Profetas da chuva do Piauí preveem mais um ano de estiagem
Profetas e profetizas da chuva do Piauí fazem previsões para os próximos meses
Observar
os sinais da natureza através das plantas, pequenos animais e até das
nuvens e ventos é uma prática muito comum entre os agricultores e
agricultoras do Semiárido Brasileiro. Uma tradição passada de geração
para geração e que apesar de toda a tecnologia dos dias atuais continua
mais viva do que nunca. Não tão famoso quanto o evento que acontece em
Quixadá no Ceará, mas tão rico em sabedoria quanto lá, o Piauí também
tem realizado o Encontro dos Profetas e Profetizas da Chuva nos últimos
anos, mais precisamente no município de Pedro II, cidade ao norte do
Estado localizada à 210 km da capital Teresina.
Em 2018, o encontro que reúne sábios agricultores e agricultoras
chegou a sua décima edição. O evento é sempre realizado na propriedade
de um/a dos/as profetas, neste sentido a programação permite que o
anfitrião ou anfitriã apresente aos convidados seu quintal produtivo, ou
quais técnicas de produção agroecológicas ali existem. Este ano o
evento ocorreu na manhã do último sábado, 13, na propriedade de dona
Maria das Graças e seu Raimundo Zaca, profeta que participa do encontro
dos profetas desde sua primeira edição.
Nesta edição, o evento contou com 13 profetas e 01 profetiza, que
relataram seus prognósticos sobre a ocorrência das chuvas na região nos
próximos cinco meses, com base nos sinais da natureza. Entre os sinais
relatados pelos profetas, a experiência da primavera que acontece no mês
de setembro está entre os mais populares. Mas, pequenos animais como a
formiga, o camaleão e algumas plantas também são citados durante os
relatos. “A camaleão apareceu estes dias para se alimentar com as
pastagens que nascem com as primeiras chuvas do ano, mas desta vez ele
não encontrou nada, pois por aqui até agora não choveu, o que não é bom
sinal”, dizia o profeta Raimundo Zaga, agricultor experiente de 67 anos
da comunidade São Braz, local onde ocorreu o encontro este ano.
Antonio Miguel, outro experiente profeta disse durante sua fala que
as chuvas deste ano devem ocorrer abaixo da média na região: “O que eu
vi nas experiências da primavera, foram poucas chuvas para os próximos
meses”, disse seu Antonio. Opinião também defendida por outros profetas
durante suas apresentações. “É preciso que preparemos a terra para o
plantio de forma adaptada, não desmatando, nem queimando nossos
quintais, pois com a terra protegida com uma cobertura de folhas ou
outros materiais orgânicos se torna mais forte durante a estiagem”,
disse o profeta e agricultor José Ferreira.
A fala e observações dos profetas deixam um clima de preocupação,
pois eles costumam acertar a maioria das previsões, assim como ocorreu
em edições anteriores dos encontros dos profetas. Adeodata dos Anjos,
coordenadora do evento, lembra que os acertos nas previsões populares
trazem uma boa autoestima aos profetas, mas ela lembra também que mais
importante do que o acerto nas previsões dos profetas, é a tradição do/a
agricultor/a na observação da natureza, bem como a relação de cuidado
dessas pessoas com os símbolos sagrados como a chuva, a planta ou os
pequenos animais. “Tirar um tempo para observar a natureza, buscar
entender o que ela quer nos falar é algo sagrado que precisamos motivar
as pessoas a não deixarem morrer esta tradição”, ratificou.
A décima edição do Encontro dos Profetas e Profetizas da Chuva do
Piauí deixa uma preocupação no ar, pois a previsão da maioria dos
profetas é de que as chuvas na região devam ocorrer abaixo da média este
ano. Caso isso ocorra, significa a continuidade da grande estiagem no
Semiárido. O período de chuvas na região norte do Piauí, conhecido como
inverno ocorre entre janeiro e abril, algumas vezes até maio. É neste
período também em que o agricultor/a prepara a terra e faz o seu plantio
para buscar garantir o alimento da sua família. Este é também o tempo
em que as famílias guardam a água da chuva na cisterna para utilizar no
verão.
O encontro dos profetas e profetizas da chuva no Piauí tem a
realização do Centro de Formação Mandacaru de Pedro II com o apoio de
outras organizações que assim como o Mandacaru integram o Fórum
Piauiense de Convivência com o Semiárido, também chamado ASA Piauí.
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