Cientistas querem criar tomates que já vem apimentados do pé
O
tomate é um fruto complexo. Seu sabor é, na verdade, uma combinação que
estimula a língua em de quatro formas sensoriais diferentes, que nós
identificamos como sabores: doce, azedo e salgado, além do sabor umami. Mas
parece que isso é pouco pros cientistas – uma equipe da Universidade Federal de
Viçosa (UFV) quer produzir
tomates que apimentados.
Escrevendo
no periódico Trends in Plant Science, os cientistas explicam como pretendem
estimular, no fruto, a produção de capsaicina. É este o nome do composto químico
que dá às pimentas o sabor picante. Ela é responsável por ativar as células
nervosas da língua que lidam com a dor induzida pelo calor – e cria a sensação
apimentada, de “queimadura”, que conhecemos.
Existem
pelo menos 23 diferentes tipos de capsaicinoides. O ardor das pimentas é
determinado pelos genes que regulam a fabricação desses compostos – as pimentas
mais “fracas” apresentam mutações que diminuem este processo.
O
que os cientistas descobriram é que não é difícil fazer o tomate produzir capsaicina.
A pimenta e o tomate são “primos”, separados pela evolução há 19 milhões de
anos (um evento três vezes mais recente que os dinossauros – ou seja, foi ontem
na escala evolutiva).
Segundo
os cientistas, portanto, o primo não apimentado tem todos os genes necessários
para produzir capsaicina, falta só a “maquinaria” celular para ativá-los. Mas
com a engenharia genética de hoje, isso de ativar genes é tarefa simples.
De
acordo com o artigo, uma das técnicas que pode ser efetiva é a CRISPR, que
permite que cientistas modifiquem o genoma com uma maior precisão. Segundo
Augustín Zsögön, co-autor do estudo, a equipe de cientistas já está trabalhando
nisso, e espera ter novidades até o final do ano.
Tudo
isso, naturalmente, levanta a questão: por que os cientistas estão tão
interessados em criar tomates apimentados?
Simples: eles serão
uma maneira fácil
de colher capsaicina.
“Capsaicinoides
são compostos muito valiosos: eles são usados na indústria de armas para spray de
pimenta, mas também
em anestésicos.
Há pesquisas mostrando que eles promovem a perda de peso”, disse Zsögön. Além
disso, já foram comprovadas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, e
até benéficas no combate ao câncer.
Tirar
esse capsaicina das pimentas, porém, exige bem mais esforço. Para crescerem
saudáveis, pimentas precisam se desenvolver ao ar livre, em campos abertos – o
que as deixa suscetíveis a condições naturais prejudiciais, como alta chuvas e
temperaturas. Além disso, seus níveis de capsaicina variam amplamente, com base
no ambientes em que são cultivadas.
Como
se já não bastasse, as pimentas também são vulneráveis a
doenças
transmitidas pelo solo, e a germinação
de suas sementes é
bastante lenta. Agora, compare isso com nosso pau pra toda obra, o tomate:
resistente a doenças, cresce normalmente em ambientes fechados, com alto
rendimento e é muito fácil de cultivar – dá em quase todo tipo de solo. Com
tomates picantes, os cientistas acreditam que poderemos ter um caminho
promissor para a produção de capsaicinoides a nível comercial.
Mas
nem tudo são flores: os cientistas não podem afirmar, com certeza, que os
ajustes nos genes do tomate não afetarão fatores como a produtividade e a
qualidade das colheitas. Mas mesmo com esses obstáculos em mente, os autores do
estudo estão otimistas com as boas possibilidades.
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