SPD e a revolução do agro Brasileiro
Que a atividade agrícola brasileira deu
um salto qualitativo gigante no último meio século, ninguém contesta. A
dúvida pode residir sobre as causas que levaram o agronegócio brasileiro
a ter tamanho desenvolvimento, em tão curto espaço de tempo.
Certamente foram muitas as causas, mas
neste espaço limitado comentaremos apenas a introdução e implementação
do Sistema Plantio Direto (SPD) nas lavouras do Brasil, a principal ou
uma das principais tecnologias que mais impactaram o desenvolvimento do
agronegócio nacional. Hoje no Brasil, o SPD está presente em mais de 30
milhões de hectares (Mha) de lavouras e estima-se que sejam mais de 110
Mha em todo o Planeta. No Brasil, esta novidade tecnológica foi
particularmente importante na introdução e estabelecimento de uma
segunda cultura no período outono/inverno; particularmente do milho safrinha, atualmente a principal safra do cereal.
Para o estabelecimento do SPD, foram
fundamentais o desenvolvimento de maquinário adaptado para o novo
sistema de cultivo e o término de vigência da patente do herbicida
glifosato e sua consequente queda do preço, o que permitiu a dessecação
pre plantio das lavouras, a baixo custo. Não menos importante foi o
desenvolvimento da soja transgênica resistente ao herbicida, que
promoveu aumento da produtividade pela redução da mato competição.
A bem da verdade, nos primórdios da
agricultura no Planeta, os cultivos eram realizados sem o uso de arados e
grades. Estes equipamentos surgiram muitos séculos depois como resposta
ao desejo dos agricultores por facilidades no manejo da terra. Depois
de décadas de uso do arado e da grade, essas ferramentas trouxeram mais
desvantagens do que vantagens aos produtores, o que fez pesquisadores
ingleses questionarem as conveniência do seu uso e na década de 1940
iniciaram-se estudos visando conhecer a real necessidade de usar tais
equipamentos no preparo do solo. Descobriu-se que o arado e a grade são
dispensáveis, desde que não haja competição das plantas daninhas com as
culturas.
Embora a Inglaterra tenha sido pioneira
nos estudos sobre o uso do SPD na agricultura, por lá ele não é muito
utilizado, de vez que, na latitude da Inglaterra, o solo se apresenta
muito frio no início da primavera, o que dificulta a germinação das
sementes das culturas de primavera/verão. Além deste inconveniente, a
falta de máquinas e de herbicidas adequados para o manejo da nova
tecnologia, dificultaram o seu rápido estabelecimento nos anos 1970 e
1980.
O primeiro herbicida utilizado na
dessecação pré-plantio no SPD foi o Paraquat, surgido no início dos anos
70, seguido pelo Glifosato, uma década depois. As primeiras semeadoras
para o SPD eram deficientes no corte da palhada e embuchavam com
facilidade. A primeira semeadora com disco ondulado para corte frontal
da palha foi lançada em 1966, pela Allis Charmers nos EUA e,
posteriormente, este mecanismo foi substituído pelo disco duplo
defasado, o qual passou a equipar a maioria das semeadoras comerciais do
Brasil e do exterior. Em meados da década de 70 iniciou-se a fabricação
das primeiras semeadoras para plantio direto no Brasil (Rotacaster).
O agricultor pioneiro no uso continuado
do SPD foi o Sr. Herbert Bartz, de Rolândia, PR, quem importou, em 1972,
máquinas dos EUA e da Inglaterra para iniciar a operação do novo
sistema de plantio no Brasil. Não muito tempo depois, ele foi seguido
por outros três pioneiros de Ponta Grossa, também do PR (Manoel Pereira,
Jack Djiskstra e Wibe Jagger), na promoção da adoção do sistema.
O SPD traz diversos benefícios para o
solo, embora nos primeiros quatro ou cinco anos a produtividade do campo
possa cair em função da não incoporação dos restos culturais, o que
priva o solo dos benefícios nutricionais advindos da decomposição desses
resíduos. Por esta razão, é recomendado adicionar fertilizantes
nitrogenados nesse período. Dentre os benefícios do plantio direto está o
enriquecimento do solo com matéria orgânica, a redução da compactação do terreno,
a maior retenção e infiltração da água no solo, assim como, a redução
da erosão e perda de nutrientes pelo arrasto da camada superficial do
solo - a mais rica em nutrientes.
Previamente à implantação do SPD, o
terreno deve ser vistoriado para corrigir os defeitos causados pela
erosão e para incorporar calcário na presença de acidez, de vez que o
solo não mais deverá ser revolvido após estabelecido o novo sistema. O
sucesso do sistema depende muito do manejo da palhada (viva ou morta), a
qual responde pela principal causa da pouca erosão de um terreno
protegido por cobertura permanente com biomassa.
O deslanche da agricultura brasileira
tem início na década de 1970, quando também teve início a adoção do SPD e
o estabelecimento do cultivo do milho safrinha. Se bem não seja o único
responsável pelo excelente desempenho da atividade agrícola desde
então, o SPD foi uma das principais causas e merece reconhecimento.
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