domingo, 21 de abril de 2013

A epopeia das cabras valentes na terra Brasil

Autor: Ariano Suassuna


Houve quem falou que as cabras deveriam estar na bandeira do Sertão e não há porque contestar essa afirmação, pois de um jeito ou outro elas estão lá embandeirando as terras onde rara é a água, mas não a riqueza possível.



Mais de 91% dos rebanhos caprinos do Brasil (IBGE 2011) encontram-se concentrados na região Nordeste. Animais “que não secam durante a seca”, como afirma o poeta Mauro Mota (1981), bodes, cabras e cabritos integraram-se de tal modo à região que hoje é quase impossível imaginar o Semiárido brasileiro sem a presença desses ruminantes.

A par dessa expressiva integração dos caprinos à vida dos nordestinos, modelou-se uma identidade cultural singular, uma “cultura de bode”, expressa abundantemente na arte popular (xilogravuras, artesanato, cordel, etc.), na literatura, na música, na cozinha e no cotidiano do sertanejo. Na cozinha, em especial, devido aos processos migratórios, essa cultura se espalhou pelo País, conquistando os mais refinados gostos e as mais requintadas mesas de diferentes regiões.



A conquista da terra Brasil



Estudiosos acreditam que as raças domésticas de caprinos hoje encontradas em todo o mundo tenham suas origens na Capra aegagrus, da Pérsia e Ásia Menor; da Capra falcoreni, do Himalaia e da Capraprisca, da bacia do Mediterrâneo. A cabra foi um dos primeiros animais domesticados pelo homem há 8.000 anos. O homem, a partir desta domesticação, passou a alimentar-se não apenas da carne do animal, mas também do seu leite. Começava ali uma relação que atravessaria milênios e diferentes civilizações, sempre ajudando a humanidade a vencer os desafios da natureza e as fraquezas do corpo e do espírito.

Os caprinos, na Península Ibérica, foram trazidos pelos árabes durante os 7 séculos de dominação moura na região. Os primeiros a introduzirem estes animais, no Brasil, foram os colonizadores portugueses, franceses e holandeses. Os tipos étnicos pioneiros em solo brasileiro são os caprinos das raças Serrana e Charnequeira. Depois vieram as contribuições das raças Toggenburg, Anglo-Nubiana, Malteza, Angorá, Saanen, Pardo Alpina, entre outras.

Deste emaranhado de raças foram surgindo outras, algumas reconhecidas hoje como raças oficiais, como, por exemplo, a Moxotó e Canindé, além de tipos menos expressivos e não reconhecidos como raças. São exemplos a Repartida, a Marota, a Gurgueia, a Biritinga, a Azul, a Graúna, a Nambi e a Orelha de Onça, todas sem maior diferenciação genética e produtiva.

A adaptação destes animais, da chegada ao Brasil à conquista dos sertões nordestinos, não foi tão rápida como se imagina. Ocorreu à custa de tempo e perda produtiva. O processo de seleção natural foi determinante, sobrevivendo aqueles animais com maior capacidade reprodutiva, maior resistência ao clima ensolarado do País e a baixa disponibilidade alimentar, além de resistentes às enfermidades.

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