sexta-feira, 21 de junho de 2024

 

Canteiros agroflorestais “semeiam” agroecologia em assentamentos.


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Plantio de canteiro agroflorestal no assentamento União de Todos, em Paulistânia/SP - Foto: João Henrique de Sousa Pires

Afamília da agricultora Clarice Pedro Guimarães - do assentamento União de Todos, em Paulistânia (SP) -, ao fazer a colheita de alface que seria comercializada em Bauru (SP) achou que a verdura estava mais “vistosa” e macia que de costume. A diferença é que foi colhida em um canteiro agroflorestal, onde divide espaço com bananeiras, árvores nativas e outras espécies.

Já foram criados nove canteiros como esse, de 10 metros quadrados, em assentamentos da reforma agrária na região de Iaras e Bauru durante oficinas de capacitação em agroecologia. As atividades integram o esforço do Incra em promover a transição agroecológica nos assentamentos, com o objetivo de promover geração de renda, produção de alimentos saudáveis e preservação do meio ambiente.

O sucesso incentivou a família de Clarice a fazer mais cinco canteiros de 30 metros cada. Além disso, segundo ela, o interesse pelos sistemas agroflorestais está aumentando no assentamento e mais famílias estão solicitando cursos. “A gente quer aprender mais. E a gente indica pra todo mundo”, diz.

Três princípios
Segundo o técnico Diogo Mazin, que atua na equipe responsável pelas oficinas na região, a capacitação em canteiros agroflorestais se apoia em três princípios: o uso de espécies arbóreas, o consórcio de espécies e a cobertura dos canteiros com matéria orgânica. No plantio das árvores, opta-se preferencialmente por espécies nativas da região. O consórcio propicia a diversificação, com diferentes espécies no mesmo canteiro. E a cobertura fornece nutrientes para o solo, protege contra a erosão e mantém a umidade.

Outra particularidade do projeto é aproveitar os recursos disponíveis no assentamento, dispensando, sempre que possível, a compra de insumos. Isso proporciona a redução de custos. Também é possível fazer o controle de pragas sem o uso de venenos, o que evita a contaminação do alimento e do meio ambiente.

Clarice explica que, graças à cobertura de matéria orgânica, o canteiro dá menos trabalho, não há necessidade de capinar nem de regar com frequência. “A gente viu que segura muito a água, a terra fica bem úmida. Estamos molhando menos a plantação. Antes, o mato crescia toda semana e a gente tinha que carpir com a enxada. E agora, não precisa mais disso”, afirma.

Diogo destaca que, além do reflorestamento com espécies de árvores nativas, as práticas agroecológicas promovem a diversificação de culturas em um mesmo espaço. “Mesmo quem trabalha com hortaliças não precisa ter uma monocultura de alface. Já se sabe que é possível ter alface e rúcula no mesmo canteiro, por exemplo, com boa produtividade”, assegura.

Parceria
As oficinas são realizadas no âmbito do projeto "Construção participativa de ações e diretrizes de políticas públicas de extensão rural em agroecologia e desenvolvimento sustentável", promovido por meio de Termo de Execução Descentralizada (TED) entre Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Incra e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).

Entre as ações prioritárias do projeto está a formação em práticas e iniciativas agroecológicas, potencializando aquelas já em desenvolvimento nos assentamentos federais e comunidades quilombolas paulistas. As atividades se apoiam em princípios pedagógicos da educação popular e da pesquisa participante.

A região de Bauru e Iaras, onde atua a equipe de Diogo Mazin, possui 16 assentamentos em 12 municípios, com aproximadamente 1.468 famílias. Mas a transição agroecológica está sendo incentivada em todo o estado de São Paulo, sendo que as atividades de capacitação preveem também o intercâmbio e a troca de saberes entre os assentamentos.

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