sexta-feira, 17 de março de 2023

 

A verminoses em caprinos e ovinos pode ser combatida com adubo orgânico

   

Doença responsável por 25% das perdas econômicas na produção de caprinos e ovinos, a verminose é causa de mortalidade de animais e aumenta os custos de produção com medicamentos para vermifugação. Pesquisas da Embrapa estão em busca de uma alternativa de produto que possa ser usado como adubo orgânico nematicida, ou seja: provocar redução da contaminação de parasitas como o Haemonchus contortus nas pastagens e ainda favorecer o desenvolvimento do pasto.

A procura por bioinsumos para o controle da verminose nos caprinos e ovinos é motivada para reduzir o uso indiscriminado dos vermífugos químicos, que têm provocado surgimento de resistência dos parasitas e risco de contaminação aos produtos de origem animal e ao meio ambiente por resíduos da medicação. Como 95% da população parasitária está fora do organismo dos animais, no chamado ciclo de vida livre no solo e nas pastagens , na forma de ovos ou larvas, a estratégia de um produto aplicado ao solo para controle no pasto, sem danos ao ambiente, pode representar uma alternativa promissora em relação às estratégias de vermifugação.

Testes com resíduos agroindustriais foram realizados em diferentes etapas, com análise em laboratório (in vitro) e em avaliação com a forragem no solo, em casa de vegetação, onde é possível simular condições ambientais. A torta de mamona, resíduo da indústria de extração de óleo daquele vegetal, foi selecionada por possuir maior quantidade de nitrogênio por grama de amostra – pré-requisito para um bom adubo de forrageiras -, além de se apresentar in vitrocomo um bom nematicida. Diante dos bons resultados ela foi levada para uso no campo com animais sob pastejo. Com a utilização da torta de mamona, foi possível reduzir em 60% a contaminação dos animais em relação a um rebanho que pastejava em área não tratada.

Segundo a médica veterinária Hévila Salles, pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE), a estratégia de um adubo com propriedades nematicidas pode favorecer um sistema de controle de verminose em diferentes vertentes: “Aumenta a biomassa vegetal diluindo-se a quantidade de larvas na vegetação; melhora a qualidade das pastagens em termos de teor proteico, o que repercutirá em melhor aporte nutricional para os animais, melhorando sua imunidade; pelo potencial efeito nematicida direto sobre os estágios de vida livre”, afirma.

De acordo com a cientista, que nos últimos anos tem coordenado projetos de pesquisa para gerar alternativas biotecnológicas para produção de insumos, há vantagem no uso de produtos naturais em relação aos medicamentos sintéticos por serem, geralmente, de menor toxicidade e mais facilmente degradáveis no meio ambiente.

“De maneira geral, as pesquisas têm buscado reduzir o uso de produtos sintéticos na pecuária objetivando avanços em diversos aspectos. E um deles é a redução da presença de resíduos de medicamentos nos produtos de origem animal a serem consumidos pelo homem, como a carne, o leite e seus derivados. Essa redução, além de contribuir para obtenção de alimentos mais seguros, também auxilia para melhor qualidade e preservação do meio ambiente, uma vez que os resíduos gerados são lançados no solo via fezes e urina dos animais tratados, podendo, por exemplo, levar à contaminação de águas subterrâneas. Assim, alternativas de controle da verminose que venham a reduzir o uso de vermífugos são bem-vindas, e o uso de produtos naturais é mais uma delas e que deve ser incorporada na estratégia de controle integrado de verminose”, ressalta.

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