Diante do aumento da temperatura o pecuarista deve formar um rebanho leiteiro com animais mais resistentes ao calor.
O Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG) tem se preocupado com a tolerância dos bovinos às condições do clima. Situações de muito calor afetam negativamente a produção leiteira. Por isso, os valores genômicos dos touros da raça foram preditos em função do Índice de Temperatura e Umidade (ITU), que reúne numa única variável as condições de temperatura e umidade relativa do ar. Isso significa que animais mais resistentes ao calor são classificados com maior valor genômico para essa característica. Um ITU entre 80 e 89, por exemplo, pode provocar estresse térmico severo no animal. Para que isso ocorra basta que a temperatura fique acima de 32°C e a umidade relativa do ar esteja em 95%.
Impulsionados pelas mudanças climáticas e o El Niño, dias de calor intenso têm sido comuns em todas as regiões do Brasil, principalmente na região Centro-Sul, onde se concentra a maior produção de leite no País. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou em 2023 nove ondas de calor e, no dia 19 de novembro, os termômetros da cidade mineira de Araçuaí marcaram a maior temperatura já verificada no Brasil: 48,44°C. Nessas condições, bastaria 10% de umidade relativa do ar para que uma vaca estivesse submetida ao estresse térmico severo, ocasionando redução na produção, problemas reprodutivos e até a morte do animal.
Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite (MG) Marcos Vinícius G. B. Silva, o País perde todos os anos cerca de 30% da produção devido às altas temperaturas. Isso torna a cadeia produtiva do leite vulnerável aos eventos provocados pelas mudanças climáticas. “A solução para o produtor é desenvolver rebanhos mais resistentes ao estresse térmico e é isso que o programa de melhoramento do Girolando tem buscado oferecer por meio das avaliações genéticas e genômicas no teste de progênie da raça”, diz o pesquisador.
Silva explica que há raças mais tolerantes aos efeitos do clima. “O Gir Leiteiro, que compõe a raça sintética Girolando, é bastante resistente ao calor se comparada à raça Holandesa, que também forma o Girolando. O resultado do cruzamento das duas raças é um animal resistente e produtivo”, explica.
Dentro de uma mesma raça há indivíduos mais resistentes que outros. Ao longo dos anos, a Embrapa reuniu uma boa base fenotípica de animais resistentes, identificando essa característica dentro do genótipo do indivíduo. A partir daí, criou-se o PTA (medida de mérito genético do touro) para o estresse térmico, que irá resultar em vacas mais resistentes.
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