MILHO
Milho brasileiro ganha força e ameaça domínio dos EUA em exportações
O Brasil colheu uma safra recorde neste ano, superando o ciclo anterior em cerca de 19 milhões de toneladas
Os
exportadores de milho do Brasil estão desfrutando de um ótimo ano graças
a uma grande safra e a melhorias logísticas, ampliando o status do país
como um importante fornecedor global do produto e ameaçando o
tradicional domínio dos Estados Unidos no setor.
Os EUA devem permanecer como principal
país exportador por ora, mas recentemente o milho brasileiro capturou
mais negócios de clientes típicos dos EUA. Parte disso se deve a
circunstâncias verificadas neste ano, mas alguns dos ganhos podem ser
mais permanentes.
Até outubro, o Brasil havia exportado 34,7
milhões de toneladas de milho em 2019, impressionantemente 60% acima do
recorde anterior para o período, de acordo com dados oficiais. O número
inclui um recorde mensal de mais de 7 milhões de toneladas, registrado
em agosto.
Em comparação, os EUA embarcaram cerca de
36,2 milhões de toneladas do grão durante o mesmo período, queda de 40%
em relação ao ano anterior.
O Brasil colheu uma safra recorde neste ano, superando o ciclo anterior em cerca de 19 milhões de toneladas.
No ano passado, a vizinha Argentina, outra
importante fornecedora global de milho, sofreu com uma forte seca,
assim como o Brasil.
A oferta mais fraca dos países
sul-americanos no ano passado fez com que compradores globais de milho
buscassem pelo produto norte-americano, mais barato e abundante,
elevando as exportações do país para perto de níveis recordes.
Agora, no entanto, o jogo virou. As amplas
safras da América do Sul em grande parte deste ano foram oferecidas com
descontos significantes em relação à oferta dos EUA, que foi impactada
pelo tempo excessivamente úmido durante a fase de desenvolvimento da
cultura.
O governo norte-americano projeta que as
exportações do país cairão para uma mínima de sete anos, embora
analistas possuam o temor de que a estimativa ainda seja muito otimista.
O Brasil hoje exporta quase quatro vezes a
quantidade de milho que exportava há uma década, com as vendas
decolando após uma série de safras ruins dos EUA entre 2010 e 2012. Nem
todos os clientes dos dois países são os mesmos, mas muitos deles
compram o grão tanto dos EUA quanto do Brasil, e as tendências recentes
sublinham o risco que a expansão da oferta sul-americana oferece às
exportações dos EUA.
COMPARANDO CLIENTES
México e Japão são de longe os principais compradores estrangeiros do milho norte-americano, sendo responsáveis por 32% e 27%, respectivamente, de todos os embarques dos EUA em 2019 até setembro. Mas esses países também estão entre os principais destinos do milho do Brasil, embora o México não tenha sempre sido um grande “player” no passado.
México e Japão são de longe os principais compradores estrangeiros do milho norte-americano, sendo responsáveis por 32% e 27%, respectivamente, de todos os embarques dos EUA em 2019 até setembro. Mas esses países também estão entre os principais destinos do milho do Brasil, embora o México não tenha sempre sido um grande “player” no passado.
O Brasil embarcou cerca de 1,4 milhão de
toneladas de milho para o México neste ano (até outubro), quase quatro
vezes mais que o recorde anterior para o período. O volume de outubro,
de 518.345 toneladas, foi uma máxima histórica para qualquer mês.
O recente desejo mexicano pelo milho
brasileiro foi amplamente guiado pelo menor custo de aquisição na
comparação com a oferta dos EUA —assim, é inevitável que em algum
momento o pêndulo volte a favorecer os EUA caso a produção do Brasil
tropece, por exemplo.
O fato, porém, é que embarcar milho para o
México está cada vez mais fácil para o Brasil, considerando os maiores
volumes com fluxo a partir dos portos do Norte do país, substancialmente
mais próximos ao destino final. Além disso, recentes projetos para a
expansão da capacidade portuária do México, especialmente no porto de
Veracruz, devem facilitar ainda mais a relação comercial. Esses são
fatores que devem representar um obstáculo mais permanente ao grão
norte-americano.
Por exemplo, cerca de 1,97 milhão de
toneladas de milho deixaram portos do Norte-Nordeste brasileiro no mês
passado, algo em torno de 32% do total, de acordo com dados da agência
marítima Williams. Em outubro de 2015, mês que mantinha o recorde
anterior, cerca de 930 mil toneladas do grão foram processadas na
região, ou 17% do total —e isso significava um grande número à época.
A marca do México nas exportações
brasileiras ainda é relativamente pequena, representando apenas 4% dos
embarques deste ano, mas ainda assim um recorde. Já a fatia do Japão é
muito maior, com 14% do total, próxima à máxima anterior.
Os embarques de milho do Brasil para o
Japão recentemente superaram os dos EUA, totalizando 4,3 milhões de
toneladas nos últimos quatro meses. No mesmo período, os EUA enviaram
1,9 milhão de toneladas para o país asiático, volume mais fraco desde
1972.
Além disso, as vendas de milho dos EUA
para o Japão na temporada 2019/20 figuravam em seus menores níveis em ao
menos duas décadas até o final do mês passado. Já as vendas para o
México foram as menores em quatro anos.
Por outro lado, o Brasil não corre o risco
de ver os EUA roubando seu principal cliente, o Irã. Neste ano (até
outubro), o Brasil exportou 4,8 milhões de toneladas de milho, ou 14% do
total, para o país do Oriente Médio. O Irã já havia sido o mais
importante destino do milho brasileiro nos três anos anteriores, embora o
Vietnã tenha ocupado o espaço em 2015.
Os EUA exportaram pela última vez à República Islâmica em 2015, com uma quantidade de cerca de dois carregamentos.
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