Algaroba no tratamento da Aids
SAÚDE Pesquisador da Paraíba consegue retirar um dos componentes do coquetel a partir do pó da planta nativa
Robson Nóbrega
Especial para O NORTE
Algaroba versus Aids. Por mais estranha que pareça, a frase tem total fundamento. E é apostando nisso que o professor Manoel Ferreira Alves, doutor em Engenharia de Bioprocessos e vinculado ao Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), desenvolve uma pesquisa de extração do ácido fólico - um dos componentes do coquetel que aumenta a expectativa de vida dos pacientes - a partir de um produto (pó) obtido por meio da fermentação do caldo da vagem da algarobeira.Nos portadores da doença, o ácido - hoje desenvolvido artificialmente no exterior e que representa um custo de importação bem alto para o Brasil - deverá reduzir significativamente os níveis de anemia sempre presentes nesses casos, fortalecendo o organismo contra enfermidades paralelas que costumam surgir em pessoas acometidas do mal, justamente pela falta de proteínas no sangue.
Por ano, o Brasil gasta algo em torno de US$ 1,2 bilhão com a compra do ácido fólico no exterior. Alguns institutos de pesquisa nacionais, a exemplo do Centro de Especialidades em Doenças Infecto-Contagiosas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já realizam testes em humanos com o fermento extraído a partir da cana-de-açúcar, mas os resultados ficam aquém daqueles obtidos com a substância encontrada na vagem de algaroba (Prosopis juliflora). A instituição paranaense é, inclusive, pioneira na extração do fermento da cana.
Ácido poderá ajudar pessoas com altos níveis de anemia
A testagem do composto em animais com altos índices de anemia vem sendo feita na Fazenda Santa Rosa, localizada no município de Abaré, na Bahia, com excelentes resultados. O responsável por esse trabalho na localidade é o veterinário e pesquisador da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) daquele Estado, Alberto Brito Soares dos Santos, que já recuperou dezenas de animais de diferentes espécies e considera os resultados acima das expectativas."O fermento da algaroba deverá ser usado futuramente na constituição do coquetel por conter alto teor de ácido fólico, o que certamente proporcionará a regeneração de pessoas com níveis preocupantes de anemia, como acontece com boa parte dos portadores da Aids. A substância oriunda da algaroba enriquece muito mais o coquetel que o de cana-de-açúcar, justamente por sua alta concentração proteica", garante o professor Manoel Ferreira Alves.
Sua pesquisa, sob o título de 'Produção de Fermento Biológico a partir da Vagem da Algarobeira', foi desenvolvida na Universidade Federal de Campina Grande. Ele conta que tudo começou em 2002, quando se constatou que o fermento poderia ser utilizado como alimento na fabricação de pão e também na produção de bebidas como aguardente, cerveja, vinho e o próprio álcool. "A algaroba contém altos teores de proteínas e aminoácidos, precursores da formação do ácido fólico, o que não foi observado em nenhuma outra planta do semi-árido nordestino", completa.
Ele acrescenta que vários outros estudos feitos com fermentos da algaroba obtiveram resultados animadores. Além da aguardente, do vinho e do álcool, os pesquisadores elaboraram mel, farinha, café, ração para animais. A vantagem é que esses fermentos que entraram na composição dos produtos têm rendimento muito superior aos fermentos comerciais usados atualmente na agroindústria sucroalcooleira.
início
Uso da planta enfrenta restrições
ALGAROBA Considerada valiosa como medicamento em outros países, por aqui ela é vista como invasora do solo
Apesar de todas essas vantagens apontadas pelo pesquisador paraibano e ratificadas por especialistas de outras partes do País, o uso da algaroba enfrenta sérias restrições. Aliás, o Brasil é a única nação da América do Sul onde isso acontece. O professor Manoel Ferreira Alves entende que a planta como um todo constitui uma nova alternativa biotecnológica na solução de importantes problemas nutricionais e de saúde da população."Nos demais países sul-americanos, a algaroba é tratada como uma matéria-prima de grande valor econômico que tem infinitas aplicações, sem contar com a sua contribuição em termos de reflorestamento e com o meio ambiente", lembra. E vai mais além. "A vagem da algaroba, fruto da algarobeira, ao contrário do que muitos pensam, embora seja uma planta nativa de outros países (o Peru, em particular), é uma matéria-prima com amplas possibilidades de aproveitamento devido ao seu potencial bioenergético", observa.
Os 'problemas' gerados pela algarobeira, segundo seus 'opositores', começam no adensamento e por isso ela é considerada uma 'planta invasora'. O pesquisador rebate a crítica e assegura que tudo se deve à falta de um cultivo planejado e informações tecnológicas adequadas. "O adensamento das plantas de forma desordenada é uma conseqüência da falta de aplicação de técnicas de cultivo como o raleamento, que pode proporcionar o consórcio de outras culturas", explica.
Bem diferente da maioria dos estados nordestinos, a Bahia criou uma lei estadual para proteção da algarobeira. Onde essa concepção protecionista não existe, o resultado é a destruição indiscriminada da planta com o conseqüente desperdício de todo o seu potencial. "Um exemplo claro é a transformação da madeira em carvão, já que a algarobeira possui alto poder calorífico, prevalecendo assim interesses econômicos ditados por grupos empresariais e políticos", denuncia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário