Trabalho familiar resulta em aumento da produção em assentamento
João Batista cultiva café, milho e mandioca em sistema de consórcio, além de pastagem para alimentar o gado
A força de trabalho familiar é uma das responsáveis por alavancar a produção nas pequenas propriedades rurais do país. No caso dos beneficiários do Programa Nacional da Reforma Agrária (PNRA), esse cenário não é diferente. O trabalho da família assentada assegura a viabilidade econômica do lote e a gestão da produção.
Essa é a história de duas das 77 famílias instaladas no assentamento Floresta - localizado em Alegre, município da região Sul do Espírito Santo e distante cerca de 200 quilômetros da capital Vitória. Criado em 1996, o assentamento ocupa uma área de 680 hectares. Considerando-se o relevo e o microclima, o local caracteriza-se por possibilitar escolhas entre produção de leite e plantio de café ou mesmo de exploração agregada dessas atividades.
Família Pirovani
O casal João Batista (57) e Rosângela Pirovani (51), desde o início no assentamento apostaram na diversificação das culturas como o café, milho e a mandioca, ou aipim como é conhecida a raiz em outras partes do país. O casal também investiu em outras atividades produtivas em seu sítio, como criação de gado de leite e a charcutaria, que é o preparo de embutidos como salsichas e derivados.
Em 1996, quando chegaram no local plantaram cerca de 3,5 mil exemplares de café arábica. Hoje, esse número está reduzido a cerca de dois mil pés. Em 2022, foram colhidas 28 sacas do produto pilado (beneficiado) que, segundo o preço estimado em final de novembro, geraria renda aproximada de R$ 18 mil. Entre 2010 e 2019 eles plantaram 5,1 mil pés da variedade conilon, dos quais cerca de 2,5 mil já estão produzindo. Em 2022, os agricultores colheram 34 sacas do produto beneficiado que estão estocadas aguardando melhor preço.
A trabalho com a criação de gado com vistas a atividade leiteira começou em 2004, com a aquisição das primeiras vacas. No atual plantel são 12 vacas, das quais seis em lactação, e nove bezerros (outra fonte de renda) – somente a comercialização de sete bezerros, em 2022, resultou no acréscimo de R$ 9 mil ao orçamento familiar. Em outubro do ano passado, a entrega de aproximadamente 1,6 mil litros de leite a um laticínio da região rendeu quase R$ 3,8 mil.
O plantio de milho e de aipim / mandioca servem para alimentar o gado e a criação de porcos; esta última responde por agregar outra fonte de renda ao casal. Em 2022, a venda de leitões gerou renda de R$ 2,5 mil e a produção de linguiças ultrapassou os R$ 1 mil.
União
A força de trabalho da família conta com o apoio dos filhos gêmeos, de 22 anos. E muito do sucesso no lote é creditado aos recursos disponibilizados pelo Governo Federal em suas várias modalidades, desde o acesso ao Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (Procera Custeio) em 1998, no valor de R$ 419, até o referente à Reabilitação de Crédito Produção, em 2004, no valor de R$ 458,70. Também foram acessados os créditos Instalação Apoio Inicial, em duas parcelas no ano de 1997, perfazendo R$ 1.080,00, Aquisição de Material de Construção, também em 1997, no valor de R$ 2 mil, e Recuperação de Material de Construção, em 2006 e em 2007, no total de R$ 5 mil.
O esforço da família é proporcional às conquistas: reforma da residência realizada anos atrás para torná-la mais confortável, aquisição de veículo de passeio ou de um pequeno trator para facilitar o trabalho de campo. Segundo João Batista, nos próximos anos a ideia é aumentar a produção de leite com a melhoria da qualidade do plantel.
Outra história de trabalho familiar é dos Oliveira. Adilson Abreu de Oliveira (60), a esposa Maria Isabel Mauri de Oliveira (56) e o filho Valdevan Mauri de Oliveira (37) levam muito a sério o trabalho da família quando o assunto é a produção do lote.
No assentamento desde sua criação, eles passaram a diversificar as atividades agropecuárias em 1997. Cultivaram oito mil pés de café e destinaram uma área de pastagem para as primeiras 20 vacas adquiridas. De lá para cá muita coisa mudou, exceto a vontade de produzir cada vez mais e com a qualidade desejada. Hoje a quantidade de café beira os 23 mil pés plantados e a estimativa é produzir em 2025 cerca de 500 sacas do grão já beneficiado, o equivalente a R$ 250 mil - considerando o atual preço de mercado. Comparada à colheita de 2022, que atingiu a marca de quase 50 sacas e rendeu pouco mais de R$ 33 mil, é um salto de 10 vezes na produção.
Entre 2020 e 2021, a roça de milho plantada com o objetivo de garantir a silagem na alimentação do gado chegou a 80 toneladas de forragem processada para o trato de 23 animais, dos quais 11 vacas em lactação. A média anual em 2022 foi de 60 mil litros, mas em anos anteriores, com maior plantel, já atingiram na ordenha aproximadamente 90 mil litros / ano. No mês de outubro passado, por exemplo, a entrega à cooperativa parceira de cerca de 4,8 mil litros rendeu R$ 11 mil. E a venda de alguns animais, em 2022, agregou R$ 56,8 mil ao orçamento familiar.
Recursos
Os créditos disponibilizados pelo Governo Federal, em suas várias modalidades, à família Oliveira são similares aos da família Pirovani. Com exceção do valor destinado à Reabilitação de Crédito Produção, da ordem de R$ 914,03. Esses recursos foram importantes ao longo da trajetória da família na aquisição de animais e de insumos na produção do café.
Parte das benfeitorias construídas e do material utilizado na produção decorre de investimentos próprios da família. "Somente em 2022, foram investidos mais de R$ 6,6 mil na aquisição de seis mil mudas de café, na instalação do sistema de irrigação e na aplicação de adubo. E isso é fundamental se queremos que a produção tenha bons resultados”, destaca Adilson. Ao comentário do pai, Valdevan acrescenta que, em 2025, “a produção de café no lote deve alcançar números expressivos, superando em muito o que vinham conseguindo nos últimos anos”.
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