quinta-feira, 23 de março de 2023

 

Colheita celebra a força da produção agroecológica da reforma agrária

Colheita celebra a força da produção agroecológica da reforma agrária no Rio Grande do Sul

Expectativa é colher cerca de 16 mil toneladas do grão sem veneno este ano. 

“Queremos que venham, que conheçam nosso trabalho, que nossas cooperativas sejam vistas. A intenção da festa é mostrar nossa força de produção”. As palavras de Ivan Carlos Prado, presidente da Associação dos Moradores do Assentamento Filhos de Sepé se concretizaram nesta sexta-feira (17): milhares de pessoas compareceram à 20ª Festa de Abertura da Colheita do Arroz Agroecológico, realizada no assentamento, em Viamão (RS).

A força está nos números: a expectativa é colher cerca de 16 mil toneladas do grão sem veneno este ano. A produção envolve 352 famílias de 22 assentamentos em doze municípios gaúchos.

“Esta festa é carregada de símbolos. É um recado que vai passar para os outros assentamentos, outros estados. O presidente Lula encomendou ao Incra uma Reforma Agrária que preserve a natureza, que dialogue com as famílias assentadas e e com os movimentos sociais, que produza alimentos. O povo brasileiro precisa comer” disse o presidente do Incra, César Aldrighi, presente no evento.

Finalidade reforçada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira. “A melhor forma de combater a pobreza e miséria no campo é permitir o acesso do trabalhador à terra, ao crédito, às sementes, à assistência técnica. Que possam se desenvolver como nesta terra”, afirmou o ministro na cerimônia de abertura.

Entre as milhares de pessoas presentes, muitas autoridades federais, estaduais e municipais, além da participação de delegações internacionais de Cuba, Venezuela, Argentina e Guatemala. Também acompanhou a abertura da colheita a culinarista e apresentadora Bela Gil.

Estiagem

Em ato simbólico durante o evento, três famílias assentadas em Hulha Negra e Candiota assinaram os primeiros contratos do crédito emergencial em razão da estiagem. Amauri de Souza Motta foi um destes beneficiários. Assentado em Hulha Negra há 23 anos, ele diz nunca ter visto uma seca tão rigorosa. “Sofremos muito, passamos muitas dificuldades. São seis meses sem chuva”, conta o agricultor. Amauri perdeu 80% da lavoura de soja, e espera que o recurso chegue a tempo de garantir alimento para o gado no inverno.

O crédito, anunciado no final de fevereiro durante visita de comitiva ministerial ao município de Hulha Negra, tem valor de R$ 5,2 mil por família. É uma liberação excepcional, formalizada pelo Decreto nº 11.433, de 10 de março de 2023, de mais uma operação do Crédito Instalação na modalidade Apoio Inicial. Terão direito ao recurso famílias assentadas em municípios com situação de emergência em razão da estiagem decretada no período entre 1º de dezembro de 2022 e 10 de março de 2023. Os beneficiários precisam estar com o cadastro atualizado junto ao Incra.

O Incra está promovendo as adaptações necessárias no Sistema Nacional de Concessão de Créditos de Instalação (SNCCI) para gerar as novas operações. A expectativa é atender entre 8 e 9 mil famílias.

Sustentabilidade

Outra atração do evento foi a inauguração da Unidade de Produção de Bioinsumos Ana Primavesi. É a primeira biofábrica do Grupo Gestor do Arroz para produção de fertilizantes biológicos, buscando a melhoria das lavouras, o incremento da produtividade e a redução de custos.


“Para nós, que só trabalhamos com agroecologia e priorizamos a sustentabilidade, é importante investir em novas tecnologias limpas. É uma estratégia para reduzir a dependência de insumos externos e mantermos a qualidade orgânica do alimento que produzimos”, justifica Dionéia Soares Ribeiro, integrante da coordenação do Grupo Gestor e da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap).

Em princípio, os bioinsumos da Unidade Ana Primavesi abastecerão exclusivamente assentados de Viamão, onde está a maior lavoura de arroz agroecológico dos assentamentos do RS – são 1.084 hectares dedicados ao cultivo.

Comercialização

A principal via de escoamento do arroz agroecológico é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que leva o item a milhares de estudantes brasileiros todos os dias. Outra parte da safra é destinada ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), executado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para atender pessoas com risco de insegurança alimentar.

Em 2020, por exemplo, a Conab e a Coopan firmaram um contrato no valor de R$ 319.452,33 para solucionar uma demanda apresentada pelo município de Canoas/RS. Ao longo de dois anos, 5.995 pessoas cadastradas no Banco de Alimentos e no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) receberam um total de 80.788 quilos de arroz fornecido mensalmente por 41 famílias da cooperativa.

Nilvo Bosa, do assentamento Capela, em Nova Santa Rita, explica que os valores recebidos pela venda a programas governamentais são reinvestidos na cadeia produtiva, além de aumentarem a qualidade de vida das famílias. “Hoje o pessoal do assentamento tem casa, carro, lazer e acesso à educação. Boa parte disso veio da renda gerada pelo arroz orgânico”, afirma.

Consumidores individuais também podem comprar o arroz agroecológico oriundo da reforma agrária em feiras, supermercados e na rede Armazém do Campo, presente em diversas cidades do país.

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