quarta-feira, 6 de junho de 2012


Crédito fundiário incentiva trabalho da juventude no campo

Crédito fundiário incentiva trabalho da juventude no campo
O Assentamento Bela Vista, no município de Piracuruca, a 220 quilômetros de Teresina (PI), é a prova de que a política de acesso à terra colabora significativamente para a permanência da juventude no campo. Em uma área de 440 hectares, adquirida por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), 25 jovens agricultores familiares criam caprinos e cultivam pimenta malagueta. O investimento em produção também só foi possível graças ao programa. “É muito gratificante ter o nosso espaço e ser respeitado. O meu sonho é ver o sucesso da nossa unidade produtiva, tirar da terra o nosso sustento e comercializar o excedente”, conta Lucas Ferreira Rodrigues, 25 anos, presidente do local.
Em 2009, os jovens se organizaram e conseguiram acessar a linha Nossa Primeira Terra do PNCF. O pagamento do imóvel, no valor de R$ 190 mil, foi parcelado em 17 anos com carência de três. Os jovens têm até 50% de desconto na prestação se efetuarem os pagamentos em dia. Eles estão organizando uma feira em outubro, no próprio assentamento, para arrecadar dinheiro a fim de quitar a primeira parcela anual do contrato, que vence no início do ano que vem. A expectativa é vender mais de 120 animais, fruto da reprodução dos 287 caprinos (278 cabras e nove bodes) comprados com recursos oriundos do Crédito Fundiário – diferentemente da área, o investimento em projetos produtivos não precisa ser devolvido.
Filho de agricultor familiar, Lucas cresceu na zona rural e nunca pensou em ganhar a vida nos centros urbanos. Segundo a mãe, Maria Francisca Ferreira Rodrigues, 53 anos, o jovem sempre gostou das atividades do campo. “Desde pequeno ele sempre teve talento para a roça. Ainda bem que está tendo essa oportunidade de permanecer no meio rural”, afirma.
Lucas concluiu o Ensino Médio e atualmente estuda Agronomia. “A ideia é levar o conhecimento acadêmico para o dia a dia da nossa unidade”, explica. “Para nós, jovens agricultores, é uma grande satisfação ter o nosso espaço. Antes, precisávamos procurar emprego em fazendas, plantar e colher para os outros. Muitos acabam se cansando e migrando para a cidade”, conta. Orgulhosa do marido, a estudante Eleneide da Silva Lopes, 18 anos, espera que os filhos, assim como ela e o pai, finquem raízes no campo. “Quero ter filhos e espero que eles cresçam no assentamento e um dia busquem outra unidade produtiva para continuar a atividade”, conta.
Inclusão
Onofre Carvalho do Nascimento, 23 anos, é outro produtor do Assentamento Bela Vista. “Aqui é todo mundo amigo, nos reunimos todo segundo domingo do mês para discutir assuntos relacionados à unidade. Cada um tem a sua função”, explica. A rotina dele começa bem cedo. Às 5h está de pé para colocar os cabritos para mamar e dar comida aos animais. Depois, os cuidados são com os mais de nove mil pés de pimenta malagueta – projeto ainda em fase de implementação. Tantos afazeres não desanimam o jovem produtor. “A vida no campo é muito boa. A diversão é cuidar da nossa terra”, conclui.
“O Piauí tem sido um exemplo nas ações de inclusão da juventude rural. Conscientes do seu papel na sucessão da agricultura familiar brasileira, muitos jovens rurais piauienses estão se qualificando e voltando para o campo como protagonista. Um exemplo disso são os jovens de Bela Vista”, avalia o secretário de Reordenamento Agrário do MDA, Adhemar Almeida.
Na opinião da assessora especial de Juventude do MDA, Ana Carolina Silva, as políticas públicas voltadas para os jovens da zona rural dão a eles a possibilidade de escolher se querem ou não deixar o local onde cresceram. Segundo ela, essa escolha não deve estar atrelada à falta de oportunidade e de conhecimento. “A maior dificuldade que existe, hoje, no campo é relacionada à permanência da juventude naquele espaço. O MDA está trabalhando para aperfeiçoar as políticas já existentes e criar novas políticas para que o jovem possa escolher se quer ou não permanecer no campo”, explica.
PNCF - Nossa Primeira Terra
O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) disponibiliza o selo Nossa Primeira Terra (NPT) que tem o objetivo de estimular o empreendedorismo do jovem rural e a permanência dele no campo, com foco na sucessão da agricultura familiar.
O selo atende à demanda de jovens rurais sem-terra, filhos de agricultores familiares, alunos dos centros de formação por alternância e de escolas de formação agrotécnicas, com idade entre 18 e 28 anos, que desejem investir em uma propriedade. Desde a implantação, mais de 31 mil jovens foram beneficiados com a iniciativa que, até o momento, investiu R$ 632 milhões.

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