sábado, 29 de abril de 2023

 

Mudanças climáticas provocam danos na caatinga brasileira

 

Uma constatação: a caatinga perdeu mais de 10% de vegetação nativa nos últimos 37 anos e quase 17% da água. Considerado o bioma menos conhecido do Brasil, devido à menor quantidade de estudos científicos e coleta de amostras, a Caatinga possui grande riqueza de ambientes e espécies, tratando-se do conjunto de ecossistemas semi-áridos mais biodiverso do mundo. O bioma ocupa pouco mais de 11% do território nacional, onde vivem 27 milhões de pessoas, englobando 10 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, além do extremo leste do Maranhão e do norte de Minas Gerais.

Rica em biodiversidade, a Caatinga é um bioma 100% brasileiro que abriga cerca de 4 mil espécies de plantas, de acordo com a publicação Flora do Brasil (2021), coordenada pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Destas, cerca de 30% encontram-se sob alguma categoria de ameaça de extinção. Com relação às espécies da fauna, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estima que das 1.182 espécies catalogadas, 125 encontram-se em alguma categoria de ameaça de extinção.

A médica veterinária Flávia Miranda, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), explica que o combate à desertificação, processo de degradação ambiental que ocorre em áreas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, agravado por queimadas e desmatamento, com a retirada da vegetação nativa para a expansão de atividades agrícolas e pecuárias, colocam a biodiversidade em risco no bioma.

“Todo esse cenário provoca a perda de habitat para diversas espécies. É importante lembrar que a fauna da Caatinga é muito rica e interessante, com espécies endêmicas que são símbolo do nosso país, como o tatu-bola-do-nordeste (Tolypeutes tricinctus), além de répteis, aves e roedores”, frisa a pesquisadora. “O tatu-bola, espécie ameaçada de extinção, ocorre sobretudo na Caatinga, além de um pedacinho do Cerrado”, salienta a especialista, referindo-se ao animal escolhido como mascote da Copa do Mundo de Futebol de 2014. A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e o ICMBio colocam o tatu-bola-do-nordeste como espécie ameaçada de extinção, com estado de conservação vulnerável.

Miranda, que é coordenadora científica do Programa de Conservação do Tatu-Bola pela Associação Caatinga, defende o fortalecimento de unidades de conservação para frear a perda de habitat dos animais. O Parque Estadual do Cânion do Rio Poti, criado em 2017 e localizado no município de Buriti dos Montes (PI), é um exemplo desta atuação responsável. Além de manter condições adequadas para a proteção do tatu-bola, entre outras espécies, o parque possui cenários de grande beleza cênica e abriga sítios de gravuras rupestres consideradas de grande relevância antropológica.

Segundo levantamento realizado em 2022 pelo MapBiomas a partir da análise de imagens de satélite, a redução de áreas naturais na Caatinga superou os 6 milhões de hectares nos últimos 37 anos, representando 10,54% da área mapeada desde 1985. Neste período, a Caatinga perdeu mais de 160 mil hectares de superfície de água – um decréscimo de 16,75%. Com exceção de Sergipe, todos os estados da Caatinga tiveram redução de superfície de água.

De acordo com o Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, cerca de 9% do bioma está coberto por unidades de conservação, sendo pouco mais de 2% por unidades de proteção integral (Parques, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas), que são as mais restritas a atividades humanas.

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