quarta-feira, 13 de março de 2019

Técnicas de manejo de solo podem afastar aves de aeroportos

Tiago Porto Aranha - Francisco Dübbern (à esq.) tem estudado a cobertura vegetal em áreas próximas a pistas de aeroportos
Francisco Dübbern (à esq.) tem estudado a cobertura vegetal em áreas próximas a pistas de aeroportos
Artigo publicado recentemente em revista especializada por dois pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) propõe o termo “Agricultura de aeroporto” para definir um conjunto de técnicas de manejo de cobertura vegetal de solo que pode reduzir a presença de aves e de outros animais em áreas próximas a pistas de aeroportos. Francisco Dübbern de Souza e Marcos Rafael Gusmão escreveram o texto “Cobertura vegetal em aeroportos e gerenciamento de risco de fauna: uma visão agronômica” para a Revista Conexão SIPAER, uma publicação científica brasileira que trata da segurança de voos.
No artigo os autores propõem o termo “agricultura de aeroportos” para  definir um conjunto de práticas agronômicas que visa obter uma cobertura vegetal do solo em faixas de pista em aeroportos, que contribua para a redução de acidentes provocados por fauna com aeronaves durante as fases de aterrissagem e decolagem.
Francisco conta que quando começou a pesquisar gramados na Embrapa não imaginava a interface que o tema teria com o setor aeroviário. Tão logo a notícia do projeto se espalhou, representantes do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão vinculado ao Comaer (Comando da Aeronáutica), e de aeroportos brasileiros concessionados o procuraram, interessados nos resultados dos estudos. Em setembro de 2017, o pesquisador foi convidado a dar uma palestra no 1º AeroFauna, evento realizado em São Paulo para debater o gerenciamento de risco da fauna nos aeroportos do Brasil. “Esse tema é de grande interesse de quase todos os aeroportos do mundo”, afirmou.
Até o momento a abordagem adotada sobre esse tema tem dado maior importância à fauna nesses ambientes. Francisco e Marcos propõem um olhar agronômico para o problema. “Sentimos falta de maior ênfase ao papel do solo na cadeia alimentar da fauna que frequenta os aeroportos. Roedores, pássaros e insetos se alimentam de plantas e de sementes que, por sua vez, dependem do solo para se desenvolver”, observam.
A proposta é manejar o solo de modo que a vegetação nas áreas próximas às pistas dos aeródromos reduzam as oportunidades de alimentação, tornando a área menos atrativa para a fauna.
A cobertura vegetal em faixas de pista em aeroportos é importante por muitas razões. “Se essas áreas ficarem descobertas, isto é, sem vegetação, poderão gerar poeira que irá prejudicar as turbinas das aeronaves. Além disso, deixam de se beneficiar dos muitos serviços ambientais prestados pela cobertura”, afirma Francisco. Este tipo de cobertura presta numerosos serviços ambientais onde é implantado, como controle de erosão, produção de oxigênio, fixação de carbono atmosférico, facilitação da infiltração de água no solo, biodegradação de compostos orgânicos sintéticos, supressão de plantas indesejáveis, dissipação de calor, atenuação de ruídos, redução de material particulado do ar (poeira), entre outros.
Marcos Gusmão acrescenta que o acompanhamento de um profissional em agronomia na implantação e no manejo das coberturas vegetais em aeroportos é uma forma de assegurar esses benefícios. “Afinal, trata-se de uma agricultura especializada que requer um conjunto de critérios técnicos bem fundamentados e criteriosamente selecionados”, diz.
Curiosidades
Para indicar o melhor manejo para manter aves afastadas dos pontos de pousos e decolagens de aeronaves, Francisco e Marcos buscaram na literatura especializada informações sobre o que atrai esses animais para esse ambiente. Eles encontraram relatos de que formigas e gafanhotos são os grupos predominantes de artrópodes em vários dos principais aeroportos brasileiros, onde constituem parte importante da dieta das aves associadas a riscos de fauna.
Afirmam também que em locais onde há grande ocorrência de gramíneas exóticas, rústicas e agressivas, existe abundante alimentação (flores e sementes, por exemplo) às aves, aos insetos e aos roedores. Se não forem podadas com frequência, podem representar problemas aos aeroportos.
A própria operação de poda de gramas pode atrair aves, já que ela resulta em súbita disponibilização de alimentação para várias espécies de aves, atraindo-as e aumentando riscos de colisões com aeronaves. Uma possível forma para evitar esse problema é a poda noturna, já realizada em vários aeroportos brasileiros.
Revista
A revista onde foi publicado o artigo é fruto de um projeto de gestão do conhecimento desenvolvido pela biblioteca do Cenipa em conjunto com investigadores de acidentes aeronáuticos do próprio centro e do Seripa III (Terceiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). O artigo saiu no volume 9, no último trimestre de 2018.
Francisco e Marcos disseram que a publicação era ideal para o tipo de conhecimento que eles estão disseminando. “Nossa proposta, publicada nesse texto, pode ser de valor, por exemplo, para gerentes de aeroportos e para empresas terceirizadas que prestam serviços aos aeroportos”, disse Marcos.
O artigo na integra pode ser acessado aqui.
  
Embrapa Pecuária 

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