quarta-feira, 3 de novembro de 2021

 

Esforço de manejo para salvar o mogno da extinção nas florestas brasileiras

   

Reconhecido mundialmente como uma madeira nobre, devido a características como estabilidade, duração, facilidade de ser trabalhada e aspecto castanho-avermelhado brilhante (depois de polida), o mogno pode ser usado na fabricação de móveis sofisticados e instrumentos musicais, na construção civil e indústria naval entre outras aplicações. De ocorrência natural em florestas tropicais, no Brasil é encontrado no Acre, Pará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia e Tocantins. Com baixa densidade populacional – menos de uma árvore por hectare – essa espécie florestal tem alto valor comercial e grande aceitação no mercado internacional.

Estudos anteriores sobre a dinâmica de desenvolvimento do mogno estimam que devido à exploração indiscriminada reina apenas 20% dos estoques iniciais dessa madeira na América do Sul. Com a redução da população da espécie, associações envolvendo organizações nacionais e internacionais resultaram em medidas para proteção do mogno. Desde 2008, a árvore integra a lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, na categoria vulnerável. Além disso, foi incluído na Lista Vermelha de espécies ameaçadas de extinção pela União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais ( IUCN ).

Uma pesquisa confirma a vulnerabilidade dessa espécie florestal, bastante valorizada no mercado brasileiro de madeiras, mas que consta na lista de espécies ameaçadas, e necessárias novas estratégias para melhorar o trabalho de manejo e garantir a sua conservação. Um estudo publicado no periódico  Ecologia e Manejo Florestal  foi realizado em uma área manejada da Floresta Estadual do Antimary, localizada no município de Sena Madureira, estado do Acre. O trabalho de campo envolve a identificação e mapeamento de 83 árvores adultas, com diâmetro mínimo de 43 centímetros, em uma área de 1.650 hectares, e 187 árvores juvenis, em um raio de 20 milhas.

Análises realizadas no Laboratório de Biologia Molecular da Embrapa Acre, a partir de tecidos das plantas, avaliação da geração da espécie (plantas adultas e juvenis) e a estrutura genética espacial de árvores adultas, para verificar o potencial de variabilidade genética do mogno e possíveis anomalias na reprodução da espécie.

A pesquisadora  Tatiana de Campos , uma das autoras do estudo, explica que a extração do DNA da planta, associada ao uso de marcadores moleculares, permite verificar o fluxo gênico: a transferência de informações genéticas entre pessoais de uma mesma população ou espécie, por meio do parentesco observado entre seus descendentes. A técnica também possibilita averiguar o comportamento do polinizador da espécie, além de determinar a ocorrência de cruzamento aparentado. Essas informações são essenciais para ampliar o conhecimento sobre o sistema de reprodução do mogno e de outras espécies florestais.

“Identificamos a paternidade das plantas juvenis e os níveis da taxa de fecundação cruzada. Além da perda de diversidade genética, nenhum material avaliado constatamos a presença de endogamia, problema também conhecido como consanguinidade, que evidencia a reprodução entre nós geneticamente desviados. uma redução na presença de alelos, ou seja, na capacidade de transmissão de informações genéticas no processo de reprodução natural do mogno, aspecto que fragiliza a áreas da espécie “, enfatiza um cientista.

Alexandre Sebbenn, pesquisador do Instituto Florestal de São Paulo ( IF ), considera necessário agregar aos planos de manejo ações de monitoramento da diversidade genética e dos padrões de reprodução das espécies florestais, por meio de espera de coletadas antes e após o corte, com uso de técnicas moleculares. “Tais procedimentos podem possibilitar intervenções como o plantio de mudas na área manejada e sugerir adequações nas regras de manejo atualmente vigentes”, declara, enfatizando que esses estudos ainda são escassos. “Entretanto, eles são um diferencial importante para compreender o processo de regeneração natural das espécies e para conferir maior sustentabilidade ao manejo florestal ”, acrescenta.

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