Carne suína: melhoramento genético gera mais rentabilidade ao produtor
Na produção de grande escala, prática gera redução de custos e maior produtividade, com aumento de carne na carcaça; para o pequeno e médio produtor, garante maior valor agregado com carnes exclusivas e mais competitividade
O melhoramento genético da carne suína vem fomentando a expansão da atividade e trazendo mais qualidade e velocidade nos processos, melhorando o desempenho dos animais. Os benefícios também estão no aumento do potencial reprodutivo, melhor taxa de crescimento sem comprometer o bem estar animal, ganho de peso em menor tempo de confinamento, melhor conversão alimentar e estrutura funcional, controle de acasalamento consanguíneo, melhoramento da carne e diminuição do desperdício de carcaças, abertura de novos mercados segmentados com peças exclusivas além de agregar valor ao produto final.
O objetivo final é atingir maior qualidade da carne. Mas todos esses benefícios acabam gerando mais lucratividade para o produtor, que essencialmente vai ter um animal por menos tempo na propriedade.
De acordo com a Embrapa Suínos e Aves, a pesquisa na área começou nos anos 1970 e existem opções de resultados finais com o uso das práticas de melhoramento da carne suína. Ela pode ser desenvolvida para aumento específico de qualidade, para rendimento e para redução de custo de produção.
Segundo o pesquisador da Embrapa Elsio Figueiredo, quando o desejável é diminuir custos e a carne tem um padrão mais industrial, aplica-se melhoramento genético para aumentar a capacidade de ganho de peso do animal. Assim, acelera-se a evolução do crescimento e diminui-se o tempo de permanência, de 180 dias para 150 na granja, para atingir o peso de abate.
“E isso dá muita diferença na redução de custos. Outro aspecto é o rendimento da carne na carcaça. Ao invés de 50% de carne, o melhoramento genético resulta em 58%. Tudo isso foi impactando a indústria, que foi mudando e pagando mais para uma carne com mais rendimento. Por outro lado, a dona de casa, o chef de cozinha, os restaurantes estão procurando uma outra carne, cortes especiais e carnes mais saborosas”, diz Figueiredo.
Para o engenheiro agrônomo Renato Irgang, muitas vezes o produtor precisa reduzir os investimentos da nutrição do animal, e isso faz com que o crescimento seja mais lento, resultando em outros ajustes de custo. A ração de suínos está custando hoje R$ 2 o quilo; segundo ele, para obter 1 quilo de suíno são necessários 4 quilos de ração, ou R$ 8 por quilo produzido. Se o animal permanecee muito tempo na propriedade consumindo essa ração cara, o custo será obviamente ainda maior.
“Quando eu cruzo por exemplo, um macho duroc de boa qualidade de carne, mas com uma taxa de crescimento maior, com uma fêmea moura, que tem uma excelente qualidade de carne e uma taxa de crescimento um pouco menor, eu posso produzir animais com uma carne de excelente qualidade e com uma taxa de crescimento melhor do que da moura. O que significa isso? Significa que esses animais cruzados e mestiços vão chegar no peso de abate mais rapidamente, eles vão permanecer menos tempo na propriedade, aí o produtor pode girar mais rapidamente o investimento que ele fez”, afirma o agrônomo.
Carne suína diferenciada
O melhoramento genético com foco em carnes com mais sabor para degustação, para consumo mais exclusivo e in natura, é um nicho de mercado para pequenos e médios produtores.
A Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná promoveu um encontro, em parceria com a Biriba’s Genética de Suínos, para apresentar esse novo mercado, que vem demandando produtos diferenciados.
Segundo o presidente da entidade, Marcos Brambilla, essa é uma alternativa para valorização de pequenos suinocultores, que não estão conseguindo se manter nas atuais condições. Com o uso do melhoramento genético para resultados de cortes mais nobres, suculência e valorização de sabor, os investimentos vão agregar valor e gerar mais lucro para o produtor, que ainda vai conseguir se manter na atividade principal, tendo condições de desenvolvimento em escala menor, entregando um produto mais artesanal e exclusivo para os melhores mercados.
“Trouxemos essa empresa, a Biriba’s, para que eles pudessem apresentar essa nova alternativa o produto que eles já construíram, um produto que cada dia mais está chegando de outros cantos do país para ser consumido aqui no Paraná. Nós temos toda a capacidade e condição, com a oferta de material genético que nós temos no estado, de produzir isso e essa renda ficar aqui para os nossos agricultores”, diz Brambilla.
A execução requer procedimentos diferenciados, formas de criação menos intensivas. Além disso, as raças escolhidas para cada segmento são específicas, e há padrões de corte e embalagens distintas dos industrializados. E o produto chega de forma direta, sem os intermediários.
De acordo com o sócio proprietário da Biriba’s Charles Novinski, as raças nativas brasileiras de suínos estão em extinção. Consumindo esses produtos, o país estará estimulando a criação e a preservação de raças que só existem no Brasil.
“A carne suína hoje é aquela carne magra, pálida e barata. A gente está falando aqui de uma carne com grande teor de gordura, uma carne suculenta, macia e com um sabor que, se você experimentar hoje você não diz que é porco. É esse mercado que a gente tem que explorar e que vai no embalo do mercado da carne bovina premium, como angus e wagyu. No porco, a gente tem todo esse mercado para explorar. Pode-se dizer que ele é até um produto raro, e quanto mais raro o produto, mais valor agregado”, afirma Novinski.
As raças moura, piau e caruncho são algumas das nativas do Brasil que estão fora do sistema de produção industrial. E o segmento premium do mercado é justamente o de maior potencial para essas raças.
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