domingo, 21 de janeiro de 2024

 

Dez anos de estudos de pesquisadores brasileiros e americanos descobrem o que pode influenciar na produção das castanheiras do Brasil

EMBRAPA

Fatores como o relevo, a variação da pressão de vapor do ar e mudanças no clima influenciam na produção dos ouriços das castanheiras (Bertholletia excelsa Bonpl.). A descoberta é de pesquisa feita por cientistas da Embrapa, da Universidade Federal do Acre (Ufac) e das universidades norte-americanas do Alabama (UA) e da Flórida (UFL). Durante dez anos, eles acompanharam e registraram a produção natural de frutos em 258 castanheiras centenárias distribuídas em duas comunidades no estado do Acre: Reserva Extrativista Chico Mendes e Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes. O trabalho foi publicado pela revista Nature, no artigo “Comparative models disentangle drivers of fruit production variability of an economically and ecologically important long-lived Amazonian tree”. A comercialização do produto da árvore, a castanha-da-amazônia (ou castanha-do-pará, ou ainda castanha-do-brasil), complementa a renda de milhares de famílias da Região Norte.

A equipe aplicou um modelo matemático que identificou as associações entre a variação de produção e as suas prováveis causas. Os anos com estação seca mais severa, ou seja, pouca chuva e elevada temperatura entre junho e agosto, ocasionaram redução na produção de frutos. Os pesquisadores descobriram que o período de seca é muito importante na determinação da produção de frutos da castanheira, pois é a época do ano em que as árvores estão iniciando a floração. O estudo comprovou que a pressão de vapor do ar também influenciou na produção.

O estudo registrou que as árvores localizadas em pontos de maior altitude no terreno produziram mais frutos comparadas àquelas que cresceram em lugares de baixio na floresta. Outros fatores significativos revelados pelo modelo foram a quantidade dos minerais fósforo (P) e potássio (K) disponíveis no solo. Maiores níveis desses minerais no solo resultam em maiores quantidades de frutos produzidos pelas árvores.

A pesquisadora Embrapa Rondônia Lúcia Wadt, chefe-geral da Embrapa Rondônia, que participou do estudo, explica que muitas espécies de árvores apresentam exigências específicas que, quando não satisfeitas, promovem uma grande variação da produção de frutos entre os anos, inclusive na mesma planta. É o caso da castanheira, em que uma mesma árvore produziu 400 frutos em um ano, e apenas 20, posteriormente, por exemplo. A diferença produtiva também é observada entre árvores de um mesmo castanhal, o que intrigou produtores e pesquisadores e os motivou a tentar entender o fenômeno.

Ela conta que o objetivo da pesquisa foi subsidiar com informações que possam colaborar para o planejamento familiar e desenvolver a economia extrativista. Os cientistas também pretendiam identificar características importantes para a previsão de safra em castanhais nativos e gerar informações para o manejo de castanhais, sejam estes nativos ou cultivados.

O modelo do clima revelou uma relação entre a área do alburno e a produção em anos de seca severa (piores condições ambientais). A boa produção de alguns indivíduos mesmo em anos com seca severa foi associada a árvores nas quais essa área era maior. A pesquisadora da Embrapa esclarece que isso se dá porque esses indivíduos possuem maior capacidade de armazenar água no tronco e, por isso, resistem mais ao estresse ambiental. A área de copa das árvores foi outro fator importante relacionado à produção: quanto maior a copa, mais frutos eram gerados.

Para Lúcia Wadt, esse estudo desvendou com mais detalhes os fatores bióticos e abióticos associados com a produção de frutos da castanheira. “O achado inédito desse trabalho foi o efeito da área do alburno, como indicador da ‘imunidade’ da árvore contra os efeitos das mudanças climáticas. As castanheiras com maior área de alburno não sofrem muito em anos de seca. Isso pode ser um reflexo da nutrição mineral da planta”, avalia a pesquisadora.

A professora Karen Kainer, da Universidade da Florida, que também assina o artigo, considera que os resultados fortalecem a ideia básica de que a castanheira é uma árvore extraordinária. Além de produzir anualmente frutos que contribuem para a renda dos coletores, a espécie atua também como moderador do ecossistema florestal, uma vez que apresenta mecanismos para resistir às mudanças climáticas.

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