quarta-feira, 11 de abril de 2012

Energia eólica: apenas um Pré-Sal no Sertão

- 05/04/2012

Formidável chance de obter renda, sem prejudicar a pecuária,
uma alternativa de viabilização dos sertões.


Se a montanha não vai até Maomé, então Maomé vai até a montanha - diz o ditado. O Nordeste é o Pré-Sal da energia renovável: solar, eólica e fitótica (fi­togênica) - um potencial fantástico a ser explorado pelos empresários com olho no futuro.
O Nordeste vai salpicando torres eólicas, para transformar os ventos em energia elétrica. Cada torre mede 100 metros de altura, algo como um prédio de 27 andares - só de concreto. A pá eólica que forma o catavento mede mais de 41 metros de altura. O peso pode chegar a 900 toneladas.
Em 2009, a capacidade mundial da energia eólica foi de aproximadamente 158 gigawatts (GW), suficiente para abastecer as necessidades básicas de dois países como o Brasil, onde a média nacional foi de 70 gigawatts calculadas em janeiro de 2010. O Nordeste brasileiro tem incrível potencial eólico e solar.
O uso dos ventos é irreversível: até 2020, o Reino Unido vai construir 32 GW, mais que 2 vezes a usina de Itaipu! Hoje, o Reino Unido consome cerca de 50% da energia elétrica do Brasil. Só um parque, o Dogger Bank, vai ter capacidade de 9 GW; seguido pelo Norfolk Bank, de 7,2 GW. Estas cifras mostram o incrível potencial dos ventos.
Nem tudo é perfeito, por enquanto, pois as altas torres começaram a surgir recentemente e muita coisa irá ser aperfeiçoada nos próximos anos. A poluição sonora perturba e também acontece uma certa poluição visual, mas tudo isso será resolvido rapidamente.
Também acontecem absurdos, nessa época de pesquisas: já foi implantada uma torre eólica de US$ 67,5 milhões, com potência de 10 MW e altura de 164 metros, mais alta que qualquer edifício brasileiro. Puro exagero ou esnobismo, pois as torres menores são mais econômicas.

Nova Belo Monte

Os investimentos em torres eólicas vão somar R$ 30 bilhões até 2014, em todo Brasil. Serão 280 parques, com capacidade de gerar mais de 7,2 mil megawatts (MW) de energia - metade para consumo efetivo. São números comparáveis com os da hidrelétrica de Belo Monte, a usina que tem gerado críticas até de artistas globais. As torres eólicas não acarretam discussões. Por conta da pressão de ambientalistas, muitos empresários estão fugindo da energia hi­drelétrica, passando a investir em energias renováveis. É o caso da CEMIG, LIGHT, CPFL Energia, que aportaram capital à Renova. A própria CPFL fundiou-se com a ERSA, do Banco Pátria, e criou a CPFL Renováveis, já operando 210 MW de eólicas e vai construindo parques que vão somar 550 MW, a maior parte na região de Parazinho (RN).
Os ventos potiguares são tão promissores que até 2014 o Estado vai abrigar sozinho um terço de todos os investimentos do país para a construção de 83 parques com capacidade de gerar 2,3 mil MW. De acordo com o secretário de desenvolvimento do Estado, Benito Gama, para o próximo leilão de energia do Governo Federal, foram concedidas licenças ambientais para 62 novos parques na região. "A implantação das torres eólicas já gera em algumas cidades mais empregos que a própria prefeitura", afirma o secretário estadual. De fato, em Parazinho, são ao todo 700 empregos diretos gerados pelas obras da CPFL. A empresa está colocando 98 torres nos parques Santa Clara, que tiveram a energia vendida no primeiro leilão do Governo Federal, em 2009. "Só para Santa Clara arrendamos 2,2 mil hectares de terras, de grandes fazendeiros", conta o diretor de operações da CPFL Renováveis, João Martin.
As torres e aerogeradores da CPFL são fornecidos pela Wobben e fabricados dentro do próprio canteiro de obras da empresa. As torres são todas com acabamento de concreto, diferentemente daquelas que estão chegando à região de Caetité, na Bahia, para atender a Renova.
A GE é a principal fornecedora na Bahia. As torres são de aço e todas transportadas de Pernambuco até Caetité. A Renova está erguendo 180 torres na região, que vão gerar pouco menos de 300 MW. Mas o projeto total chegará a 1,1 mil MW, sendo que 400 MW são de energia que foi vendida para a Light. O vice-presidente de operações da Renova e um dos fundadores da empresa, Renato Amaral, diz que foi estratégico para a empresa fazer a parceria com a Light, justamente para vender a energia no mercado livre. Os preços do mercado regulado caíram fortemente e a compe­tição está cada vez mais dura, com cada vez mais grupos estrangeiros chegando ao Brasil. A éolica que, no Proinfa, a preços sem correção de cinco anos atrás, foi vendida a mais de R$ 200 o MW, chegou a R$ 100 no último leilão, que aconteceu em meados de 2011.

Bahia

A corrida já está adiantada, embora esteja somente no começo: um grupo de investidores paranaenses encontrou no sertão da Bahia o que eles também classificam como “Pré-sal do Sertão”, embora apenas referindo aos ventos que sopram em extensas áreas da Bahia.
A Empresa Paranaense de Energia (EPP), formada por empresários com atuação em diversos setores, está desbravando novos territórios e descobriu o paraíso nordestino. Está apenas no começo, mas já conta com três projetos de geração eólica no interior da Bahia.
A carteira de investimentos na região passa de R$ 6 bilhões e tem um potencial de geração de 1,7 mil megawatts (MW), equivalente à da usina de Foz do Areia, segunda maior hidrelétrica do Paraná, menor apenas que Itaipu. Esta energia é suficiente para uma população de 8 milhões de pessoas.
Ainda há gente pensando que as energias alternativas (solar, eólica, etc.) são inferiores à hidrelétrica, mas é uma oportunidade sem igual para investimentos.
“Fomos do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte em busca de locais para investimento” - afirma Luiz Fernando Cordeiro, diretor executivo da EPP. “Na costa do Nordeste, porém, enfrentamos uma forte especulação imobiliária. Já na Bahia, encontramos uma nova fronteira, com condições técnicas favoráveis e uma velocidade média do vento de 10 metros por segundo, cerca de 30% acima do que é considerado ideal”, proseegue.

 

As torres irão se espalhar pelo Semiárido. (foto: infoescola.com)


A EPP comprou cerca de 40.000 hectares em três regiões da Bahia e deverão iniciar uma revolução no local. “São áreas sem vocações econômicas, com pequenos municípios extremamente dependentes de repasses de programas federais. Algumas cidades nem sequer têm água potável. A cidade de Gentio do Ouro, antiga área de garimpo, poderá prosperar com a mina de ventos” - continua Luiz Fernando. De um antigo ouro para um bem mais moderno.
Já em 2012, parte da energia poderá ser comercializada em leilões do Governo Federal, além de poder ser comercializada diretamente com compradores industriais. É um grande negócio para o futuro que já está batendo na porta.
“A EPP quer ser referência nacional no segmento de energia limpa e renovável em um horizonte de 20 a 30 anos”, comenta João Elísio Ferraz de Campos, sócio do empreendimento, que já foi governador do Paraná em 1986 e 1987.
Se os nordestinos não exploram suas potencialidades, abrem chance para grupos de outras regiões, com os mesmos resultados sociais para a região. João Elísio não nega: “o empresariado paranaense estava meio parado, tem que se mobilizar e lutar para conquistar novos espaços. Essa experiência na Bahia vai se reproduzir em muitas outras localidades nordestinas, onde o vento, ou o sol, podem ser transformados em riqueza”.

Poço de graça

“As águas do rio São Francisco não seriam suficientes para a construção das torres eólicas que começam a ser construídas no Sertão” - ironiza o sertanejo. O certo é que, para cada torre, são necessários - no mínimo - entre 40.000 a 60.000 litros de água. Em casos espe­ciais, o consumo de água pode chegar até 120.000 litros por torre. Ora, até o momento, apenas em 3 cidades - Cae­tité, Guanambi e Igaporã - estão sendo erguidas 180 torres, com prazo para inauguração em junho de 2012. Todas pela empresa Renova, mas há outros parques sendo erguidos por conta de outras empresas, como a Iberdrola e várias outras no Nordeste.
Muitos proprietários estão preocupados, pois acham que a próxima seca poderá encontrar o solo sem qualquer água. Em 2010 aconteceu uma forte seca e a prefeitura de Guanambi teve que se valer de carros-pipa para as escolas. Já os técnicos do Inema - Instituto do Meio Ambiente da Bahia dizem que é muito raro que a água seque, depois de perfurado o poço artesiano.
Para cada poço é preciso uma outorga do Inema e a autorização do proprietário da terra. O poço irá ficar para o proprietário da terra, depois de 2 anos de uso. O vereador Manoel Magalhães, de Igaporã, assinou um acordo desses e ficou espantado ao ver que até 70 caminhões-pipa, por dia, foram enchidos. “Eu pensava que iriam ser 2 ou 3 caminhões, no máximo” - comentou. Quando esta água for vendida, será lucro para o proprietário, que terá ganhado um poço artesiano, fonte de riqueza e sossego, além da renda extra da energia eólica.
Já Osvaldino Fernando de Souza é categórico: “Eu arrendei as terras para duas torres eólicas e fizeram o poço, sim, mas eu não deixo ninguém tirar água, pois ela pode faltar, um dia”.
Para o sertanejo, por enquanto, a imagem do poço é altamente convidativa, pois em 99% dos casos, representa um sonho! Para conseguir um poço, ele arrenda todas suas terras, com facili­dade.

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