapetência e mortalidade, sendo comum o aparecimento concomitante de pneumonia.
Os animais se infectam pela ingestão de uma das formas de vida do agente (oocistos esporulados) presentes na água e nos alimentos. Além disso, as condições precárias de higiene e a alta densidade de animais contribuem para o aparecimento da doença.
A profilaxia e o controle baseiam-se em medidas de higiene e manejo. Os comedouros e bebedouros devem estar sempre limpos e protegidos de contaminação fecal.
Nos bezerreiros, os animais devem ser separados por faixa etária, para evitar que os mais velhos se constituam em fonte de infecção para os mais novos.
É fundamental identificar a causa da diarréia e sua incidência para realizar um tratamento específico para o agente em questão, bem como para saber da necessidade do controle por meio de vacinas. O controle das diarréias, de forma econômica, vai depender do estado geral das mães e do peso do bezerro no momento do nascimento, associado à ingestão de colostro e à cura do umbigo.
No caso da febre aftosa, deve-se seguir, rigorosamente, a orientação do órgão de defesa estadual e sua política de controle, para que o rebanho brasileiro possa ser mais competitivo no mercado internacional.
O controle do carbúnculo sintomático (manqueira, mancha) deve ser realizado com os outros clostrídios que causam as doenças musculares e as enterotoxemias por meio de vacina polivalente, em todos os bezerros de quatro a seis meses, repetindo a dose um mês após e anualmente, ou segundo a recomendação do fabricante. 
O botulismo em bovinos é uma intoxicação produzida por toxinas do Clostridium botulinum tipo C e D. A situação clássica em campo está relacionada com a contaminação dos animais pela ingestão de matéria orgânica contaminada (cadáver, aguada etc.), provocada pela deficiência de fósforo. 
O controle deve ser feito com o uso de vacinação, com toxóide bivalente tipo C e D, inicialmente com duas doses aplicadas com um intervalo de um mês, a partir dos quatro meses de vida e com revacinação anual, além de suplementação adequada de fósforo aos animais. Deve ser retirado do campo todo o tipo de carcaça dos pastos, para evitar a contaminação dos animais.
Em áreas onde ocorre a raiva, os bezerros devem ser vacinados aos quatro meses de idade, repetindo a dose após quarenta dias e anualmente ou de acordo com a recomendação do fabricante. Deve ser associada à vacinação dos cães, gatos e eqüídeos e ao controle de morcegos hematófagos na região.
É preciso lembrar também a importância do processo de desmame dos bezerros em função do estresse que acarreta com a conseqüente fragilidade imunológica.

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