FMC
Dois pesos e duas medidas - Por Ricardo Amorim
Economista analisa programa de refinanciamento de dívidas
O Brasil criou
o péssimo hábito de não tratar a todos da mesma forma. Pior ainda, o
costume ficou tão arraigado que já nem nos chocamos mais que alguns
recebam tratamento de primeira classe enquanto a maioria é tratada com
desdém. Enquanto funcionários públicos se aposentam com aposentadoria
integral, a maioria dos brasileiros tem de se contentar com uma fração
disso. Enquanto a Justiça para a maioria dos brasileiros é uma, para
aqueles que gozam de foro privilegiado, é outra. Enquanto juízes e
legisladores gozam de auxílio-paletó, auxílio-moradia, auxílio-isso,
auxílio-aquilo a maioria dos brasileiros nem sabe o que é isso. Enquanto
funcionários públicos têm estabilidade de emprego garantida, os
brasileiros que pagam seus salários através do pagamento de impostos
podem ser demitidos a qualquer momento.
O mais novo caso em que os mais fracos
receberam tratamento de cidadãos de segunda classe no Brasil refere-se
ao Refis, o programa de refinanciamento de dívidas do governo federal.
Como é de conhecimento geral, o Congresso Nacional aprovou um projeto
que beneficia grandes empresas com o parcelamento de dívidas tributárias
com a União. Na sequência, o mesmo Congresso Nacional aprovou por
unanimidade um projeto que estende o mesmo benefício aos pequenos
negócios, nos mesmos parâmetros do que foi concedido às grandes
empresas. A diferença é que o governo federal sancionou o projeto que
concede os benefícios às grandes empresas, mas vetou aquele que
concederia os mesmos benefícios às micro e pequenas empresas.
A justificativa para o veto presidencial
foi que este projeto pioraria a situação já precária das contas
públicas. A justificativa é verdadeira, mas é inaceitável que ela não
tenha sido considerada no caso das grandes empresas e ganhe uma
importância desproporcional no caso das micro e pequenas empresas. Além
de não ser isonômico, este tratamento diferenciado é injusto e
contraproducente. As micro e pequenas empresas, deixadas de fora do
Refis, são responsáveis por mais da metade dos empregos no país e são
mais vulneráveis que as grandes a uma crise econômica das proporções da
que atingiu o país nos últimos anos.
Além disso, em um país em que a carga
tributária é uma das mais elevadas entre os países emergentes e, ainda
assim os serviços públicos deixam muito a desejar, fica claro que o
problema essencial das finanças públicas não é falta de receitas, mas a
corrupção e o excesso de gastos e desperdícios, incluindo, aliás, os
diversos casos em que alguns recebem privilégios que não são estendidos a
todos os brasileiros.
Seria bom se o Congresso Nacional
começasse a reverter este quadro, derrubando o veto presidencial e
garantindo que as pequenas empresas recebessem o mesmo tratamento que as
grandes. Imagine o país que poderíamos construir se todos aqui fossem
tratados da mesma forma.
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