domingo, 29 de novembro de 2020

Histórias do Campo

 

Histórias do campo – Uma crônica de Antonio Travassos

   

Hoje muito de fala sobre a frase: “Eu te amo”, que se desgastou, se vulgarizou, que se fala sem ter esse sentimento tão puro, de forma prematura entre os casais. Conheci uma menina que na segunda semana de namoro chamava o namorado que eu conhecia de “vida”. Era, amor da minha vida para lá, amor da minha vida para cá e assim durou por três meses (prazo para paixão) . Outro dia, ouvindo um programa de rádio FM religiosa um palestrante convidava para participar de um cursilho de homens.

Me inscreveram (Dra. Fernanda) e fui, mesmo a contragosto. Ao chegar o dia marcado segui para o local onde havia uma recepção adorável de apresentações, abraços, beijos, sorrisos emotivos e despedidas. Até ai tudo bem. Começou a reunião e o palestrante incitante sobe ao palco pega o microfone , fica calado, olhando-nos por uns dois minutos, fitando-nos nos olhos, procurando nossa alma e diz a plenos pulmões: – Quem aqui ama a sua mulher? Olhei para a plateia que como eu, todos estavam levantando o braço. E ele repetia: – Quem ama sua esposa levante o braço, levante o braço. Era uma euforia louca e de repente ele fala: – Há quanto tempo você não diz isso a ela? Há muito tempo, há algum tempo, raramente diz, nunca disse. Pois bem, chegou a hora de abrir seu coração, peguem seus celulares e mandem uma mensagem pra ela dizendo: – “Eu te amo”. Pedido feito, pedido cumprido, todos correram ao celular e mandaram a mensagem determinada para suas mulheres.

Estávamos todos eufóricos. Deixamos os celulares com a coordenação do cursilho e fomos para as palestras seguintes com os relatos de homens com todo tipo de conflitos emocionais e culposos como: traidores, putanheiros, boêmios, pouco sentimentais, pegajosos, tudo que se possa imaginar. Eu mesmo, nunca tinha visto tanto homem chorando e pedindo perdão publicamente. Mas eu meio velhaco, ouvia um ouvia outro e saia escapando. Após a lavagem de roupa suja de atributos masculinos desse cursilho, nos deram o caminho da salvação, pedir perdão a esposa e a Deus pelo serviço safado que fazíamos no caminha da perdição. E agora no novo caminho, a emoção tomava conta da plateia, uns se ajoelhavam e pediam perdão, outros choravam, outros quietos pensativos e eu olhando aquilo assombrado. Um bocado de homens acuados, pedindo perdão e se sentindo renovados. Passado todo processo de culpa e de nova vida, trazem-nos o celular pedem para lermos as respostas das nossas mulheres. Vou só enumerar algumas que me chamaram a atenção:

– O que você fez?

– Você está bebendo aí?

– Você está com sentimento de culpa?

– Me diga logo o nome dessa rapariga, porque se eu descobrir, vou quebra a

sua cara.

– Que porra você andou fazendo?

– tá ficando mole aí, é?

E a última é que me chamou mais minha atenção:

– Quem é que me mandou essa mensagem?

Vejam bem, queridos leitores, essa categoria de gênero que está ficando escassa e que nãopresta pra nada, está indo até para terapia religiosa, porém, uma coisa é certa, todos levantaram o braço quando perguntaram se amavam suas mulheres.

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